sexta-feira, 15 de maio de 2015

Blur - The Magic Whip

 7,2/10
Parlophone/EMI, 2015


O furor em volta da reconciliação dos Blur, e sobretudo em razão do lançamento de um novo disco, dezasseis anos depois de 13 (o último com Coxon), foi quase tão volumoso quanto aquele que se seguiu à inesperada cisão do quarteto britânico, então no auge da afirmação enquanto uma das forças criativas mais reconhecidas da música europeia na década dos noventas. Da digressão mundial pós-reunião - em particular o desvio asiático que casualmente veio a precipitar a gravação do disco que os quatro já ansiavam fazer em conjunto -, já muito se disse. Ao que parece, foi o cancelamento de uma actuação em Hong Kong que os empurrou para estúdio durante cinco dias em 2013, aproveitando o tempo inesperadamente livre para escrever e gravar o produto espontâneo dessas sessões, sem pensar na "obrigação" de o transformar em disco. Ainda assim, essa edição tornar-se-ia incontornável, respondendo até aos anseios da trupe que, já depois do lançamento deste The Magic Whip, manifestou publicamente o prazer de regressar, o orgulho que tem nestas canções, e, mais do que isso, o regozijo que todo o processo permitiu, desde o início da gravação até à edição final.

A súmula dessas energias positivas acaba por se sentir no disco e na aura intuitiva das canções. No fundo, a linguagem Blur está tão fantasiosa e esdrúxula como antes, desprendida de formatos e regras e, mesmo que "arrumada" com a maturação própria de músicos mais experientes e sabedores (e com conceitos estéticos entretanto solidificados a solo), não perdeu fulgor e criatividade. É verdade que, aqui e ali, a coisa não parece tão coesa como se desejaria. Mas, nas palavras de Graham Coxon, insigne guitarrista do quarteto (e principal responsável pela chegada destas peças à forma de álbum), "tem que haver espaço para erros bonitos".  E os Blur, afinal insofismavelmente, são um dos "erros" mais bonitos dos últimos vinte e cinco anos.
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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ólafur Arnalds & Alice Sara Ott - The Chopin Project


 7,4/10
Mercury Classics, 2015

Se há criador musical contemporâneo que transcende fronteiras estéticas e é capaz de expressar-se em inúmeras linguagens musicais, ele é certamente o islandês Ólafur Arnalds. Oriundo da profusa escola da electrónica moderna, de que é um dos mais prolíficos embaixadores, sobretudo em razão dos trabalhos peregrinos de exploração da programação electrónica como matéria musical, Arnalds veio a tornar-se também um autor requisitado recorrentemente pela sétima arte e pela televisão. A valia cenográfica da sua música é hoje reconhecida por todos os quadrantes musicais, tanto nas produções mais minimalistas como quando alcança escalas de maior ambição artística. Sendo um devoto admirador da música erudita, e particularmente da era romântica, não surpreende esta intenção de erguer um disco inspirado no universo de Chopin, ao lado da pianista nipo-germânica Alice Sara Ott, apaniguada da Deutsche Grammoph e também ela inscrita no neoromantismo.

Como é natural nestas coisas, The Chopin Project não escapará à desconfiança e cepticismo dos puristas, quase sempre inflexíveis no preconceito de que o património clássico da música erudita não sai a ganhar da miscigenação com a modernidade. A Arnalds e Ott a discussão pouco dirá; está feito o disco e convoca peças de Chopin, com aquele inconfundível trinado que Ott executa altivamente no piano, e as ornamenta com as envolvências de Arnalds, ora induzidas electronicamente, ora capturadas ao vivo a um quarteto de cordas. Nem sempre a intersecção acrescenta coisas úteis à matéria original (é muito discutível a conversão de "Nocturne in G minor" numa espécie de gravação de bar), mas acaba por sobressair, a dada altura, um traço musical muito interessante, entre o garbo poético de Chopin e o cunho charmoso dos ambientes de Arnalds e Ott. E, por isso mesmo, Chopin não levará a mal que lhe mexam nas partituras.

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