quinta-feira, 24 de maio de 2007

Arbouretum - Rites of Uncovering

7/10
Thrill Jockey
AnAnAnA
2007
www.myspace.com/arbouretum



Bastaria dizer que Dave Heumann - o mentor do colectivo Arbouretum - foi músico de suporte de gente como Cass McCombs ou Will Oldham e baterista dos Anomoanon para adivinhar a órbita preferida do seu som. Rites of Uncovering, segundo disco do projecto, é música com a guarnição da mais vernácula herança dos sons da América e, nesse sentido, trata-se de um álbum profundamente enraizado na estreme tradição dos cantautores folk. Contudo, mais do que meramente se mostrarem nesse seguidismo histórico onde colhem as suas influências estruturais, as composições buscam uma orgânica própria, sublinhando dimensões sombrias (os tons tardos e graves fazem-se regra) e pautadas pela adopção do psicadelismo (mormente nos extensos solos de guitarra ao jeito de um Hendrix sob o efeito de ansiolíticos) como interposição subliminar. Assim se constrói uma certa excentricidade folk-rock, assente sobretudo na conjura entre os ambientes contemplativos (de quase introspecção) e intimistas e os espasmos eléctricos. Todavia, a despeito da intenção de, com essas oscilações estruturais, imprimir dinâmica à exímia escrita do disco, o resultado final é menos impressivo do que podia ser (com alguns instantes de excepção, como na belíssima "Tonight's a Jewel", na negra "Signposts and Instruments" ou a quase progressiva "The Rise"), em razão de um certo acanhamento formal que encurta a expressividade rústica das canções e impede os paroxismos emocionais que elas suporiam. De toda a maneira, o conforto da melancolia é ainda um lugar inspirador da música americana e raras vezes é tocado (e cantado) com esta solenidade e mestria.

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