sexta-feira, 25 de maio de 2007

Bill Callahan - Woke on a Whaleheart

7/10
Drag City
AnAnAnA
2007
www.dragcity.com



Ele é um dos mais subvalorizados vultos da música americana. Senhor de um percurso forrado a boas canções e ancorado a um espaço sonoro rústico e experimental a que chamou (Smog) - que ergueu em demanda de respostas para uma personalidade impaciente e céptica - Bill Calahan aventura-se, pela primeira vez, numa edição com o nome de baptismo. Mais do que propriamente fazer uma qualquer espécie de breviário de um património estético acumulado ao longo de mais de uma década de gravações dedicadas a uma revisitação consternada (e intencionalmente rudimentar) das raízes mais profundas da música americana e seus vários idiomas, Woke on a Whaleheart desvenda mostras de um espírito menos desassossegado (não ler como sinónimo de conformista). Não espanta, portanto, que estas canções sejam o corolário das emendas recentes do projecto (Smog), rumo a um estilo mais ortodoxo (o experimentalismo a ceder à composição) e de escrita mais robusta. Em boa verdade, Woke on a Whaleheart está nos antípodas dos rótulos home recordings de início de carreira e, nesse sentido, estas peças são produto de uma maturidade conceptual conseguida à custa de altos e baixos e que, em última instância, dotou Callahan dos recursos (e confiança) imprescindíveis para tirar melhor proveito da sua (cada vez menos) conturbada verve. Nessa redescoberta de si mesmo, no ofício e na vida - a recém-divulgada relação com Joanna Newsom deve ter dado uma ajuda - o músico reciclou melancolias e deu-lhes um inesperado alento pop, com o precioso auxílio de Neil Michael Hagerty (antigo mentor dos Royal Trux) nos arranjos.

Para os seguidores mais antigos, aqueles que vêm à procura das odes estaladiças e ascéticas do passado, Woke on a Whaleheart pode deixar a sugestão de que, volvidos estes anos, já nada resta do bandoleiro eremita e melancólico que Callahan foi e, no lugar dessa recordação, mora agora um poeta "romântico" de esperança renovada. E, ainda assim, há nesta outra persona (já nem assina como Smog...), a despeito de alguns indícios de incongruência estética, condimentos louváveis o suficiente para justificar o elogio do compositor. Mesmo que vestido com muito mais cores do que é hábito.

Sem comentários: