segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Winter 6

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Título: Winter 6
Fotógrafo: Gert Paassen
Fonte: Nature Photo Gallery





Inverno.
O branco da neve confunde-se com o algodão das nuvens suaves, pincelado timidamente pelo azul celeste.

A fotografia descreve agradavelmente um dia de Inverno, o frio, a neve, e as árvores despidas. O riacho que cruza a paisagem atribui-lhe um preenchimento interessante. Apesar das árvores estarem demasiadamente centradas a fotografia não deixa de ser bela.

Hood - Outside Closer

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/ Experimental



Os britânicos Hood estão de volta depois do impressionante Cold House (2001), um disco que marcara novas fronteiras para o pós-rock e que trouxera uma hipnótica atracção à atmosfera lo-fi dos Hood. Que dizer deste Outside Closer?

A primeira impressão auditiva deste título é o peso emocional que o envolve, algo que sobeja além da aparente exuberância das composições, um fio condutor que fascina, um feitiço inquebrável. O colectivo de Leeds imana uma alma de empatia tão zelosa que é difícil ficar-lhe indiferente: o disco é um porto de abrigo onde os Hood se guardam. Outside Closer mostra-nos um quinhão do isolado bunker da banda e faculta uma reflexão: terão eles alento para ir ainda mais longe?

O disco é uma caixa de surpresas ou de Pandora? Seguramente é uma depósito de boas surpresas, não virá mal ao mundo se o abrirmos e desvendarmos as tapeçarias sónicas dos irmãos Adams (Chris e Richard), verdadeiras teias de beleza no pormenor, vagueando entre o éter dos Mogwai e a crueza dos cLOUDDEAD. A produção de Outside Closer é de altíssimo nível e abrilhanta o esfuziante talento da escrita dos Hood. Indiscutivelmente, o porvir será para eles compensador, assim queiram estender-se além do misantropo universo de minúcias deslumbrantes e pretendam crescer e tornar sustentável a leveza perfeita do seu som inovador. Valeu a pena a espera, Outside Closer é um grande disco.

The Radio Dept. - This Past Week (EP)

Apreciação final: 5/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Electro-Rock



Neste registo, os suecos Radio Dept. expressam-se em canções despojadas da incisão da distorção, na promoção de uma atmosfera calma e de uma quietude de relento. Neste conceito, soam mais convincentes e vigorosos, também mais íntimos e profundos. This Past Week é formoso, cómodo na pequenez (5 canções) mas pouco audaz no propósito. Aceita a aura inspiradora dos 80's - os ingredientes electro pontuam as composições - mas está enfermo: onde está a ousadia? As canções são muito certinhas, despertam sensações recorrentes de dejá-vu. E se já foi ouvido algures, torna-se infalivelmente enfadonho.

Silver Mt. Zion em Março

A revista francesa Les Inrockuptibles anuncia um novo trabalho dos experimentalistas canadianos Silver Mt. Zion. O registo chamar-se-à Horses In The Sky e sairá em Março. Ao que parece, desta vez a banda apresenta-se como Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & The Tra-La-La Band.

Saiba mais sobre o disco e a banda no sítio oficial da editora Constellation.

Mar Adentro nos XIX Prémios Goya

O excelente Mar Adentro de Alejandro Amenábar foi o grande vencedor dos prémios Goya, a suprema distinção do cinema espanhol. O filme estava nomeado em quinze categorias e arrecadou quatorze, entre elas, as mais importantes: melhor filme, melhor actor (Javier Bardem), melhor realizador, melhor actriz (Lola Dueñas).

Um dos derrotados da noite foi Pedro Almodovar e o seu La Mala Educación.

Zezé Gamboa premiado no Festival Sundance

O certame Sundance, fundado em 1981 por Robert Redford, premeia anualmente o cinema independente, longe dos holofotes dos grandes estúdios. Dos galardões para este ano, atribuídos no passado Domingo, uma nota de destaque para uma co-produção nacional, o filme O Herói do angolano Zezé Gamboa, premiado com a distinção de melhor fita dramática estrangeira. A história é centrada no fim da guerra civil angolana e no difícil retorno à normalidade e à sobrevivência, num contexto sócio-económico débil.

Na categoria de melhor drama americano, o vencedor foi Forty Shades of Blue, de Ira Sachs.

Veja aqui a lista completa de vencedores.

Bonnie 'Prince' Billy & Matt Sweeney - Superwolf

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Lo-Fi/Cantautor



Will Oldham (a.k.a. Bonnie 'Prince' Billy) é um dos mais engenhosos compositores dos últimos tempos, destacando-se pelo feitio peculiar das suas composições, de essência minimalista, com sons esparsos e uma voz espectral, definindo uma identidade musical forte. Neste trabalho, o músico surge acompanhado pelo guitarrista Matt Sweeney (Zwan) mas a urdidura sónica do registo é tipicamente Oldham: música acústica e gentil, letras elaboradas e enigmáticas.

A orgânica das composições resulta na perfeição, não há lugar para algumas excentricidades que desfocaram trabalhos passados de Oldham. As faixas soam a uma candidez locupletada pela pertinente interjeição dos acordes de guitarra de Sweeney. Talvez nem todas as canções despertem a chispa do aprazimento, mas uma boa canção é uma boa canção. E há aqui boas canções.

Se a visão musical de Oldham e Sweeney pode ser demais hermética para alguns, não deixa de ser impressiva e incomum a robustez deste título. A natureza poética dos cenários haiku escritos pela dupla é um exercício descritivo de um universo temente a Deus e recheado de animais simbólicos (veja-se o título), morte e aspiração. Oldham é enigmático, Sweeney é comparsa. Juntos fizeram um fantasmagórico e belo superlobo pronto a apaixonar-nos por muito tempo.

domingo, 30 de janeiro de 2005

Tronco Verde

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Título: Tronco Verde
Autor: Paulo Barros
Fonte: Fotolusa




Gradualmente, nós homens, vamo-nos afastando do nosso tronco comum, o natural vai sendo substituído pelo tecnológico e a pouco e pouco a essência humana vai-se perdendo, ganhando forma a máquina fria e sem sentimentos.

Voltemos a apreciar a beleza natural, as nossas origens e força maior.

Bright Eyes - Digital Ash In Digital Urn / I'm Wide Awake, It's Morning

Apreciação final: 5/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Electro Indie



Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock



O projecto Bright Eyes é uma mutável e desconexa criação do prolífico Conor Oberst. É sabido que o jovem (24 anos) músico do Nebraska, apesar de continuar a encontrar refúgio num quase anonimato, grava desde os seus treze anos e conta já com um rol extenso de gravações. Desta vez, a proposta desdobra-se em dois registos, lançados na mesma data, embora em edições distintas e com um estilo contrastante.

Digital Ash In A Digital Urn é um tomo de estúdio, declaradamente electrónico e contou com o contributo de Nick Zinner (baterista dos Yeah Yeah Yeahs) e Jimmy Tamborello (Postal Service). Há neste registo uma aura 80's, feita de melodias tecladas e solos de guitarra ansiosos, compondo ambientes sombrios de obsessão com a morte e a paranóia. As composições são rudimentares, sem ponta de incitamento, assemelhando-se a um estéril recalque de Give Up, registo talentoso dos Postal Service. Exceptuando uma ou duas faixas do alinhamento, o resto do disco não parece um claustrofóbico espernear de um artista cujo talento se recusa à reclusão sob o auspício do computador? Oberst fica melhor noutras fotografias.

I'm Wide Awake, It's Morning é mais acústico, também mais americano, e seguramente mais pertinente. O formato indie, às vezes quase country, do disco afaga com mais propriedade a voz trémula e indecisa do compositor, as suas composições são imbutidas em medidas exactas nas texturas tranquilas das guitarras acústicas. A solidão pinta os contextos líricos do registo, compondo confissões sinceras em canções delicadas e intensas, despidas de ardis de estúdio. Ainda assim, fica o lamento: as letras de Oberst não são da mesma casta das músicas. Nota de mérito: Emmylou Harris dá a voz em três temas. Em todo o caso, I'm Wide Awake, It's Morning, ainda que aliterante, é um tomo interessante e que vexa Digital Ash In A Digital Urn.


Posto de escuta Digital Ash In A Digital Urn Gold Mine GuttedArc Of Time (Time Code)Take It Easy (Love Nothing)



Posto de escuta I'm Wide Awake, It's Morning We Are Nowhere And It's NowLuaLand Locked Blues

The Fiery Furnaces - EP

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Rock Revivalista/Indie Rock



Os irmãos Friedberger estão de volta, depois do aclamado The Blueberry Boat (2004). O mais recente registo do colectivo americano é uma generosa colecção de B-Sides. Contudo, reduzir este mini-álbum a esse estatuto não é fazer-lhe justiça. EP tem o seu espaço sónico próprio, complementando a oferta dos dois álbuns do grupo. Os cenários acústicos deste trabalho são pontuados pela criatividade quase teatral dos Fiery Furnaces e exibem sem reservas a confiança com que o grupo funde habilmente a sua inclinação pop com os ímpetos do experimentalismo.

EP não é um típico EP, é um tomo prolífico e energético. Versátil, também. Os supostos B-Sides são afinal composições com personalidade própria, revelam-se aptidões das fraquezas. Este não é um EP só para admiradores do grupo: EP é um quase ingénuo documento denunciador das raízes do espectro musical de um duo promissor e que ocupa posição de privilégio na linha da frente da nova música americana. Uma vez mais, os Friedberger afirmam, através de melodias repletas de pitadas electrónicas e guitarras intervenientes, o seu estatuto de banda de culto. Som fresco, a esmurrar o convencionalismo reinante e uma impressiva aptidão reformadora fazem dos The Fiery Furnaces um dos mais justamente elogiados projectos musicais do momento e, em paralelo, uma das mais consistentes apostas de qualquer melómano que se preze.

sábado, 29 de janeiro de 2005

Reflexo Crepuscular

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Título: Reflexo Crepuscular
Autor: Ana de Sousa
Fonte: 1000Imagens





A religião sempre despertou paixões, desde os primórdios da humanidade. Tempos houve em que o culto à natureza era dominante, porém novas espiritualidades surgiram e hoje o cristianismo é uma referência.

Eis, nesta fotografia, um resumo da grandiosidade espiritual que nos envolve, a religiosidade de ontem e de hoje de mãos dadas.

Early Day Miners - All Harm Ends Here

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Sadcore



Oriundos de Indiana, os Early Day Miners são uma daquelas bandas que vertem a melancolia do quotidiano nas composições, conferindo-lhes uma feição sadcore, sorumbática e outonal, com um relevante cariz experimental. Da junção resultam canções profundamente íntimas e tocantes, em ritmos tardos e agridoces, num aparente paradoxo que serve de purgação e enobrece o conceito musical do colectivo americano. All Harm Ends Here é a mais fresca proposta dos Early Day Miners e segue a mesma prática, recolhendo as pistas que os trabalhos anteriores do grupo (Let Us Garlands Bring e Jefferson At Rest) haviam largado, embora seja sensível um aprimoramento na escrita dos temas. A esse nível, os Early Day Miners revelam sinais inequívocos de maturidade criativa, ainda além do que fizeram antes.

All Harm Ends Here é um daqueles discos que se entranham em nós, arraiga-se por ser diáfano e mostrar apaixonadamente os sonhos perdidos e as armadilhas da desilusão. Pessimista demais? A autenticidade é a melhor resposta à dúvida: os Earl Day Miners são isto, expõem cruamente a negritude, sem margem para a auto-indulgência e produzem um ínclito e misantrópico preito ao dó. Não sendo um tomo genial, All Harm Ends Here marca pontos pela probidade e franqueza que os Early Day Miners conseguem destilar do seu próprio éden sombrio.

Loretta Lynn - Van Lear Rose

Apreciação final: 8/10
Edição: Abril 2004
Género: Country Rock



Loretta Lynn é hoje um dos nomes mais sólidos da country americana e Van Lear Rose é o título do seu mais recente trabalho. Produzido por Jack White (White Stripes), o conteúdo lírico do registo é maioritariamente autobiográfico, revelando detalhes cândidos da cantora e da sua vida na terra natal, Butcher Holow, uma cidade mineira do Kentucky. A sinceridade celebradora da voz rouca e titubeante de Lynn integra-se no balanço muito american-like das composições, em toada genuinamente country. A produção atinge níveis supremos, destacando o espírito americano das canções e despindo a voz de Lynn de artifícios. Tudo soa a puro, verdadeiro e honesto. E Lynn canta como nunca.

Tradicionalista q.b., ponderamente vanguardista, Van Lear Rose é um doce para o ouvido. Jack White conseguiu resgatar Loretta Lynn e dar-lhe uma pujança com um tal viço que roça a perfeição. As composições abraçam estilos diversos, não se fecham em si mesmas e colhem influências na country, nos blues e na indie. O registo exibe uma integridade ímpar, é imediatamente absorvido e contagia. É possível não gostar?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

Luz Zenital

Título: Luz Zenital
Autor: A. Brito
Fonte: 1000Imagens



A arte da fotografia aliada a outra arte superior, o corpo humano, pode ter resultados extraordinários.

As linhas, os detalhes, a beleza, que tantas vezes nos passam ao lado, podem ser captados em momentos como este, em que o fotógrafo, aliando forma-luz-sombra nos revela um misto de sensualidade e timidez.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Low - The Great Destroyer

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Slowcore/Pop-Rock Alternativo/Lo-Fi



A que soam os Low? Em cada registo, a banda de Duluth cria uma atmosfera delicadamente tensa, a deslizar para alguma austeridade melancólica e com um murmurante sentido de dramatismo. Acima disso, os Low assumem de corpo inteiro uma identidade sónica própria, perfeitamente identificável em The Great Destroyer, o primeiro trabalho para a etiqueta Sub Pop. Não é estranho a esse pormenor o detalhe criativo das composições, insinuando uma aura quase tântrica que percorre um caminho intrincado para chegar ao fito: o meigo aconchego dos Low.

The Great Destroyer é profundamente íntimo e revolve, em retoques nocturnos, a sorumbática face da alma, expondo graciosamente as suas amarguradas avantesmas. É um disco meditabundo, no sentido mais poético do termo e resulta liminarmente belo e perturbador. Os Low estão inegavelmente diferentes, já se esperava que as coisas fossem assim depois de Trust, o charme mantém-se mas não se fez tergiversante? Em fórmula, o disco captura o espiritualismo entranhado dos Low e esprai-o nas fronteiras do rock lo-fi. Talvez menos slowcore do que no passado, os Low não perderam a essência, antes se expandiram e, no decurso da evolução, arranjaram tempinho para nos oblatar The Great Destroyer, um disco amplo, esteticamente rico, que se apresenta como uma obra rock. É-o de facto, mas não delega o propósito de anestesiar as consciências mais vivazes, incutindo-lhes o suave e comatoso éter que reside na substância dos Low. Aconselhável.

s/t

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Título: s/t
Autor: António Matias
Fonte: 1000imagens



Simples e belo.

Enquadramento perfeito, tonalidades adequadas, bom contraste.

Sem mais palavras.
Apreciem.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

Ondas do Mar

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Título: Ondas do Mar
Autor: Ricardo Alves
Fonte: 1000imagens



Quantos se apaixonaram por ele? Quantos nele pereceram?

"Ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de Portugal".

E ainda, quantos encontraram na sua força, na sua beleza, na sua grandiosidade, fonte de inspiração para criar? Muitos, certamente.

E as gaivotas? Suas eternas amantes.

Nery, Máscaras e Cultura Afro na Gulbenkian

Está patente na Gulbenkian uma exposição muito interessante. O sítio oficial reza assim:

"O Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (Fundação Calouste Gulbenkian) apresenta a partir de dia 26 de Janeiro, uma exposição de fotografia de Eduardo Nery.

Intitulada “Metamorfoses”, a mostra é composta por 51 fotografias, todas elas constituídas por uma metade onde é reconhecível uma máscara africana e outra com um rosto imediatamente remissível ao nosso mediático quotidiano.

Estas combinações e oposições de universos definitivamente distantes entre si, engendram poderosas formas, entre a ironia e a estranheza, geradoras de incontáveis sentidos.

Nascido em 1938, Nery tem desenvolvido uma intensa actividade profissional em domínios como a pintura, desenho, colagem, tapeçaria, azulejaria, mosaico, design e fotografia. Notabilizou-se sobretudo pela realização de pinturas murais, painéis de azulejo, vitrais, uma cúpula e outras obras em mosaico, relevos murais, grades metálicas, desenhos para pavimentos em grandes espaços urbanos e em edifícios.

Comissariada por Jorge Molder, director do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, “Metamorfoses” estará patente na Galeria de Exposição Temporárias, do Piso 01, da Sede da Fundação entre 26 de Janeiro e 20 de Março de 2005."

O Império de Manoel

Chega esta semana às salas de cinema nacionais o mais recente trabalho do cineasta Manoel de Oliveira. O Quinto Império - Ontem Como Hoje, com produção de Paulo Branco, é inspirado numa peça teatral de José Régio (El Rei Sebastião).

Para saber mais sobre o filme, consulte o sítio oficial.

The Chemical Brothers - Push The Button

Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Electronica/Trip-Hop/Funk/Club-Dance/House Progressivo



Os britânicos Tom Rowlands e Ed Simons dispensam apresentações, o percurso dos Chemical Brothers na vanguarda do boom da electrónica fala por si. Push the Button é o quinto registo da dupla e, como no passado, os Chemical Brothers procuram outras fusões. Essa vertente é particularmente notória no elevado número de convidados para esta edição: Q-Tip (A Tribe Called Quest), Tim Burgess (The Charlatans), Kele Okereke (Bloc Party), Anna Lynne, Anwar Superstar (irmão de Mos Def) e The Magic Numbers (banda do universo indie).

O disco é um testemunho sólido da versatilidade dos intervenientes, rompendo barreiras estilísticas e estabelecendo passadas firmes rumo à inovação e à excelência sónica. O cunho dos irmãos químicos é notório, no recurso à concepção de cristalinas paisagens sonoras de electrónica, em texturas caleidoscópicas que claramente resultam como propulsores de um disco algo libertador e digno de apologia. Não é uma obra-prima, tampouco será o melhor disco dos Chemical Brothers, mas trata-se de um registo cuidado, meticulosamente esmerado até ao pormenor ínfimo. Será isso bastante para ser um grande disco? Certamente, não. Push The Button é um disco interessante, sem dúvida, mas, embora indique novos horizontes para os químicos, não arromba definitivamente as muralhas da obstinada exigência que se impõe ao grupo que fez Dig Your Own Hole. E só porque deles se espera sempre o melhor, é impossível não gostar deste trabalho mas, com o mesmo peso, não se evita algum desapontamento pela tacanha evolução de Push The Button.

The Futureheads

Apreciação final: 7/10
Edição: Setembro 2004
Género: Indie Rock/Pós-Punk



Sediados em Sunderland (Inglaterra), os The Futureheads acolhem com gentileza a herança punk, alindam-na com maneirismos new wave e pop e geram um som indie que se insere no movimento britânico que caracterizou 2004 e que lançou diversas bandas, com os Franz Ferdinand à cabeça, e os Bloc Party ou os Dogs Die In Hot Cars numa segunda linha.

O primeiro longa duração do grupo é um folgazão tomo de composições pós-punk, com melodias elaboradas e, mais do que isso, com harmonias vocais que lhes conferem um toque único. Apesar disso, e paradoxalmente, uma das faixas mais sugestivas desta obra é a surpreendente versão de "Hounds of Love", de Kate Bush.

The Futureheads é um registo de empatia natural, ainda que feito de composições quase rústicas. Tivessem os The Futureheads uma composição mais cuidada e, com o vigor que ostentam, entrariam numa centrípeta espiral que os levaria de forma imparável ao epicentro da música. Ainda assim, The Futureheads deixa pistas promissoras para o porvir destes ingleses. Se este disco não produziu a detonação definitiva, aguardemos o arrebatamento nos próximos capítulos.

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Ponto de exclamação


Título:Ponto de exclamação
Fotógrafo: Joel Santos
Fonte: 1000imagens


A água, fonte de vida. A sua essência aliada à beleza das suas múltiplas formas fazem dela a obra de arte por excelência.

Nesta fotografia, Joel Santos captou um momento comum, um gotejar de torneira idêntico a tantos outros. A diferença está no facto do artista, munido da sua câmara, ter feito arte.

Nomeações para os Óscares 2005

Foram hoje anunciadas as nomeações para as estatuetas mais cobiçadas da sétima arte. Assim, a Academia de Hollywood deliberou o seguinte, para as principais categorias:

Melhor Filme
THE AVIATOR
FINDING NEVERLAND
MILLION DOLLAR BABY
RAY
SIDEWAYS

Melhor Realizador
Martin Scorsese - THE AVIATOR
Clint Eastwood - MILLION DOLLAR BABY
Taylor Hackford - RAY
Alexander Payne - SIDEWAYS
Mike Leigh - VERA DRAKE

Melhor Actor
Don Cheadle - HOTEL RWANDA
Johnny Depp - FINDING NEVERLAND
Leonardo DiCaprio - THE AVIATOR
Clint Eastwood - MILLION DOLLAR BABY
Jamie Foxx - RAY

Melhor Actor Secundário
Alan Alda - THE AVIATOR
Thomas Haden Church - SIDEWAYS
Jamie Foxx - COLLATERAL
Morgan Freeman - MILLION DOLLAR BABY
Clive Owen - CLOSER

Melhor Actriz
Annette Bening - BEING JULIA
Catalina Sandino Moreno - MARIA FULL OF GRACE
Imelda Staunton - VERA DRAKE
Hilary Swank - MILLION DOLLAR BABY
Kate Winslet - ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND

Melhor Actriz Secundária
Cate Blanchett - THE AVIATOR
Laura Linney - KINSEY
Virginia Madsen - SIDEWAYS
Sophie Okonedo - HOTEL RWANDA
Natalie Portman - CLOSER


Para ver a lista completa das nomeações clique aqui.

Aceitam-se prognósticos. A divulgação dos vencedores acontecerá no dia 27 de Fevereiro.

Fiódor Dostoiévski - Crime e Castigo

"Havia caracteres profundos, belos e que alegria eu experimentava ao descobrir o ouro sob a casca grossa! E não apenas um, nem dois, mas vários. Encontravam-se ali alguns que era impossível respeitar, outros eram excelentes em toda a acepção da palavra". Estas foram palavras que Dostoiévski proferiu após o cumprimento de pena de 4 anos num campo de trabalhos forçados na Sibéria. E como elas traduzem o que o autor viveu e que nós também poderemos sentir por cada vez que lermos os seus livros! Essa experiência permitiu-lhe perceber que nem todo o ser humano é, no âmago, bom. E isso foi fielmente transposto para os seus romances. Em Crime e Castigo o escritor retira o véu que atavia o Homem e que encobre a sua faceta mais obscura. O cinismo, a vileza e o egoísmo são-nos patenteados assiduamente na medida em que constituem características vincadas de algumas das suas personagens. As máscaras caem e a heterogeneidade e imperfeição emergem.

A história retrata a forma banal como pode surgir a motivação para um crime e de que modo esse acto pode afectar quem o comete. Por conseguinte, é enfatizado um dos sentimentos mais naturais e humanos que existem: a culpa.

Raskolnikov é o protagonista, um niilista que se considera um eleito para o qual não existe lei, essa só se aplica àqueles que nasceram para obedecer e que constituem o rebanho submisso. Errante, acometido pela dúvida, travará uma luta interior constante na procura do caminho adequado a seguir mesmo que para tal seja rebatida a sua doutrina.

Dostoiévski é fiel a si mesmo, oferece-nos o ser humano por inteiro, sem lenitivos. E quem é que se atreve a recusar esta oferta?

Giuseppe Verdi - Il Trovatore

Como às vezes sucede, senti um impulso curioso na tarde de ontem. Apeteceu-me ver ópera. Olhei para a estante e escolhi um DVD que, por involuntário e reprovável descuido, não tinha ainda visto. A obra : Il Trovatore de Giuseppe Verdi. O insígne rol de intérpretes era igualmente persuasivo: Luciano Pavarotti, Sherrill Milnes, Dolora Zajick e Eva Marton, entre outros, com a Orquestra e o Côro da Metropolitan Opera, conduzidos com a sóbria distinção do maestro James Levine. A gravação, com a chancela da Deutsche Grammophon, foi feita em 1988 na conceituada sala nova-iorquina.

À maravilhosa e trágica história de Manrico e Leonora, desenhada em odes majestosas, juntam-se melopeias do mais belo que Verdi nos deixou. Magníficos instantes: o coro dos ciganos, labutando nas montanhas de Biscaia e a despedida emocionada dos amantes.

Il Trovatore é uma dos mais esplêndidas peças que o magnânimo estro de Verdi cunhou para a posteridade. Imperdível...

...And You Will Know Us By The Trail Of Dead - Worlds Apart

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Indie



Fundados no final da década de 90, os ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead têm definido um trajecto ambicioso, percorrendo atmosferas sónicas de intrincada catalogação, algures entre o indie-rock mais laborado e a íntegra densidade emocional da emo. Neste Worlds Apart, a música dos texanos segue esse preceito, revelando a diligente idiossincrasia do seu rock. Não pode deixar de notar-se o som polido da banda, talvez menos ressentido do que em registos anteriores.

É sabido que o colectivo do Texas consegue pôr em palco desempenhos únicos, quase caóticos, e a energia açambarcadora desses momentos sobrou para este registo. A qualidade das composições destaca a aptidão do grupo para inventar instantes de grandeza épica, entrecortados por delicadas interjeições de cordas, pianos ou sopros. Worlds Apart é um trabalho bem conseguido, fruto de uma reinstituição acústica da banda, motivada pela busca de horizontes alternativos. Em algumas faixas há um ápice de genialidade, numa matriz densa de atilhos que se unem, elevando o disco a uma superior dimensão de densidade, em que a beleza se avulta das ondas plácidas da distorção.

Os ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead cresceram além da míriade de influências que os assombram e produziram um disco mais absorvente, é certo, igualmente catártico e prometedor. Pena é que haja faixas no alinhamento inferiores a "Worlds Apart", "The Summer of '91" ou "The Rest Will Follow", em prejuízo da identidade do registo. Não fora a inclusão desses temas e estaríamos perante um dos discos do ano. Ainda assim, Worlds Apart é credor da nossa estima.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Dias Sombrios

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Título: Dias sombrios
Fotógrafo: Jorge Coimbra
Fonte: 1000imagens



Outrora um povo de navegantes deu novos mundos ao mundo. Hoje, sob dias cinzentos, perderam o rumo e o homem do leme partiu, a pé.

Ficaram os barcos, construíram-se pontes em direcção ao abismo.

Os tons cinza da fotografia atribuem-lhe um toque homogéneo, dando ares de um cenário fictício.

Até Sempre, Johnny Carson!

Johnny Carson (1925-2005)

Desapareceu ontem o grande comunicador Johnny Carson. Tinha 79 anos e foi o incontestado líder de audiências nocturnas na televisão americana durante cerca de três décadas.



Em sua homenagem, clique aqui e veja o apresentador numa mítica gravação do Tonight Show, em 1970, com o actor Ed Ames.

Dois regressos muito esperados...

1. Oito anos depois, os Portishead trabalham num novo disco. Geoff Barrow e Beth Gibbons estão novamente juntos em estúdio, em preparação do terceiro longa duração da banda que criou Dummy. Espera-se que o trabalho esteja pronto antes do final do ano.


2. Transistor Radio será o título do mais recente trabalho de M. Ward, o quarto registo da sua carreira. O regresso é muito aguardado, depois do aclamado Transfiguration of Vincent (2003). 22 de Fevereiro é a data anunciado para o lançamento. I can't wait...

Mercury Rev - The Secret Migration

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Art-Rock/Rock Psicadélico/Indie Rock



Os nova-iorquinos Mercury Rev sempre fizeram alarde de um psicadélico génio pirraceiro, as mais das vezes personificador de alguma conflitualidade interna no grupo, controvérsia q.b. e recontros de egos demasiado inchados para coabitarem. Mas o curso implacável do tempo foi além dos problemas da banda e eis que surge uma nova edição dos Mercury Rev. Nas palavras de Jonathon Donahue, The Secret Migration é uma viagem pelo country mais sombrio e efervescente. Contudo, ao ouvir este registo a ideia que nos assalta a mente traz-nos a percepção de que os Mercury Rev continuam reclusos na floresta negra (vide faixa quatro) de grandes árvores, cavalos brancos e libelinhas, fascinados pela alvura dos feixes luminosos da lua que quebram o negrume da gravura mental. The Secret Migration é um álbum profundo, percorre os mais recônditos esconsos do subconsciente, enche-os de sentimentos coloridos, das cores do dia e da noite.

É quase impossível não sentir o encanto elegante das melodias, ligeiramente psicadélicas, embora mais sinistras do que em discos anteriores. The Secret Migration é uma celebração do irracional, do sentimento além da palavra, algo de precioso que havíamos esquecido. Sem dúvida, um regresso muito esperado, feito de melodias etéreas e efeitos sonoros acurados. O único senão: à excepção de "Secret For A Song" ou "Vermillion", há alguma canção memorável? Ainda assim, The Secret Migration é uma oportuna migração para um imaginário de fantasia onírica (os Flaming Lips serão melhores cicerones?) de onde não apetece regressar. Mas ficaremos por lá muito tempo?

Black Mountain

Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock



Duas vozes (Stephen McBean e Amber Webber), rock puro e letras subliminarmente místicas compõem a fórmula dos canadianos Black Mountain. O primeiro registo do novo projecto musical de McBean produz uma nostálgica reconversão dos anos 60 e 70, fugindo à abordagem mais óbvia, o que resulta em cenários sonoros idiossincrásicos. Black Mountain é um empenhado registo de reflexão, declaradamente hedonista, quase libertino e calmamente alucinado, mas docemente atraente.

Black Mountain é o porto de abrigo da banda canadiana; é seguro, aconchegante e sereno mas não se aventura em demandas inovadoras. E essa é a sua maior debilidade. De resto, há aqui rock que merece uma escuta atenta e que não desagradará aos melómanos mais indefectíveis. Um registo a descobrir, um projecto musical prometedor...

Tori Amos e o novo disco

É já em 22 de Fevereiro que chega o novo de Tori Amos. Vai chamar-se "The Beekeeper". Em entrevista à Rolling Stone, aqui ficam as declarações da cantora/compositora.

"Spanning nearly eighty minutes, The Beekeeper's nineteen tracks took Amos two years to write. The themes of the record may be her most universal, rich with mythology and informed by a sense of history. But it also feels like her most personal album to date, with songs such as "Ribbons Undone," an ode to her four-year-old daughter. Says Amos, "This album is exploring relationships."

In "The Power of Orange Knickers," a duet with Irish crooner Damien Rice, the two sing over one another, their voices mingling in the sweeping, piano-led chorus. In the song, Amos writes of sensuality and jealousy, using political metaphors to explore the politics of romantic relationships, as in the loaded lyric, "Can somebody tell me/Who is this terrorist?"

"I was curious about how people were defining what a terrorist was," Amos explains. "[I wanted to] undress the word and really crawl inside the definition of it . . . People are using it to get the masses to agree with their agendas . . . [But] it can be a little pill that you're addicted to, or a person. And sometimes, for a woman, it's another woman."

Vocally, The Beekeeper feels lush, thanks to Amos' continued experimentation with layered vocals. Four songs -- including the rollicking, six-minute "Witness," which finds Amos hooting and testifying over a bleating organ -- are augmented by background vocals by the London Community Gospel Choir. "With 'Sweet the Sting' or 'Witness,' I knew that there needed to be an element, a character," Amos says of the choir's role, "not 'the Greek chorus,' but these people had a part to play."

Amos plans to road-test the new material beginning April 1st with a solo tour that will take her and "the girls" through intimate theaters in North America and Europe. Then she plans to tour the States with her full band this summer. But first, next month, Amos will head out on a book tour in support of her autobiography, Tori Amos: Piece by Piece, co-authored by journalist Ann Powers and due February 8th.

"The book gives you a backstage pass into the process," Amos says. "It's sort of like a master class in being a musician, a mom . . . and surviving the music business."

domingo, 23 de janeiro de 2005

Kleist na Cornucópia

Heinrich von Kleist foi um dos visionários que promoveram a evolução do teatro alemão para as formas mais modernas. O autor nasceu em Frankfurt, no ano de 1777 e A Família Schroffenstein foi o seu primeiro trabalho. Conta-nos uma história passada na Idade Média, sobre vinganças manchadas pelo luto, conflitos de clãs baseados em desconfianças incertas e a descoberta do amor no seio da querela. A representação desta peça está em cena no Teatro da Cornucópia (Lisboa) e é uma excelente sugestão para o serão.

Saiba mais aqui.

Animação gótica de Tim Burton

Estou curioso em relação a um filme que estreará nos EUA em Outubro próximo. Lembrem-se disto: chama-se Corpse Bride, é filme de animação de Tim Burton, sob o tema do humor gótico com a voz de Johnny Depp na personagem principal. Curiosos?

Vejam a trailer aqui.


M83 - Before The Dawn Heals Us

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Electro-Rock Progressivo/Pop Ambiente/Art Indie



Naturais de Antibes (França), os M83 apresentam o mais recente trabalho, o terceiro longa duração da sua existência. Before The Dawn Heals Us tem algo de conceptual, na mais majestosa condição do termo, claramente expressa na faixa de abertura, o tema "Moon Child". A produção é sofisticada, não adultera o espírito das composições e o desfecho é um registo que encerra um corpo declaradamente experimental, com raízes num rock profusamente artístico e em que a voz se integra numa dimensão de instrumento. Ao drama imposto por guitarras soantes juntam-se os sintetizadores com trejeitos generosos, compondo uma atmosfera sonora imponente, sem frivolidades, com o seu quê de misterioso e inquietante, numa envolvente típica de ficção científica.

A fervorosa integração de ingredientes sonoros contribui para a concepção de uma imensa colecção de visões quase caóticas; às faixas não serve o epíteto de "canção", buscam algo mais, rompem o espartilho desse formato e recriam-no. Aqui e ali, os M83 parecem-se (será?) com Craig Armstrong, outras vezes com os My Bloody Valentine, outras ainda com os Cocteau Twins ou os Mew.

Before The Dawn Heals Us é um trabalho maduro, de luxúria sónica e um primor que não agradará a todos mas que atesta a qualidade dos M83. Ame-se ou odeie-se, Before The Dawn Heals Us merece alguma atenção.

Joanna Newsom - The Milk-Eyed Mender

Apreciação final: 8/10
Edição: Março 2004
Género: Indie-Rock/Folk



Há cantos que enlevam pela ternura, que prometem a doçura com uma candura quase inocente. Joanna Newsom faz isso com uma castidade encantatória, pelo avanço de uma voz com fragilidade de infância em convites graciosos para cenários sem inquietações ou adulterações de qualquer espécie. Em The Milk-Eyed Mender tudo se reduz à voz de Newsom e a texturas sónicas minimalistas de berços fingidos nas cordas de uma guitarra. O embalo é irresistível, apela-nos à imaginação, nas formas mais fantasiadas de fascínio.

The Milk-Eyed Mender é o melhor conto de fadas musical dos últimos tempos, leva-nos a olvidar as impugnações que a existência nos impõe e a criar com um prazer sem igual um admirável mundo novo, onde apenas há lugar para as mais inconscientes e belas desordens coloridas das crianças, sem mediações além da música, sem embargos além dos limites do sonho. O disco é tão puro que comove, tão sincero que enternece os ouvidos mais duros, tão tocante e verdadeiro que parece não existir: será uma fabricação da mente desenganada pelo mundo real?

Joanna Newsom acredita e faz-nos sonhar. Afinal ainda há coisas mágicas na vida, daquelas que não se fazem, antes brotam de nenhures, de um estado de existência genuíno...talvez não o tenhamos percebido mas The Milk-Eye Mender sempre esteve em nós, Joanna Newsom apenas o indicou.

Disco do Dom

Apreciação final: 2/10
Edição: Novembro 2004
Género: Compilações



O Disco do Dom está associado a um projecto de índole caritativa e apenas nessa condição aparece neste blog. As instituições beneficiadas com parte dos proventos desta edição são a APAV e a Ajuda de Berço. De resto, como registo discográfico trata-se de uma compilação das xaropadas teen da moda. Vale a intenção...

Brian McFadden - Irish Son

Apreciação final: 2/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Pop-Rock



Brian McFadden é um antigo membro dos Westlife. É preciso acrescentar algo mais? É uma espécie de Brian Adams ainda mais foleiro.

Colaborador para a área de fotografia

No quadro de alargamento do espaço apARTES a outras artes, apresento e saúdo o colaborador deste blog para a área de fotografia. O "Crítico" vai fazer-nos companhia tão regularmente quanto possível, apresentando sugestões críticas numa área que me fascina e que eu espero seja do interesse dos utilizadores deste espaço.

Mais uma vez, reitero os agradecimentos a todos que por aqui circulam. Este espaço é cada vez mais vosso. Usem e abusem. Aproveito para acrescentar que continuo a aceitar sugestões de colaboração com este sítio, nas mais diversas áreas. Conto apresentar mais novidades nos próximos dias.

Bem-vindo, Crítico.
Obrigado a todos.

Saudações artísticas

A Rapariga Afegã

Clique na imagem para ampliar
Título: A rapariga afegã
Fotógrafo: Steve McCurry
Fonte: National Geographic



Há momentos assim, em que a lente capta a sublime perfeição.

Esta fotografia, tirada por Steve McCurry, correu mundo e os olhos da bela Sharbat Gula, uma jovem afegã refugiada de guerra, despertou as mais profundas emoções desde a sua primeira publicação em 1985.

Para saber mais sobre esta foto clique aqui.

sábado, 22 de janeiro de 2005

Filme inspirado em Kurt Cobain está quase aí...

Depois de muita especulação finalmente se vê fumo branco sobre um projecto cinematográfico que tem deixado os fãs dos Nirvana em suspenso. Gus Van Sant será o realizador de "The Last Days", fita inspirada nos últimos dias do malogrado vocalista da banda de Seattle. Michael Pitt (Dreamers e Crimes Calculados ) será o protagonista, na companhia da italiana Asia Argento. O filme encontra-se em trabalho de pós-produção e chegará às salas em Maio/Junho.

As notas oficiais referem que não se trata de um filme de conteúdo biográfico mas as referências simétricas com a vida do casal Kurt Cobain/Courtney Love são presença constante e não afastam os paralelismos dos seguidores do grupo de Seattle. A ver vamos se o produto final merece tanta celeuma...

As Rainhas da Idade da Pedra andam aí...

Poucas semanas antes do lançamento do muito aguardado Lullabies To Paralyze os Queens of The Stone Age farão uma curta digressão europeia que passará por França, Alemanha e Reino Unido.

Que inveja!

De qualquer forma, em jeito de antecipação ao novo trabalho, com data de lançamento prevista para 22 de Março, podem ouvir uma amostra do primeiro single no sítio oficial da banda.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Cristina Branco - Ulisses

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Tradicional/Fado Moderno



Apresentado pela própria cantora, não como um disco de fado, mas como um registo de música portuguesa, Ulisses é uma pertinente viagem à tradição do património musical nacional. Desengane-se quem pensa que este disco se resigna perante a referência estanque do fado e da guitarra portuguesa. Podem ouvir-se temas em espanhol ou em inglês, ainda que todo o disco se desenrole sob a primazia do fado, a influência primária de Cristina Branco. As canções desprendem-se do formato rígido da canção tradicional portuguesa e, aceitando a sua intercessão decisiva, embarcam em excursões venturosas, qual bravo Ulisses, por horizontes ignotos de melopeias cativantes. Ulisses leva o fado a portos clandestinos, onde se depositam embriões de fatalista saudade e se deixam raízes de uma nova e incerta portugalidade, trajada de vestes hodiernas e orgulhosamente só no timbre das cordas de uma guitarra. A divagação, o amor, o adeus, o regresso são presença constante, trama de um opus inovador e arrojado. Tal como Ulisses, regressado a casa após jornadas intermináveis, o fado com Cristina Branco regressa a casa, afinal nunca de lá partira, apenas se revestira de ornatos aprumados. Cristina não renega as suas origens, antes as mostra de outro jeito, cheio de sensualidade e intuição.

É fado ou não? Será essa uma inquietação pertinente quando se fala de Cristina Branco? Ulisses é um passo em frente, piscando o olho ao que fica para trás e Cristina fá-lo como ninguém. Ulisses é um acto singular de quase-perfeição; saber porque Cristina Branco tem mais sucesso além-fronteiras do que cá dentro é o verdadeiro desafio. Esperemos que o público português faça o justo preito à cantora e admita, por uma vez, que a sua música não é estranha, antes entranha. Cristina Branco assume de corpo e alma o medrio do fado e deixar o fado crescer não é subtrair-lhe virtudes.

Detroit Cobras - Baby

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Rock Revivalista



Os Detroit Cobras fizeram parte de um movimento que impulsionou o renascimento em Detroit de um certo revivalismo rock, assumidamente saudosista dos The Stooges. Baby, o seu mais recente trabalho, é um disco de covers que recupera temas dos anos 50 e 60, completamente transfigurados em aparente delírio turbo, uma simbólica associação à cidade dos motores. Sem dúvida, os Detroit Cobras respiram energia e exploram-na com sabedoria, Rachel Nagy faz lembrar Chrissie Hynde ou Blondie, mas as faixas não conseguem o auge que obstinadamente perseguem. Do alinhamento constam temas dos The Animals, The Kinks, Who ou Bobby Womack, entre outros.

Baby fica na sombra dos originais, mas não envergonha os Detroit Cobras. O disco, se não encontra outro desígnio, tem charme bastante para consolar a líbido de amantes ocasionais em noites quentes de rock'n roll. Tem saudades do twist?

Dogs Die In Hot Cars - Please Describe Yourself

Apreciação final: 8/10
Edição: Agosto 2004
Género: Indie Pop



O perfume peculiar da pop dos Dogs Die In Hot Cars é captado neste primeiro longa duração do grupo, um disco que assume as suas raízes britânicas, não receia assumi-las com uma sobriedade notável, sugerindo outros trilhos para a redescoberta da tradição pop em terras de Sua Majestade. Ao escutar Please Describe Yourself imediatamente me lembrei dos Talking Heads, deixei-me embalar pela toada de "Lounger" ou "I Love You 'Cause I Have To" e percebi que os Dogs Die In Hot Cars não são brincadeira. A viveza copiosa deste registo não deixará ninguém indiferente, estes escoceses elevam a pop a uma exuberância criativa perfeitamente consciente do seu valimento, sem margem para pieguices ou trejeitos duvidosos. Tudo aqui é minuciosamente colocado no seu lugar, num imparável desfile eufónico de onze canções.

Nos moldes em que os compatriotas Franz Ferdinand recriaram o rock, os Dogs Die In Hot Cars importam uma metamorfose para a pop. O resto é feito pela irreverência em inconsciente afrontamento das regras (eles dizem que detestam "Come On Eileen" e fazem por provar que a atmosfera alegre desse tema era uma fraude, se comparada com o ambiente dos Dogs), uma sonoridade única e folgazona, excelente letras e uma sagacidade criativa que marca uma nova etapa para a pop. A dado momento Please Describe Yourself alvitra a melhor máxima auto-descritiva da banda: "I get up when I like/Wear anything I like/Don't keep up with the cool/Make up my own rules". Pois bem, este trabalho mostra bem que, se ainda não renovaram as regras da pop, os Dogs Die In Hot Cars estão no bom caminho para serem os primeiros a fazê-lo. Excelente disco.

The Streets - A Grand Don't Come For Free

Apreciação final: 7/10
Edição: Maio 2004
Género: Electrónica/Rap



Mike Skinner é o mentor do projecto The Streets e trouxe à festiva música de garagem típica do Reino Unido uma perspectiva de outsider, com influência óbvias da atmosfera hip-hop ou jungle beats. Se o primeiro trabalho do músico (Original Pirate Material, 2002) tinha pontuado um inovador panorama na electrónica inglesa, este subjuga outras barreiras. É sobretudo um registo fleumático e bem britânico que, sem oferecer singles orelhudos, acaba por compôr um registo complexo, paradoxalmente simples, simultaneamente moderno e tradicional. O ambiente é elegante, feito de enunciações do quotidiano, acompanhadas por instrumentalizações minimalistas de bom tom e com uma produção refinada.

Skinner é um contador de histórias e A Grand Don't Come For Free é um disco conceptual, centrado em caracteres romanescos que se movem imponentes face à música, dela fazendo parte e nela se expondo. A ironia e o sarcasmo também marcam presença, em textos positivamente volúveis, mais ou menos sérios, mas docemente reais. Este trabalho alarga fronteiras e deve ser ouvido repetidamente. Conceda-se a primazia às histórias e vai descobrir-se que A Grand Don't Come For Free é mais um engenhoso livro musicado do que propriamente um disco de canções valiosas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Tom Jobim Lounge

Apreciação final: 2/10
Edição: Novembro 2004
Género: Chillout/Lounge/Bossa Nova



Sabe-se que as editoras gostam de exaurir o espólio dos grandes nomes da música, especialmente depois do seu desaparecimento. Tom Jobim Lounge é mais uma intempestiva amostra dos danos que uma pseudo-reconversão pode provocar num legado musical valioso. Felizmente a obra de mestre Jobim é de tal jeito excelsa que nos permite simplesmente renegar esta abjecção musical. Só quem não conhece e percebe o trabalho do grande compositor brasileiro é que se atreveria a poluir deste forma os verdadeiros clássicos da bossa nova. Modernidade, sim....mas não assim! E ver aqui Carlinhos Brown, Lenine, Martinho da Vila e Ivan Lins em desvarios recicladores de Jobim é seguramente brincadeira de mau gosto.

Perdoa-os António, eles não sabem o que fazem...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Beulah - Yoko

Apreciação final: 8/10
Edição: Setembro 2003
Género: Indie Pop-Rock/Lo-Fi



Os californianos Beulah terminaram a sua carreira em Agosto de 2004, deixando um legado registado em quatro álbuns. Yoko foi o último trabalho da banda e eterniza com propriedade a pop amadurecida do colectivo americano, talvez num registo mais escuro, mas simultaneamente bravo no sentimentalismo, segurado por instrumentalizações de bom nível e uma produção suficientemente acertada para salientar o dadivoso espírito das composições.

O coração lírico deste disco vagueia entre uma declaração de lamento e um visão de redenção sobre o sentimento. O registo é mais reflexivo do que os anteriores, mais orgulhosamente ensimesmado, definidor de uma identidade muito própria. E os Beulah eram isso mesmo, em doutrinas contíguas com os Flaming Lips ou os Wilco. Yoko não é um feito genial, mas deixa prova da insígnia de experiência dos Beulah. Ao escutar este trabalho, especialmente faixas do melhor indie pop dos últimos tempos como "Landslide Baby", "Me And Jesus Don't Talk Anymore" e "Fooled With The Wrong Guy" não pode deixar de lamentar-se que os Beulah já não existam. Ninguém lhes rouba um lugar especial no panteão da indie. E no álbum de memórias dos apreciadores de boa música está seguramente este Yoko.

Nomeações BAFTA

Foram anunciados no passado dia 17, os nomeados para os prestigiados prémios BAFTA, atribuídos anualmente pela Academia de Cinema do Reino Unido.

A lista completa de nomeados - pode consultar aqui - permite projectar os filmes favoritos para os Óscares.

Assim, em paralelo com a lista dos Globos de Ouro americanos, destacam-se claramente alguns títulos e actores/actrizes para as principais categorias dos Óscares:

- The Aviator (Martin Scorsese), Despertar da Mente (Michel Gondry) - o preferido dos utilizadores do Imdb.com (ver aqui) e À Procura da Terra do Nunca (Marc Forster) parecem ter a nomeação certa para a categoria de melhor filme;

- Jamie Foxx (Ray), Jim Carrey (Despertar da Mente), Johnyy Depp (À Procura da Terra do Nunca) e Leonardo DiCaprio (The Aviator) devem surgir sem surpresa na lista para a estatueta de melhor actor;

- as coisas estão menos consensuais na categoria das actrizes mas creio que Hillary Swank (Million Dollar Baby), Annette Bening (Being Julia) e, eventualmente, Kate Winslet (Despertar da Mente) devem ser nomeadas pela academia de Hollywood;

- para o galardão de melhor filme estrangeiro, uma referência para a nomeação mais que provável de Mar Adentro (Alejandro Amenábar) e Diarios de Motocicleta (Walter Salles).

A este propósito, uma menção para os favoritos da prestigiada publicação PREMIERE. Uma nota de surpresa (...ou não!) para as eventuais nomeações de Javier Bardem (Mar Adentro) - algo que o actor espanhol (talvez o melhor europeu no momento) já fez por merecer - e de Catalina Sandino Moreno (Maria Cheia de Graça). Quanto ao resto, não há grande surpresas...mas será que a academia vai mesmo ignorar o belo Despertar da Mente?

Mantém-se a expectativa, a divulgação da lista final dos nomeados para os Óscares será feita no próximo dia 25. Desde já, fica a notícia de que a cerimónia será conduzida pelo comediante Chris Rock.

Concurso de Novas Bandas da Casa da Música

A Casa da Música no Porto está a promover o Concurso Estado da Nação - Concurso de Bandas Emergentes da Casa da Música destinado a novos projectos musicais, sem qualquer contrato discográfico. O envio de maquetes deve ser feito até ao próximo dia 30 de Janeiro.

O regulamento pode ser consultado aqui.

Kasabian em digressão

A tournée dos Kasabian no Reino Unido foi alargada, fruto da massiva procura de bilhetes para os concertos. Os rapazes de Leicester merecem...







Na forja dos New Order

O novo álbum dos New Order chega a 28 de Março. Waiting For The Siren's Call é o nome. Serão capazes de fazer mais segundas feiras azuis?









Exposição de Paula Rego em Serralves

Não esquecer que a exposição da obra de Paula Rego só estará patente no Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves até ao próximo dia 23 de Janeiro. Não me perdoo a mim mesmo se não prestar essa homenagem à pintora portuguesa. Mais de cem mil pessoas já o fizeram...









Beck de volta

O novo trabalho de Beck, intitulado Epro, tem lançamento previsto para Março. Diz quem já ouviu que se trata de um regresso às origens, algo mais próximo de Loser.

A Les Inrockuptibles diz o seguinte:

"Comme aux grands jours de Loser, toutes les lubies de Beck (du blues au hip-hop, du punk rock au folk) y sont maltraitées. Une musique ivre, rugueuse, libre, joviale et d'une coolitude inégalable, qui agitera les hanches comme les zygomatiques. Cerise sur le cake de Beck : Jack White est au générique. Pour découvrir Epro, il vous faudra cependant attendre jusqu'à mi-mars..."

Novo disco de Yeah Yeah Yeahs

Quem também já prepara um novo disco são os Yeah Yeah Yeah's. O propósito do grupo é a reinvenção do seu próprio som. Estou em pulgas...

Na Pitchfork escreve-se assim:

"The band has already recorded an untitled track, according to guitarist Nick Zinner. "I mixed it in L.A. a few days ago with [engineer] Alan Moulder, owner of the best ears in this universe. It sounds amazing and lush and heavy as fuck, and also is very indicative of our next step." If Zinner's facility with adjectives does not entirely convince you, a look at Alan Moulder's resume offers potential support for 'heavy' and, well, especially 'lush'-- he was one of the great studio men of the shoegaze era, building his early career with production and engineering work for My Bloody Valentine, The Jesus & Mary Chain, Ride, Curve, Lush, and Swervedriver, although his recent work leans more toward cash machines like Marilyn Manson, A Perfect Circle, Zwan, and, most recently, The Killers."

Outra assinatura de Aphex Twin...

Analord é o novo heterónimo de Richard James (aka Aphex Twin). Depois de percorrer diversas fases de uma metamorfose estranha, cujas etapas mais célebres foram AFX, Brad Strider, Polygon Window e Aphex Twin, o músico apresenta-se agora como Analord. Sob esse nome, foi lançado um vinil de duas faixas, sugestivamente intitulado Analord 10.











terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Devendra Banhart - Niño Rojo

Apreciação final: 7/10
Edição: Setembro 2004
Género: Folk-Pop Alternativo/Cantautor/Lo-Fi



Devendra Banhart é um artista multifacetado e isso repercute-se no seu trabalho musical. A profusão da sua escrita íntima é um espelho da alma, traduzindo-se numa atmosfera espiritual, serenamente introspectiva, as mais das vezes reveladora de uma rica e divertida essência compositora. Niño Rojo é resultado das mesmas sessões de gravação de que resultou o brilhante Rejoicing The Hands.

O que se pode dizer sobre a música de Banhart? É docemente minimalista, um suco supremo resgatado da ilusória opulência da produção de estúdio, uma asseveração estreme e delicada, sem presunções, apenas Banhart. Niño Rojo é tudo isso sem tiques estéticos: o trovador Banhart e a sua guitarra acústica em melodias maduras de exortação espiritual.

Ouvir Banhart é escutar as confissões ocultas do génio, além de qualquer movimento cultural ou fenómeno musical, de verdade ingénua e beleza pura, em formas básicas de surrealismo tocante. Banhart é americano nas raízes, mas universal na criação. Ouvir Niño Rojo é experimentar a sensação esotérica de intimidade com harmonias pouco convencionais, pelo gosto adquirido nas vocalizações hipnóticas e no artesanato sonoro do compositor.

The Thrills - Let's Bottle Bohemia

Apreciação final: 7/10
Edição: Setembro 2004
Género: Pop-Rock Alternativo



Os irlandeses The Thrills estão de volta, depois do ecoante sucesso de So Much For The City. Neste novo trabalho, mantém-se a fórmula pop evoluída do primeiro álbum, embora a produção não seja tão perfeita e a parte lírica esteja uns furos abaixo. Contudo, Let's Bottle Bohemia é divertido e promissor, confirmando os The Thrills como um dos mais consistentes projectos pop da actualidade.

A confiança da banda é notória no trabalho de composição, verdadeiramente cuidadoso, enérgico e estilizado. Além disso, neste registo há uma propositada tendência para misturar as influências antigas da banda com uma produção hi-fi. Se essa fusão era arriscada, o produto final faz prova do talento dos The Thrills e, não sendo uma obra genial, é um documento do melhor que a pop ainda tem para oferecer.

Let's Bottle Bohemia acaba por ser uma ponderada reinvenção do conceito da banda, com estilo e mestria. Aguardemos novos desenvolvimentos destes irlandeses...