segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

Antony And The Johnsons - I Am A Bird Now

Apreciação final: 8/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Pop Alternativo/Slowcore



O segundo trabalho dos Antony & The Johnsons é um disco profundo, daqueles que se entranham sem pedir licença, dos que nos roubam ao afã existencial e nos instigam a suster a corrente irreversível da vida. Apetece ficar imóvel sob o jugo sublimado da voz andrógina e trémula de Antony e do capricho galhardo da sua escrita. I Am A Bird Now é feito de canções encantadoras, também inquietantes, assentes numa matriz de arranjos harmoniosos de piano e voz que destaca a sinceridade agridoce da proposta. A enriquecer a casta deste registo, Rufus Wainwright, Boy George, Devendra Banhart e Lou Reed dão uma ajuda respeitosa.

I Am A Bird Now é um tomo de beleza desconcertante e irresistível, despido de artifícios - como a fotografia de Peter Hujar a retratar a transexual Candy Darling (1974) na cama que seria o seu leito de morte; a voz de Antony leva-nos pela mão em divagações românticas sobre amores impossíveis, purgatórios negros, a ambiguidade dos géneros e o medo da solidão. O disco é uma majestosa epifânia ao expressionismo de uma voz com emoção transcendental e a simplicidade de uma utopia maravilhosa de criança (lembram-se de Joanna Newsom?). I Am A Bird Now é belo, calmoso e quente na forma mágica de uma fantasia de que não se desperta de moto próprio. Registo imperdível, I Am A Bird Now é um daqueles discos que se pensavam extintos.

The Kills - No Wow

Apreciação final: 7/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Indie Rock



VV e Hotel, ou melhor Alison Mosshart e Jamie Hince, estão de volta. Eles são os The Kills, um dos mais irreverentes e graciosos projectos do rock actual. Quem não os conhece vai encontrar um som sujo, rebeldemente cru, sexy e hipnótico, às vezes agressivo. A música dos The Kills é despida e cavernosa, apela à influência de Polly Jean Harvey na esquizofrénica tentação de, com a mesma intensidade minimalista, variar do afago à tortura da guitarra. Os cenários sónicos mesclam com a mesma inconsciência a cólera, a angústia e a excitação sexual. O vício dos The Kills tem nome: hedonismo. Os dicionários definem-no como a doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, o princípio e o fim da vida. Pois bem, No Wow segue esse preceito. Mas, além do prazer sensorial, o que mais oferece?

A escrita é esmerada e, com alma espartana, destila o âmago de garagem do duo, elevando-o a uma condição superior. Mas não deslumbrante. É irrefutável a valia dos The Kills, certamente provam o seu estatuto mas, nesta feição, fica melhor P.J.. Ainda assim, No Wow é um tomo mais do que relevante.

77.ª edição dos Óscares - Vencedores

Nesta madrugada foram anunciados os vencedores da 77.ª edição dos Óscares. Sem grandes surpresas, Million Dollar Baby, o filme de Clint Eastwood foi o grande vencedor da noite, recolhendo as estatuetas de melhor filme, realizador (Clint Eastwood), actriz (Hillary Swank) e actor secundário (Morgan Freeman). Ainda não foi desta que Martin Scorsese conseguiu o desejado galardão da realização mas O Aviador foi consagrado com cinco óscares, embora em categorias menos mediáticas: actriz secundária (Cate Blanchett), direcção artística, fotografia, guarda-roupa e montagem.

Na categoria de actor principal, tal como era considerado na generalidade das previsões, Jamie Foxx foi distinguido pela sua representação de Ray Charles, na fita Ray. Noutras categorias, uma nota para Sideways de Alexander Payne, merecedor do prémio para argumento adaptado e Despertar da Mente que arrecadou a distinção para melhor argumento original.

Veja aqui a lista de vencedores da noite.

Um pequeno pormenor: na mesma noite a Academia premeia dois filmes (Mar Adentro para melhor filme estrangeiro e Million Dollar Baby) que abordam frontalmente a polémica da eutanásia. Sinal de mudança?

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos

Apreciação final: 8/10
Edição: 2004
Género: Drama





Três vidas maculadas, três destinos cruzados. Um veterano e solitário treinador de boxe (Eastwood), relegado pela filha, busca indulgência no triunfo dos seus pupilos, temendo a derrota no cotejo consigo mesmo. Um fiel amigo (Freeman), outrora boxeur, derribado pela mágoa de ver sumido um título no combate que nunca fez. Uma mulher intrépida (Swank) que vê no boxe a escapatória para uma vida de privação e insulamento. O nexo entre eles: os destroços das quimeras do passado, o retrato de sonhos vencidos. Desses reveses do pretérito brotam raízes que unem as personagens.

Frankie (Eastwood) é distante, frio, quase inexorável. Maggie (Swank) é rebelde, determinada e genuína. Eddie (Freeman) é ponderado, sereno e honesto. Contra a sua vontade inicial, Frankie aceita treinar Maggie e com ela traça uma relação singular. A probidade intrínseca, a paixão e empenho de ambos unem-nos de um modo inconsciente; Frankie e Maggie, juntos, enfrentam sem medo a utopia, nos ringues e na vida.

O mais recente trabalho de Clint Eastwood é uma tocante reflexão sobre o incomensurável ónus das ilusões perdidas e a consequente remodelagem do sentimento face ao curso da vida. Assente num enredo sem falhas, Eastwood inventou uma fita de caracteres profundos, com uma definição de personagens impressiva, uma realização ímpar e um compasso oportuno. Nada neste filme é intempestivo, até o final polémico é ostensivamente usado para expôr o espectador ao derradeiro murro (na consciência). A depressiva catarse dos protagonistas é convertida numa comovente trama de afectos, sem resvalar para o dramalhão. A performance dos actores é sublime, Hillary Swank, Clint Eastwood e Morgan Freeman rentam o primor. Com ou sem Óscares, Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos é indiscutivelmente um dos filmes do ano.

Avó

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Título: Avó
Fotógrafo: Marco Santos
Fonte: Autor









O desconhecido, a timidez momentânea e o conforto e segurança do colo da avó.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Um olhar rápido sobre três discos

Wolf Eyes - Burned Mind
Apreciação final: 8/10
Edição: Setembro 2004
Género: Metal Experimental/Noise/Electrónica Industrial



Sente-se uma descarga eléctrica, depois outra, uma lágrima de suor frio desliza pelo pómulo, um foco de luz directo cega o olhar, ao fundo um ávido corvo assiste. O corpo espancado acha-se inerte, amarrado à cadeira, apático e indiferente à pungência do estileto que lhe rompe a carne em incisões epidérmicas. O sangue escorre pelo antebraço. O odor a tabaco queimado enche a exígua câmara branca. Na mesa metálica repousam ferragens ensanguentadas. Somos uma peça de carne nua, às mãos de um cruel magarefe. A tosse seca do assombroso carrasco denuncia a retoma do ritual torturador. Burned Mind é o retrato psicadélico deste tortuoso pesadelo, de horrenda beleza negra. Não se trata de um disco violento, antes de um documento esquizofrénico, de singular agonia. Um desafio à face negra da alma...quem aceita?




LCD Soundsystem
Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Electrónica Pós-Punk/Dance-Punk/Indie-Rock Alternativo



James Murphy (ex-Pony, ex-Speedking, produtor dos The Rapture, Radio4 e Le Tigre) é o homem por detrás dos LCD Soundsystem. Este projecto é uma irreverente declaração de independência, simultaneamente o ícone mais útil à sua editora, a DFA. A fórmula: junção rock e disco numa trama pós-punk para pistas de dança. Rock cru casado com a elasticidade dos ritmos dançáveis e energia cinética da dance music. Apelativo? Contudo, as passadas firmes do disco não se esgotam nessas peugadas, emancipam-se na admiração de outras famílias musicais, conjugando o ambiente party de algumas faixas com o retraimento compulsivo de outras. LCD Soundsystem é um disco que captura pela diversidade, cria afinidades imediatas. Ponto fraco: é um disco temperamental e engenhoso, mas hipoteca a genialidade criativa à rigidez da escrita.LCD Soundsystem é uma boa fonoteca de estilos, mas é certinho demais...




Fennesz - Venice
Apreciação final: 6/10
Edição: Março 2004
Género: Electrónica Experimental/Música Ambiente



Christian Fennesz é um guitarrista vienense comummente associado à electrónica experimental; é também acérrimo fautor de um estilo que combina um trabalho de sampling elaborado com guitarras densas e ingredientes electrónicos medidos com detalhe. A voz aparece pontualmente, esbraceja como um náufrago perdido na vastidão do oceano, aqui feito de pequenos bulícios dissonantes, entrecortados por breves elegias de exaltação electrónica que alternam com o enigma sónico que insiste em levitar sobre os abismos do silêncio, em instantes de quietude perturbadora. É permanente o apelo a um universo sonicamente livre e sem impurezas. Em Venice o pecado não faz sombra, a virtude é hipnótica, o sonho é o limite. Mas o estro não é evanescente?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Albert Camus - A Peste

Na década de 40, em Orão, milhares de ratos disseminam a peste. Neste livro, Camus enfatiza as consequências da peste muito para além das enfermidades e mortes que ela provoca.

O escritor transmite ao leitor o conjunto de reacções e sentimentos que normalmente se evidenciam numa situação trágica como a retratada. Por conseguinte, a peste acarreta o exílio castrador, a solidão obsidiante e o medo despoletado pela consciência da proximidade da morte. Há aqueles que reagem com absoluta indiferença enquanto outros compreendem-na como um castigo divino.

Num cenário de desgraça a solidariedade emerge, inevitavelmente. Mas de que vale ela para lutar contra a morte? A peste é isso mesmo, uma metáfora da morte, simbolizando a luta contra a peste a peleja patética do ser humano por forma a evitar o inexpugnável fim.

Com Camus o Homem é frágil, ridículo e, por vezes, um espaventoso sofredor.

A Peste é um dos marcos mais significativos da bibliografia do autor. "Um grande escritor sempre traz consigo o seu mundo e a sua prédica". Se os quiser conhecer terá obrigatoriamente que ler o livro em análise. O convite está feito, não quererá ter a amabilidade de o aceitar?

"Nada é mais escandaloso do que a morte de uma criança e nada é mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel’’. E foi assim que morreu o filósofo do absurdo...

RJD2 - Since We Last Spoke

Apreciação final: 7/10
Edição: Maio 2004
Género: Underground/Hip-Hop Experimental/Samples




O projecto RJD2 atribui a si mesmo uma consciência de enigma na encenação sónica de paisagens misteriosas, algures entre uma firme asserção experimentalista e uma manifesta aura underground. Definidor de novos padrões musicais e outras tonalidades acústicas, R.J. Krohn - o homem por detrás do nome - tem prazer em vascolejar a cena musical. E fá-lo com a zomba de um excluído. Será pretensioso vender-nos um conceito sónico que confunde as medidas soul com as percussões do funk e que envolve tudo numa atmosfera soul jam session muito retro? Arriscado é, certamente.

Since We Last Spoke não é catalogável numa categoria estanque. A vaga criativa que esquadrinha este título é o mais incontestável indício de que Krohn prossegue no intuito de achar uma personalidade musical própria, demarcada de tradicionalismos, profusamente criadora e exploradora das ressonâncias da emoção. As faixas de Since We Last Spoke seguem variações rítmicas, fazem-se de altos e baixos alternantes, antecipando o clímax incerto.

Reduzir este disco ao universo hip-hop não é fazer-lhe justiça; essas fronteiras são galgadas em marcha lenta, às vezes downtempo, com uma altivez cool, numa inspirada re-intrepretação da soul clássica. Não se trata de um revivalismo vulgar, antes de uma reformulação que, não contestando os rumos de antanho, os reinventa com o jeito inato que só é predicado dos visionários. O traço polido de Krohn e a urbanidade do seu cunho fazem deste Since We Last Spoke um corpo cósmico de um espaço universal virgem. Partamos em busca dessa porção antes que se perca...

Se ao fim do dia

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Título: Se ao fim do dia
Autor: Ana de Sousa
Fonte: 1000Imagens





Belo contraluz este. Ao fim do dia um passeio na praia na companhia do melhor amigo. O clique desperto capta o momento, que poderia passar despercebido, como tantos outros.

A fotografia tem três níveis que lhe dão estrutura, o céu, o mar e a areia, tudo em tons quentes de fim de tarde. As silhuetas em contraluz completam a imagem. O reflexo destas na água dá o toque final.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

The Mars Volta - Frances The Mute

Apreciação final: 8/10
Edição: Março 2005
Género: Pós-Rock/Rock Experimental/Art Rock



Provindo das cinzas dos At The Drive-In, o projecto The Mars Volta apresenta um conceito rock ambicioso, com o desígnio de afirmar novas fronteiras, sob a convicção de que o hardcore, o improviso extravagante e o psicadelismo são fontes primárias. Partindo desse preceito, o colectivo concebe um género rock não generalista, inspirado na arte progressiva. Frances The Mute é intenso e paranóico; tem uma orgânica complexa, em tangência com uma inquietante e volátil sensação de ansiedade. O disco é aprimorado no detalhe e aventura-se no exigente desafio de (des)construir a rigidez do rock, indo além do antecessor De-loused In The Comatorium (2003) na inclusão de influências sónicas variadas: há aqui flamenco, emo, free jazz e rock progressivo. O alinhamento de Frances The Mute contempla cinco faixas, cada uma junta pedaços de composições, na criação de um documento maior, um supremo exercício de criatividade e génio. Para o auditor, Frances The Mute é uma jornada sensacional, sem destino definido, um arroubo que apetece aceitar sem reflectir, um repto impreterível de ritmos descontínuos. Mais do que um disco, Frances The Mute é uma peça de arte angélica e dissonante, derriba todos os preconceitos musicais e torna-se uma alucinante definição do auge de uma nova família musical.

Não há como negar: Frances The Mute é um disco soberbo. Rock crescido, alienado e genial para mentes evoluídas. Não é um tomo imediatamente acessível, deve ser lentamente ruminado, até que se lhe degustem todos os travos sónicos. E uma vez completada a prova, é irreprimível o desejo de repetir muitas e muitas vezes.

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Death From Above 1979 - You're A Woman, I'm A Machine

Apreciação final: 8/10
Edição: Outubro 2004
Género: Indie Rock/Pós-Punk




You're A Man, I'm A Machine é o primeiro registo de estúdio do duo canadiano Sebastian Grainger (voz/bateria) e Jesse F. Keeler (baixo). A proposta é gostosamente atrevida: o tecido sónico deste disco é urdido pelo baixo e pela bateria, bordado ocasionalmente por delgadas interjeições de um tímido sintetizador. O som tem fino recorte, doma o rock com recursos mínimos, conferindo-lhe uma infrequente ambiência insurrecta, puramente noise, às vezes hardcore, sempre fora do comum. Se poderia pensar-se que um arsenal instrumental tão reduzido hipotecaria o vigor das composições, o disco nega frontalmente tal ideia. Mais do que isso, escraviza os tímpanos de um jeito único, aliciando o auditor com um engodo fatalmente irresistível. A sedução irreverente deste trabalho resgata o imo do rock, brune-lhe a textura com dedicação e amamenta um pequeno monstro prodigioso. Isso é o que You're A Woman, I'm A Machine é. E a avantesma é orgulhosa, acouta a tensão e a intensidade do duo canadiano e concentra-a numa hedonista e intemporal celebração do rock.

Os Death From Above 1979 fizeram um dos mais veementes sobressaltos da indústria rock recente, sobrepujando com distinção o risco de gravar apenas com dois instrumentos, graças à construção de uma sonoridade sexy e inconfundível e cuja virtude maior reside na captação do limite das sinergias entre bateria e baixo. A excelência dos músicos é evidente, a personalidade das composições também. Ouvir os libidinosos Death From Above 1979 é destapar as raízes do rock, aqui nutridas a testosterona, e perceber que a demente quimera de refazimento da música, se não tem rei (assumirão os DFA'79 o trono?), tem rock, na pura essência de You're A Man, I'm A Machine.

Subtle - A New White

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Underground Rap/Rock Experimental/Rap Alternativo



A cosmologia hip-hop é confinada a espaços definidos: a uma cidade, a um beco, a uma rua. Não obstante, a condição urbana e panfletária desse universo e a irrefutável ascendência sobre as gerações mais jovens alargaram a escala de influências do conceito e generalizaram a mensagem, agravando-lhe o risco. O género tornou-se popular, emancipou-se, mas parece escorregar perigosamente para o mainstream. Ossificação à vista? O sexteto Subtle - Doseone (cLOUDDEAD) é um sexto do colectivo - encarrega-se de nos provar o contrário. A New White é uma visão amorfa do rap, uma criação anidiana do fenómeno hip-hop. E a que soam os Subtle? A versatilidade, a invenção, a criatividade, a surpresa. O som é um feitiço camaleónico, enigmático, complexo. Um buraco negro no underground. Subversor? Experimental.

Ingredientes: Instrumentações maioritariamente acústicas, guitarras, sopros, um drum kit e um violoncelo eléctrico, subtileza musical, melodias, ritmos sólidos.

A New White é um peça de ate, revela-se aos pedaços, audição a audição, exibindo uma textura densa e um gracioso travo onde reside a sua resistência ao tempo. Quando os outros perecerem nas memórias, os Subtle e A New White ainda estarão por cá.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Os novos trilhos do Punk

Street Dogs - Back To The World
Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Punk Revivalista/Punk-Pop/Punk Alternativo




Mike McColgan esteve ligado aos Dropkick Murphys e é hoje o frontman dos Street Dogs. Este é o seu mais recente trabalho. O disco é puro punk a la Green Day, a roçar o pop, três ou quatro acordes, uma voz nasalada e muita energia. A proposta é honesta, tem pitadas de boa composição e encaixa no senso comum do punk. Isso retira-lhe espontaneidade? Nem por isso. O quinhão maior das canções é apelativo, quase contagiante, fica no ouvido e isso não tem que ser mau. Não obstante, as faixas não residem apenas no simplismo punk. McColgan e seus pares abraçam outras influências, descarregam-nas com ponderação e produzem um dos melhores tomos punk dos últimos tempos. Para fãs e não só. Ouvir com insistência.



Strike Anywhere - To Live In Discontent
Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Punk Revivalista/Hardcore



A mais recente edição dos Strike Anywhere recolhe o EP Chorus Of One (2001), alguns outtakes do álbum Exit English (2003) e material não lançado. O registo resulta bastante lacónico, ajunta a incendiária consciência activista da banda e acaba por ser um ajustado cartão de visita dos Strike Anywhere. É certo que o hardcore do colectivo americano não é dos mais hostis, nisso desgostando os fãs mais puristas do género, mas consegue K.O. técnico na rebeldia, no confronto e no destemido afrontamento do sistema. A título de exemplo, provando que os rapazes são exímios atiradores, a dada altura escrevem: "Poverty is the biggest and strongest jail that the government ever built". Esclarecedor?



NOFX - The Greatest Songs Ever Written: By Us
Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Punk/Punk-Pop/Punk-Teen



Os californianos NOFX celebraram vinte anos de carreira com a edição de um best of. Estranho propósito (ou ironia maior?) vindo de uma banda que renega a exploração das editoras. A proposta contempla as melhores composições do irreverente colectivo americano. Não deixa de ser divertido olhar sobre o ombro e recordar temas como "Linoleum", "Bottles To The Ground" ou "Thank God It's Monday", entre outros. Certamente, ninguém espera canções magníficas dos NOFX; eles não são isso. Os NOFX são uma veterana entidade formada em partes iguais pelo ócio, a irreverência, o álcool e o punk. Os Green Day ou os Offspring não ouvem isto? The Greatest Songs Ever Written: By Us é um entretém inocente, quase imprudente, manifesto próprio da impubescência eterna dos NOFX.



Kill Your Idols - From Championship To Competition
Apreciação final: 3/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Hardcore Punk



Os Kill Your Idols existem? A questão não é zombeteira, a música do colectivo é tão estafada que parece recalcada de outros grupos, sem chama, tenta pescar adeptos sem engodo. From Championship To Competition é um registo que segue os princípios básicos: voz agressiva, guitarras em algazarra, batidas rápidas e composições com ejaculação precoce. Adeptos de música fastidiosa e parada no tempo, corram a comprar este disco. Sequazes da evolução, esqueçam os Kill Your Idols.



Champion - Promises Kept
Apreciação final: 5/10
Edição: Agosto 2004
Género: Harcore Punk



Distorções poderosas em pulsações velozes, voz em alaridos cliché e muita transpiração. Este é o preceito dos americanos Champion, seguidores do revivalismo punk. O resto resume-se a uma frase: prá-frente-é-que-é-caminho. Num género musical que pende para a repetição, às composições dos Champion é injectada alguma emoção, na combinação de vectores de um serviço mínimo de versatilidade. Os Champion tocam tangencialmente o punk, aceitam a interferência mas afastam-se dela com paixão suficiente para merecerem distinção. Promises Kept é convicção, persistência, melodia, paixão e old school hardcore. Fim de modorra.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Fotografia premiada de Arko Datta

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Título: S/T
Autor: Arko Datta
Fonte: World Press Photo








A irónica beleza da tragédia, captada pela lente de um fotografo atento. Esta imagem descreve todo o sentimento de profunda tristeza e indignação por que terão passado milhões de pessoas.

Prémio merecido.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Tori Amos - The Beekeeper

Apreciação final: 6/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Cantautor




Tori Amos é uma compositora de conceitos. Os registos prévios da cantora favoreceram a geração de uma orientação musical resoluta, desprendida de espartilhos, às vezes um pouco oblíqua, mas ainda assim versátil e apta. O percurso da cantora, solidamente imprimido em sete albuns, é feito de passos seguros, uns mais inventivos do que outros. Neste The Beekeeper, oitavo registo da carreira, Amos investiu em dezanove(!) faixas, inequívoco prenúncio de risco de enfado. Nesse jogo de palpite, Amos não terá vencido: a audição de The Beekeeper não sendo molesta, é demonstrativa de que quantidade nem sempre rima com qualidade. Um disco desta extensão dificilmente sobrevive ao crivo da excelência, os méritos das melhores faixas encalham no mediania das restantes composições, em prejuízo da concisão do registo. Depois, The Beekeeper deixa-se enredar numa ociosa propensão para deslizar mansamente na graça do auditor, rumo à saudade do pretérito de Amos. Todavia, desengane-se quem pensa encontrar um mau disco. Se é inegável que The Beekeeper não é um disco clássico de Tori Amos, no sentido de aligeirar o apreço pela minúcia na escrita e na produção, não é menos verdade que algumas das canções são de bom nível. Mas, para alguém como Amos, abdicar de uma máxima tão idiossincrática quanto o pormenor e o alindamento das texturas é sinal leviano. Às músicas falta-lhes corpo.

The Beekeeper não é passo atrás. Mas também não renova a marcha de Tori Amos. E para alguém da sua estirpe sempre se exige o cúmulo. Fossem retiradas algumas das canções, re-produzidas outras e estaríamos na presença de um disco interessante. Deste modo, tal como é apresentado, The Beekeeper é paradoxalmente tacanho por ser longo demais e não faz justiça ao engenho costumeiro de Tori Amos. Ternura dos quarenta?


terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Maximilian Hecker - Lady Sleep

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Slowcore



A sedução pelo tiple quente, o repouso confortador do afago e o romantismo estirado até as raias do tolerável são os conceitos musicais do alemão Maximilian Hecker. Se em Rose (2003) a pop melíflua do cantor/compositor estava encasulada em texturas sónicas ricas em detalhes, neste Lady Sleep a música é despojada de habilidades electrónicas, dá enfoque à castidade do instrumento, seja o piano ou a guitarra. O tom murmurado de Hecker mantém-se e, fazendo fé no título do disco, o fito deste tomo é embalar donzelas ou, em alternativa, segredar-lhes afectos durante o sono. Ainda assim, aparte a dor de coração de Hecker, Lady Sleeps traz-nos boas canções, de uma pop slowcore moderna, às vezes celestial, em estampas grafadas numa toada Sigur Rós-meets-Thom Yorke enamorado.

Ainda que a alguns possa parecer lamecha, Hecker tem algo de etéreo, mesmo experimental, revela-nos uma intimidade inquietante e complexa, vogando entre a doçura dos amores perfeitos desejados e o azedume dos enamoramentos indeferidos. Lady Sleep é uma engenhosa elegia à intimidade, ao amor e à morte. Certamente melodramático, mas não menos talentoso. Lady Sleep é um disco para ouvir de coração aberto, sem medo de arriscar as cicatrizes de amores falhados que guardamos no baú das recordações.

Magnolia Electric Co. - Trials & Errors

Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Rock Alternativo



Os Magnolia Electric Co foram a invenção independente do guitarrista Jason Molina, depois de ter abandonado os Songs:Ohia. Aliás, o nome do projecto é traslado do último registo daquele colectivo. Neste trabalho gravado ao vivo em 2003 na cidade belga de Bruxelas, percebe-se uma aura frontalmente country, acólita da vibração melódica e da crueza das guitarras de Neil Young (influência ou plágio?). Depois, sente-se o à-vontade do colectivo canadiano em palco, Molina melhorou como cantor, é tangível a afectividade e a empatia com o público. O repertório do disco recupera sete temas dos Songs:Ohia e junta-lhes três canções novas, funcionando como um delicioso aperitivo para a estreia do grupo em estúdio, prevista para a primavera deste ano.

Trials & Errors é um ensaio sem grandes erros, numa abordagem mais rock que não desvirtua o espírito apaixonado e introspectivo das composições, embora o disco se ressinta da excessiva colagem a Young, o que não sendo necessariamente negativo, joga em desfavor do engenho criativo de Molina. Hoje, ele é o mais fiel herdeiro do legado de Young mas não veste essa roupagem em jeito excessivo? Outro senão: no desfile de canções de Trials & Errors dissipa-se gradativamente a chama que se julgava adquirida nas primeiras faixas. Interpretações dilatadas demais? Talvez. Ainda assim, um registo ao vivo meritório. Espera-se What Comes After The Blues, álbum de estúdio com lançamento previsto para a segunda quinzena de Abril.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

4 discos em 4 parágrafos

Apreciação final: 7/10
Edição: Julho 2004
Género: Indie Rock/Neo-Psicadélico



Les Savy Fav - Inches

Bramidos ecoantes, espíritos psicadélicos, guitarras, pianos, orgãos, saxofones, escrita inspirada, raiva visceral, reinvenção, rudeza, Melvins, Stooges, Zappa, bulício, distorção, enigma, ameaça, sem fronteiras, sem limites, reinvenção do rock, cores caleidoscópicas, alucinações, paranóia, excelência. Sinónimos de Blue Cathedral. O disco traz os artigos, verbos e advérbios.


Apreciação final: 8/10
Edição: Abril 2004
Género: Indie Rock/Emo



Comets On Fire - Blue Cathedral

Quando o caos é a mais apurada forma de criação, a tensão irreverente, a asserção enérgica e o entretenimento catártico são as armas de arremesso. O projecto Les Savy Fav é mensageiro dessa doutrina, assume-se como portador privilegiado de uma força de alma irradiante, um vírus que nos toma os tímpanos com pungência, que nos adoenta, primeiro, e nos apaixona depois. O confronto com a emoção, a delirante nostalgia do electro-clash, a precisão matemática dos instrumentos, a libertinagem íntima, a agressividade amistosa, o desafio sentimental, a urgência literada, são os denominadores comuns dos Les Savy Fav. Um pequeno senão: dezoito faixas não hipotecam a densidade do tomo? Grande disco.


Apreciação final: 6/10
Edição: Setembro 2004
Género: Electrónica Experimental/Downtempo



Micro Audio Waves - No Waves

Os Micro Audio Waves nasceram da vontade de Flak (Rádio Macau) e Carlos Morgado expressarem os seus devaneios experimentais. Depois do álbum homónimo lançado em 2002, juntou-se a eles Cláudia Ribeiro e o trio gravou este No Waves. Boas composições, texturas sónicas avant-garde, minimalismo instrumental e uma boa dose de spoken word preenchem o espaço sónico do colectivo nacional. Uma lufada de ar fresco na música nacional, tão raros são os bons projectos de música experimental cá no burgo. Pena é que nem todos os temas do disco tenham a mesma chispa. Fosse esse o caso e No Waves seria um dos melhores discos nacionais dos últimos tempos. Ainda assim, vale a pena uma escutadela.


Apreciação final: 6/10
Edição: Maio 2004
Género: Indie Rock



The Secret Machines - Now Here Is Nowhere

Os texanos The Secret Machines abordam o rock com uma visão distorcida, através da construção de cenários musicais invulgares, pautados pelo cruzamento entre o psicadelismo pontual de guitarras corrosivas, em toadas pós-punk, e um certo experimentalismo slowcore. Em "Now Here Is Nowhere", as composições são eruditas e revelam uma versatilidade demonstrativa da maturidade do grupo. Os The Secret Machines são enérgicos e exuberantes, o seu som tem qualquer coisa de etéreo mas fica aquém da vastidão que a primeira audição promete. Mas o ténue melindre dessa conclusão não belisca os méritos de uma banda promissora e de um disco interessante.

O Livro de Cesário Verde

Cesário Verde é um dos mais sonantes nomes da poesia portuguesa, isto apesar da sua breve existência (morreu com apenas 31 anos) e da sua curta obra. No seu legado poético percebemos o enorme talento descritivo, que eclodiu, provavelmente, por culpa das suas deambulações pelas ruas de Lisboa. O poeta recria a realidade, captando o essencial da representação do real.

Neste livro, que apenas foi editado por Silva Pinto, um amigo, após a sua morte, apercebemo-nos da predilecção do poeta pelos ambientes citadinos, mas sem nunca repudiar um certo fascínio que nutria pelos ambientes campestres. Há um enorme rigor na sua escrita denotando-se uma preferência pela quadra. Ele é um poeta-pintor já que de si mesmo disse: "pinto quadros por letras, por sinais".

Ele foi sempre um comercial e a poesia era uma ocupação das horas vagas ("Eu nunca dediquei poemas às fortunas,/Mas sim, por deferência, a amigos ou artistas").

A ambivalência existente entre o comerciante e o poeta, que o levaria a evitar os literatos, por ser comerciante, e o afastava da classe comercial, por ser poeta, faz-nos perceber a soturnidade do seu carácter que se reflecte no sentimento de solidão presente em alguns dos seus poemas.

Da obra de Cesário Verde destaca-se, inexoravelmente, o genial O Sentimento de um Ocidental.

"E eu que medito um livro que exacerbe, / Quisera que o real e a análise mo dessem". E esse livro foi - O Livro de Cesário Verde.

A dançar

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Título: A dançar
Autor. Francisco Maia
Fonte: FotoLusa







Deslizar na crista da onda, eis uma dança que não está ao alcance de todos.

General Patton vs. The X-Ecutioners

Apreciação final: 7/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Experimental/Hip-Hop Alternativo/Samples




O frontman dos Faith No More, Fantômas ou Tomahawk está de volta. Mike Patton, agora sob o título de general, apresenta o seu mais recente trabalho, na companhia dos electrónicos X-Ecutioners. O músico californiano, a quem o epíteto militar se ajusta como luva à mão, à luz da pertinência e a prolificidade da sua obra, insiste na inovação. Com um trajecto raramente marcado por passadas em falso, Patton revisita o seu manancial inspirador, encontrando repetidamente fontes originais e delas sorvendo renovadas máximas. Esse teimoso processo de renascimento faz de Patton um dos mais inovadores e geniais músicos dos nossos tempos. Este título é o mais recente corpo de invenções.

A variedade frenética e vibração delirante das composições, algumas na forma de mini-clips, afasta este registo do conceito convencional de disco. Isso não é surpresa em Patton mas apanhará desprevenidos os menos atentos. O resto é pura frescura: samples, batidas funk, ruídos indecifráveis, vocalizações esparsas, uma míriade de influências. O condimento primaz é o cunho inconfundível de Patton, sempre desvairado mas conforme, vanguardista q.b., em cissão clara da rigidez do universo musical. Ainda assim, este trabalho é menos sinistro que outros de Patton, também menos rock e menos hostil, mas grotesco e desafiante. Aborda a guerra, expõe-na de jeito diferente de Hendrix, mas consegue o fito de prender-nos à sua beligerante atmosfera cinematográfica - até Dirty Harry, na voz de Eastwood, por aqui figura. O enigma é a denúncia condenatória dos conflitos e das armas. Não é suprema a ironia de que para esse propósito Patton tenha puxado para si o cognome de general? Contudo, não se pense que o artista reclama para si o centro do disco. Longe disso. Patton e os X-Ecutioners são instrumentos de uma causa maior, de um objecto que os suplanta, de uma soma que supera a adição das partes. E de porções é feito este todo, numa engenhosa manipulação de corta-e-cola, ataviada por instrumentalizações cómodas e discretas fonações. O desfecho é um combate perpétuo, uma contenda sem sentença mas com vencedor previsto: o ouvinte.

Athlete - Tourist

Apreciação final: 4/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo




Depois de Vehicles & Animals (2003) ter trazido os Athlete à primeira linha da nova pop britânica, o colectivo inglês está de volta com Tourist. E que dizer deste trabalho? Antes de mais, o disco é uma abusiva promoção melodramática, os contextos líricos resvalam as mais das vezes para o infortúnio sentimentalão e calamitosamente choradinho. Acresce ainda a colagem mais ou menos assumida ao formato verso soft - refrão loud que celebrizou os Coldplay - Chris Martin até é co-autor do tema "Wires". O desfecho é um tomo pretensamente lacrimogéneo, com onze faixas recalcadas entre si, num auto-plagiato que não oferece dúvidas e que empurra Tourist para uma condição que até nem é nova nos Athlete: a indiferença.

Musicalmente pensando, há neste registo um ou outro instante oportuno mas que não salva o auditor de uma hiperbólica exibição de sentimentos lamechas e tórpidas composições. Terão os Athlete perdido o norte ou desejam para si o estatuto de arremedo despropositado dos Coldplay? A sensação imediata que ressalta deste trabalho, além do inevitável dejá-vu, é a infeliz percepção de que, assim que imaginaram uma receita para a escrita, os Athlete se limitaram a ligar o piloto automático. E o disco segue assim, rumo ao mofino fado que o aguarda: o esquecimento. Tourist é tedioso, repetitivo, bajoujo e...para quê? Talvez a troco de uns minutos de airplay nas rádios. Seguramente não no meu leitor de cd's.

Grammys 2005

Na madrugada de 14 de Fevereiro foram atribuídos os Grammy deste ano. Da lista de vencedores, destaque para:







REVELAÇÃO DO ANO Maroon 5
DISCO DO ANO Ray Charles - Genius Loves Company
DISCO DO ANO (POP) Ray Charles - Genius Loves Company
DISCO DO ANO (ELECTRÓNICA/DANÇA) Basement Jaxx - Kish Kash
DISCO DO ANO (ROCK) Green Day - American Idiot
DISCO DO ANO (ALTERNATIVA) Wilco - A Ghost Is Born
DISCO DO ANO (R&B) Alicia Keys - The Diary Of Alicia Keys
DISCO DO ANO (RAP) Kanye West - The College Dropout
DISCO DO ANO (COUNTRY) Loretta Lynn - Van Lear Rose
DISCO DO ANO (JAZZ CONTEMPORÂNEO) Bill Frisell - Unspeakable
DISCO DO ANO (JAZZ VOCAL) Nancy Wilson - R.S.V.P.
DISCO DO ANO (JAZZ LATINO) Charlie Haden - Land Of The Sun
DISCO DO ANO (POP LATINO) Marc Anthony - Amar Sin Mentiras
DISCO DO ANO (FOLK CONTEMPORÂNEO) Steve Earle - The Revolution Starts...Now
DISCO DO ANO (REGGAE) Toots & Maytals - True Love


Para ver a lista completa de premiados, clique aqui.

domingo, 13 de fevereiro de 2005

Vencedores dos BAFTA 2005

No passado dia 12 de Fevereiro foram anunciados os vencedores dos prémios de cinema BAFTA, atribuídos pela Orange British Academy. Assim, nas categorias mais relevantes os vencedores foram:






MELHOR FILME O Aviador
MELHOR REALIZADOR Mike Leigh (Vera Drake)
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL Charlie Kaufman (Despertar da Mente)
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO Alexander Payne / Jim Taylor (Sideways)
MELHOR FILME ESTRANGEIRO Diarios de Che Guevara
MELHOR ACTOR Jamie Foxx
MELHOR ACTRIZ Imelda Staunton
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO Clive Owen (Closer)
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA Cate Blanchett (O Aviador)

Veja a lista completa aqui

A maior surpresa da noite foi a vitória (justa) de Mike Leigh na realização, ultrapassando o super-favorito Martin Scorsese. E os galardões atribuídos a Foxx e Staunton repetir-se-ão nos Óscares?

Vencedores dos Brit Awards 2005

Sem grandes surpresas, foram anunciados os vencedores dos prémios da música britânica. Assim, nas distinções a solo para artistas britânicos, o projecto The Streets e Joss Stone suplantaram a concorrência apertada de Morissey ou Jamie Cullum e P.J. Harvey, respectivamente. A nível colectivo só podiam ter ganho os Franz Ferdinand (Melhor Grupo Britânico) - lá perto andaram os Kasabian e os Snow Patrol - embora o galardão para o melhor álbum britânico fosse arrecadado pelos Keane com Hopes and Fears. Este colectivo também mereceu a escolha na categoria de melhor revelação.

A nível internacional foram distinguidos Eminem (Artista Masculino A Solo), Gwen Stefani (Artista Feminina A Solo), Scissor Sisters (Grupo, Revelação e Álbum Internacional do Ano).

Veja aqui a lista completa de vencedores.

Josh Rouse - Nashville

Apreciação final: 8/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Indie Rock/Cantautor



Depois do aclamado 1972 (2003), Josh Rouse está de volta. O registo é símil: rock brando e preguiçoso que se confunde com pop sofisticada. Nesse preceito, Nashville é o nexo musical vinculador de um estado de alma caloroso, aqui e ali sorumbático, confesso e desarmado. A precisão artesanal das composições sublima o talento do músico natural do Nebraska, expondo influências da pop britânica, em junções pacíficas com a tradição folk americana.

Nashville é uma viagem às raízes de Rouse, também à origem mais profunda dos costumes sónicos americanos. É ainda um retrato fiel dos dotes de Josh Rouse, reafirmando terminantemente a sua inclusão na mais fina linhagem de cantautores contemporâneos.

Este trabalho é uma romanesca mostra da insustentável leveza da nostalgia, do marasmo estagnador das recordações e da castradora pertinência da interrogação. Rouse carrega nos sublinhados do pretérito, fá-lo sem enredos ou cavilações e toca-nos profundamente. Nashville tem um vigor monopolizador, capta-nos o subconsciente, encanta-nos pelo bom gosto. Rouse oferece-nos um volume adornado pelo tímido toque de Midas que coloca na escrita. Resta-nos escutá-lo e perceber a intacta fragilidade das canções que, afinal, é a sua mais comovente virtude.

Curvas

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Título: Curvas
Autor: Luís Louro
Fonte: 1000Imagens







Sem qualquer comentário.
Local: dunas do deserto da Namíbia.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Madeiro

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Título: Madeiro
Autor: Marco Santos
Fonte: Autor





Fogo elemento de vida. Essência da criação.

Esta fotografia foi tirada na véspera de Natal, dia de consoada, data em que em muitas aldeias e vilas do nosso Portugal se queima um troco no adro da igreja.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Lou Barlow - Emoh

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Folk/Cantautor/Lo-Fi



Lou Barlow é um dos mais prolíficos compositores da sua geração, embora este seja o primeiro trabalho assinado em nome próprio. Antes, o músico esteve associado a diversos projectos musicais, mormente os monolíticos Dinosaur Jr (que fundou com J Mascis), os minimalistas Sebadoh, o conceito Sentridoh (a solo) e os The Folk Implosion (em parceria com John Davis). O percurso de Barlow é marcado por uma escrita compulsiva, sem cuidados perfeccionistas, numa visão quase hedónica da música. A excepção será este Emoh?

O registo é íntimo, quase privado, não há espaço para ruídos experimentais. O enfoque capital é a canção. A voz de Barlow, mais firme que no pretérito, avoca uma condição singular: é a força motriz, o instrumento primaz, o diapasão das composições. Depois, os espartanos arranjos de cordas esculpem eufonias na medida justa, não onerando as letras, antes consentindo-lhes o ensejo libertário de relatar. Emoh é aprazível, às vezes garboso, mas não chega a ser tão memorável quanto outros registos de Barlow. Um antídoto definitivamente aconchegante para o stress de um dia de trabalho.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

Explosão

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Título: Explosão
Autor: Isa Vieira
Fonte: 1000Imagens



A natureza mais uma vez em todo o seu esplendor. O encanto de uma pequena flor pode ser extraordinariamente divinal. A arte da mãe terra nunca deixa de nos surpreender.

Um macro muito bem captado.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Outros sons que passaram pelo leitor de CD

Gwen Stefani - Love.Angel.Music.Baby

Apreciação final: 5/10
Edição: Novembro 2004
Género: Pop-Rock/Club-Dance



No seguimento da ascensão dos No Doubt, Gwen Stefani tornou-se uma das principais divas da pop. A audição atenta do seu primeiro registo a solo gera uma conclusão óbvia: Love.Angel.Music.Baby jamais seria gravado com os No Doubt. O trabalho é mais dançável e intencionalmente fashion, percorrendo cenários sónicos que passam pelo hip-hop, pelo rock e pelo funk. A capa deste opus define-o com propriedade: é kitsch, extravagante, luxuriante e sensual. Desenganem-se os que procuram aqui resquícios de No Doubt. Neste disco, Gwen Stefani rouba para si um quinhão do universo pop e é bem sucedida na aproximação descarada ao mainstream. Nesta viagem, leva companheiros célebres: Dr. Dre, Linda Perry, The Neptunes, entre outros. Love.Angel.Music.Baby é um entretém pop, a sugerir uma revisitação aos Foreigner e a Michael Jackson.


Snoop Dogg - Rhythm & Gangsta : The Masterpiece

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Hip-Hop



O californiano Snoop Dogg é hoje a principal referência da cultura hip-hop e o seu mais recente trabalho não desiludirá os fãs incondicionais do rapper. O disco aceita uma noção de risco nos limites do equilíbrio, como o artista circense que enfrenta a corda bamboleante sobre o palco. Contudo, sai-se bem no propósito da inovação, trazendo ao som de Snoop Dogg um viço não percebido antes, pela inclusão de uma suave e moderna toada jazz-funk. A metafórica abordagem misógina dos contextos líricos releva a sarcástica disposição de Snoop para incitar a controvérsia, imagem de marca que lhe granjeou um estatuto peculiar. A esse nivel, uma citação: "If she won't do what you say, why aren't you slapping her?". Suficientemente esclarecedor? E inscrever Masterpiece no título não é acto insolente? Sê-lo-à. Como sempre foi Snoop Dogg.


Sum 41 - Chuck

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Pop-Rock/Punk Revivalista



Ícones do rock teen, com raízes no saudosismo do punk, os canadianos Sum 41 estão diferentes. A transfiguração aproxima-os de um registo com mais peso, declaradamente menos pop. Por inverosímil que se assemelhe, os canadianos chegam a parecer-se com os System Of A Down ("We're All To Blame" não é um plágio de "Chop Suey"?) ou os Metallica ("The Bitter End" não encaixa em "St. Anger"?), com arranjos quase trash metal. A este tom não será indiferente a estada atribulada do grupo no Congo, território marcado por hostilidades militares. Chuck é o mensageiro mais pesado do património dos Sum 41; é directo e mantém a irreverência característica da banda. Certamente, a mudança aproxima os Sum 41 de outros públicos - até piscam o olho aos adeptos de Linkin Park - mas não renega o passado dos canadianos. A reconversão é demonstração de vigor, de renovação e, acima disso, de uma inspirada e inesperada viragem para produtos mais maduros. Chuck é uma aventura destemida por mares nunca dantes navegados, sem medo do Adamastor ao virar da esquina, com vistas largas para um porvir incerto. Porém, os Sum 41 ficam bem num retrato de rock mais ferroso como Chuck. Aguardam-se novos capítulos da metamorfose.


Elis - Dark Clouds In A Perfect Sky

Apreciação final: 3/10
Edição: Novembro 2004
Género: Metal Gótico



Os alemães Elis regressam com Dark Clouds In A Perfect Sky, um registo de sonoridade exuberante, com uma produção excessivamente intensa, compondo um tomo de quase-hinos metal, feitos de vocalizações em tom de lamento gótico da vocalista Sabine Duenser (as cordas vocais da cantora combinam com metal?) e estridentes interjeições solitárias de guitarra. A similitude com os Lacuna Coil é óbvia: voz feminina, romantismo negro, guitarras poderosas, arranjos de teclas caprichosos, longos solos de guitarra. Dito isto, uma pergunta se impõe: o que é que os Elis têm para oblatar que não tenha já sido feito? Por outras palavras, se espremermos este Dark Clouds In A Perfect Sky até lhe percebermos o tutano, encontramos uma ninharia de cunho próprio dos Elis, algo que se esquive do mero copy - paste das suas referências. E quando assim acontece, não pode deixar de pensar-se que o disco é uma desilusão. Ou antes, uma confirmação da justa indeferença que os Elis merecem...

domingo, 6 de fevereiro de 2005

Vera Drake

Apreciação final: 8/10
Edição: 2004
Género: Drama




Na Inglaterra conservadora do pós-guerra, nos anos 50, os valores da família e do trabalho são os paradigmas das estirpes proletárias. Vera Drake (Imelda Staunton) é uma mãe extremosa, uma esposa devota e uma solidária vizinha. Dividida entre a solícita morigeração do seu lar e um abnegado altruísmo, Vera oculta da família o ofício de abortadeira: não nega auxílio às mulheres com gravidezes indesejadas. E fá-lo sem ter consciência da natureza criminosa do acto, apenas com o escopo filantropo de socorrer quem precisa. Quando as trangressões são expostas pela polícia, o pequeno mundo perfeito de Vera desmorona-se.

A mais recente película de Mike Leigh é um tocante documento sobre o valor da vida e o esboroar das frágeis muralhas que defendem os valores da humanidade. O filme assenta num estupendo trabalho de actores, a densidade das personagens é pouco menos do que brilhante - Imelda Staunton ganha o "meu" Óscar, se não o da Academia, tão sensível é o seu desempenho: Vera Drake é o convincente retrato de uma mulher angélica e ingénua, por isso pura e incorruptível. Staunton empresta-lhe uma aura intensa, com uma carga dramática forte. Além disso, a fita é um exercício de pormenor, onde cenários pardos compôem a atmosfera dramática que embala o enredo. A quase ausência de banda sonora presta um utilíssimo ajutório a esse efeito.

Vera Drake é um filme propositadamente inquietante, obriga-nos a uma prudente meditação sobre o dogma do primado da lei, a cegueira insensível da jurisprudência e as assimetrias entre a esfera da licitude e a moralidade da culpabilização. Afora isso, atira-nos ostensivamente à cara a crua verdade sobre o aborto, o direito à vida e a família. É um manifesto feminista? Não. É uma apologia do aborto? Não. Limita-se ao franco testemunho de uma mulher que, sendo abortadeira, sacraliza a vida (e a família) como fitos existenciais. É um paradoxo? Não.

Desconhecido

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Título: Desconhecido
Autor: Imagebank
Fonte: Gettyimages



Está é daquelas imagens que vale mil palavras. Nela se depreende o sofrimento da derrota e a vaidade da vitória.

Poderia analisar ponto por ponto esta fotografia, mas deixo isso para cada um.

Um momento excelentemente bem captado.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

Ani DiFranco - Knuckle Down

Apreciação final: 5/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Indie Rock/Folk Alternativo/Cantautor



A tenacidade da luta da americana Ani DiFranco contra o poderio das multinacionais que dominam a música granjeou-lhe o epíteto de símbolo de culto dos anos 90, também pelo indisfarçável feminismo da sua escrita e pela controversa assunção da bisexualidade.

Em Knuckle Down a cantora/compositora continua orgulhosamente independente - o disco é lançado pela Righteous Babe, editora da própria DiFranco. A confiança dos anos de estrada e escrita da cantora é notória neste registo, uma profusa combinação de géneros, de sons quentes e convidativos. A co-produção de Joe Henry dá uma ajuda à nitidez da mensagem caústica de Ani DiFranco, muitas vezes escorregando para o formato spoken-word, ainda que neste registo haja menos insinuações de cariz político. O furacão DiFranco terá amainado? Ou o status quo não é já inspiração bastante? Não se pense, contudo, que o disco é despiciendo. Os seguidores da autora, continuarão a perceber-lhe as complexas alegorias, o lirismo da poesia, a intimidade manifesta e o tom confessional dividido entre a ditosa vivência e a taciturna consternação. A assinatura DiFRanco preenche o tomo, a sua marca é inconfundível, mas a produção não é inócua em alguns temas?

Knuckle Down não é decisivo, perde-se num expedito ensaio para se afirmar. Ani Di Franco já tem um espaço, não o perdeu, não tem que o recobrar e, tivesse-o perdido, seguramente não o resgataria com este trabalho. Knuckle Down é o mais recente indício de que o tempo amoleceu a rebeldia de DiFranco e, com isso, se dissolveu o ácido da escrita. Ph neutro.

Agnostic Front - Another Voice

Apreciação final: 4/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Punk Metal/Hardcore



Alguma celeuma se gerou quando os nova-iorquinos Agnostic Front assinaram pela Nuclear Blast, editora menos virada para o punk e vocacionada para música com mais quilos. Iriam abraçar outro enquadramento sónico? Descansem os fãs do grupo, Another Voice não desrespeita os arquétipos dos Agnostic Front, apenas lhes injecta uma corrosiva dose de distorção. De facto, o registo aceita uma aproximação ao metal, sem abandonar as raízes do punk, afinal a escola mais importante deste colectivo americano. O som deles está mais moderno mas ganha com isso? A resposta é um rotundo não.

Os Agnostic Front continuam a soar a uma banda punk, é certo, mas a colagem da voz de Roger Miret a registos death metal, em certos momentos do disco, fá-los parecer uma insípida imitação dos míticos Killing Joke. Ainda assim, há algumas faixas que representam bem a old school do hardcore mas não chegam para salvar Another Voice da monotonia. Alguém forneça uma bússola a estes rapazes...

Lemon Jelly - '64 - '95

Apreciação final: 6/10
Edição: Janeiro 2005
Género: Electronica/Club-Dance/Downtempo/Funk/Ambiente



Nick Franglen e Fred Deakin fazem o projecto Lemon Jelly, uma das mais entusiasmantes iniciativas do panorama electro hodierno, erguida a esse estatuto ímpar depois do lançamento do singular Lost Horizons (2002).

'64-'95 fica um pouco aquém do seu antecessor, embora seja firmado em pilares dissemelhantes. Neste registo, a proposta parte de samples (recolhidos das discografias pessoais de Franglen e Deakin), integrados numa textura mais rock, pontuada por batidas dançáveis. As faixas são apropriadamente assinadas com as datas dos samples que as inspiraram e cujo horizonte temporal baptiza este trabalho, destacando-se as amostras de Monica, Masters of Reality, William Shatner, entre outros. O resultado é esmerado e captura uma essência crepitante em esplendor experimental, onde as colagens não são meros acessórios, antes honram as composições, lustrando decisivamente a sua aparente indefinição.

'64-'95 não é um disco-retrato no sentido de simbolizar uma época. Nem pretende sê-lo. O fito é diverso: a descoberta de tangências pacíficas entre o disco sound, o rock e o house. E aí reside a sua força motriz no alongamento do já ecléctico som do duo britânico, graças à variedade de estilos musicais acolhidos, cada um absorvido pelo conceito Lemon Jelly. '64-'95 é galante, quase sumptuoso, seduz ao abeirar-se, como uma paixoneta de Verão, mas não chega a deslumbrar.

Starlux - I've Been There (EP)

Apreciação final: 5/10
Edição: Dezembro 2004
Género: Indie Rock/Lo Fi/Slowcore



Depois da eclosão dos Silence 4, o cenário musical português foi anundado por lançamentos sucessivos de projectos musicais a cantar em inglês, uns meritórios, outros nem tanto, com baterias apontadas para a projecção internacional do produto. Nesse intento, o desejo é quase um nado morto. O mercado nacional não tem dimensão, as editoras de distribuição além-fronteiras torcem o nariz e dificilmente um grupo luso consegue expandir-se fora do burgo. As honrosas excepções contam-se pelos dedos das mãos...Os Starlux tentam agora a sua sorte também.

João Valente e João Leopoldo são as personagens fulcrais deste EP, editado pela bor-land, e que percorre as harmonias slowcore de paisagens sónicas conciliadoras, de chamamento à paz interior, ao relaxante repouso do sonho. As composições são gentis e razoáveis mas não fendem a modorra, tampouco apontam vias novas, ficam-se pelo atalho arredio e inocente. Os Starlux têm bom gosto, é inegável, mas dificilmente escaparão ao alçapão dos ignorados. Intento voluntário ou incapacidade para se engrandecerem?

Elegia dos Não Heróis

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Título: Elegia dos não heróis
Autor: Jorge A. Costa
Fonte: 1000Imagens




A guerra, essa maldita que atormenta a toda a hora. Quando é que os líderes mundiais tomarão consciência dos verdadeiros valores da vida?

Fotografia de reportagem oportuna.

Franz Kafka - O Processo

Kafka é o mestre das perturbações, dos transtornos e da desconfiança. Em O Processo a estranheza é iniciada logo com o nome da personagem principal: Josef K.. K.? Será uma transposição da sua pessoa e K. será sinónimo de Kafka? Não se sabe. As dúvidas com Kafka não acabam quando terminamos de ler os seus livros.

Neste romance K. é vítima de uma perseguição absurda da qual parece impossível a fuga. É criada uma atmosfera claustrofóbica e inquietante que nos vicia do princípio ao fim do livro.

A narrativa tem o ambiente típico de um argumento cinematográfico fazendo-nos lembrar em certos aspectos os filmes de David Lynch.

Sabe-se pouco da personagem principal ou da situação angustiante em que se vê envolvido, mas, por via disso, o livro faz-nos perceber o modo como se sentiria alguém que fosse vítima de um esquema obsidiante semelhante, residindo aí, no indeterminável, o seu manifesto interesse.

Kafka consegue imiscuir-se nas entranhas do ser humano revelando a eclosão da solidão pelo medo.
Disso não tenho dúvidas de que é culpado.