Depois do estrondoso sucesso do disco de versões Undercovers, a dupla Maria João / Mário Laginha está de volta, desta vez com um trabalho de originais. Tralha marca o retorno à receita dos registos prévios destes músicos, embora este se revele mais cerrado, menos definido, assente em anamneses da vida, adornadas com sonoridades do jazz, da étnica, da fusão e alguma pop, com carradas de virtuosismo. Maria João e Laginha, distintos como sempre, oferecem-nos uma experiência obrigatória, recheada de imprevistos, pequenas tralhas que se amontoam, propositadamente desarrumadas. Acoitemos o alvitre, escutemos com reverência, deixemos a moleza vencer, recostemo-nos e mantamos a Tralha desarrumada. É assim que ela faz sentido.
O requinte, o garbo, o bom gosto e a ousadia para fantasiar sonhos desmedidos marcam pontos neste trabalho. Com a voz doce de Maria João e o piano cicerone de Mário Laginha, faz-se o par perfeito; a eles se juntam Miguel Ferreira (sintetizador e teclas), Helge Norbakken (percussão), Yuri Daniel (baixo), Alexandre Frazão (bateria) e Mário Delgado (guitarras).
Quem se avezou ao tom orelhudo de Undercovers não encontrará neste disco um sucessor justo. Mas quem aprecia a música genuína desta dupla nacional, achará em Tralha um registo raro, robusto, franco e virtuoso.
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