Desde os primeiros passos de Rufus Wainwright no universo pop se percebeu que o nova-iorquino estava destinado a tornar-se uma figura de proa de uma das famílias da música mais falhas de protagonistas capazes de somar visão artística e dimensões ambiciosas. Possuidor de uma concepção da música isenta de ingredientes vãos e reveladora de um certo desencanto convertido em excentricidade (no sentido de escapar ao pragmatismo tradicional das escolas pop) e, sobretudo, influenciada por uma convicta afinidade com a música erudita (e a ópera) e as artes do espectáculo (a confessa admiração por Edith Piaf, Maria Callas, Kurt Weill ou Judy Garland são testemunho disso), Wainwright evoluiu para uma linguagem musical sem paralelo na pop contemporânea. Release the Stars é a quinta jornada dessa demarcação, apurando o enlace entre a euforia das orações sinfónicas e dos corais, também uma já idiossincrática magia teatral, e o recato desconsolado das construções pop do autor, servidas por uma voz segura (com menos maneirismos do que os que se escutavam no par de álbuns Want). Esteticamente opulento e versátil, distante da banalidade e sempre apontando ao requinte e à sofisticação sonora (o rol de instrumentos aproveitados no disco é extenso), o álbum é tecnicamente irrepreensível e, embora denunciando alguns estorvos que o desviam da coerência estrutural vista (e ouvida) noutros trabalhos de Wainwright, não deixa de ser um esplêndido exercício de pop grandiloquente e sem concessões. Sons barrocos de cabaret, musicais da Broadway ou peças de recitais clandestinos, as canções de Wainwright são um produto pop de medidas largas, oriundo de uma ciência de sons difícil de domar (e vedada a compositores de pacotilha) mas que, paulatinamente e numa marcha consistente, o nova-iorquino toma em mãos, rumo a uma obra-prima. Assistir ao decurso dessa aprendizagem é um privilégio.
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Rufus Wainwright - Release the Stars
Desde os primeiros passos de Rufus Wainwright no universo pop se percebeu que o nova-iorquino estava destinado a tornar-se uma figura de proa de uma das famílias da música mais falhas de protagonistas capazes de somar visão artística e dimensões ambiciosas. Possuidor de uma concepção da música isenta de ingredientes vãos e reveladora de um certo desencanto convertido em excentricidade (no sentido de escapar ao pragmatismo tradicional das escolas pop) e, sobretudo, influenciada por uma convicta afinidade com a música erudita (e a ópera) e as artes do espectáculo (a confessa admiração por Edith Piaf, Maria Callas, Kurt Weill ou Judy Garland são testemunho disso), Wainwright evoluiu para uma linguagem musical sem paralelo na pop contemporânea. Release the Stars é a quinta jornada dessa demarcação, apurando o enlace entre a euforia das orações sinfónicas e dos corais, também uma já idiossincrática magia teatral, e o recato desconsolado das construções pop do autor, servidas por uma voz segura (com menos maneirismos do que os que se escutavam no par de álbuns Want). Esteticamente opulento e versátil, distante da banalidade e sempre apontando ao requinte e à sofisticação sonora (o rol de instrumentos aproveitados no disco é extenso), o álbum é tecnicamente irrepreensível e, embora denunciando alguns estorvos que o desviam da coerência estrutural vista (e ouvida) noutros trabalhos de Wainwright, não deixa de ser um esplêndido exercício de pop grandiloquente e sem concessões. Sons barrocos de cabaret, musicais da Broadway ou peças de recitais clandestinos, as canções de Wainwright são um produto pop de medidas largas, oriundo de uma ciência de sons difícil de domar (e vedada a compositores de pacotilha) mas que, paulatinamente e numa marcha consistente, o nova-iorquino toma em mãos, rumo a uma obra-prima. Assistir ao decurso dessa aprendizagem é um privilégio.
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