Depois de dois álbuns (Terrakota, de 2002, e Humus Sapiens, de 2004) consagrados ao cinzelamento de uma identidade sonora própria (com as inerentes imperfeições estruturais) e à consequente consolidação de uma estética unificadora de caracteres rítmicos com procedências étnicas diversas, o terceiro registo prescrevia, para os Terrakota, o desafio de juntar consistência a esse idioma híbrido. Ao escutar Oba Train percebem-se os ecos da maturação de sons do octeto que, repisando as mesmas referências mestiças dos antecessores (sob um manto de sons caribenhos e embalos reggae cabem os mais variados sabores da mandinga e da gwana, as nuances latinas da salsa, do flamengo e do merengue e algumas insinuações importadas da cultura árabe e indiana), apresentam uma matriz de composição mais escorreita e, sobretudo, um corpo de canções mais seguras e credíveis no encadeamento das diversas estirpes de som. É assim que Oba Train se converte num exercício de autoconsciência dos Terrakota (nesse particular, os vocais de Romi estão no auge!) e, em simultâneo, no breviário ideológico de um bando de músicos que nos oferece, agora, o mais completo (e sumarento) dos seus mosaicos de sons, uma espécie de digressão nómada e apátrida por uma África negra com o tamanho do mundo.
Posto de escuta MySpace dos Terrakota