segunda-feira, 21 de maio de 2007

Wraygunn - Shangri-La

8/10
Som Livre
2007
www.wraygunn.com



Com muito falatório à sua volta, cá dentro e lá fora (especialmente em França), os conimbricences Wraygunn tornaram-se alvo de uma exposição mediática a que não estavam habituados e, três anos depois do consagrado Eclesiastes 1:11, apresentam-se com as mesmíssimas premissas que os certificaram como um dos ensembles mais cativantes do panorama luso. As afinidades com a música da América negra, particularmente blues, gospel e soul, são as ferramentas estruturais das canções, assim se firmando o traço de continuidade em relação a trabalhos anteriores. Contudo, a banda de Paulo Furtado (sem a "máscara" de lendário homem-tigre) não se cinge a meramente decalcar as referências passadas. Ao invés disso, Shangri-La dá mostras de um certo inconformismo estético de uma banda segura do seu percurso, capaz de preservar as mais-valias da sua identidade e referências históricas (sem escorregar para o anacronismo) mas, sobretudo, com vontade de vincar um discurso próprio e alargar a sua marcha a substâncias modernas (a electrónica também mora aqui...), em orgulhosa marginalidade do mainstream. Este é o idílico poiso musical dos Wraygunn e, como James Hilton o fantasiou num qualquer vale dos Himalaias, Paulo Furtado e seus pares mostram-no agora numa metáfora apuradíssima de sons, a demarcar-se da letárgica atrofia do panorama rock português. E a buscar a utopia da perfeição e o charme da meditação.

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