Leonard Cohen está de volta. Dear Heather assinala o septuagésimo aniversário do poeta canadiano e soleniza a sua experiência de vida e os seus trinta e seis anos a escrever canções. Este registo é uma lacónica exaltação da vida, uma retrospectiva dos antigos amigos e mentores, das numerosas amantes, dos efeitos dramáticos do 11 de Setembro. O cantor contempla o seu passado, ufana-se trazendo à memória uma existência farta de histórias e peripécias, em que as perdas não são um termo, antes mostram uma porta para o astúcia e o agradecimento.
O rejuvenescido septuagenário apresenta-nos um disco descomprometido, sem espartilhos, finamente desregrado e confesso. As letras são inteligentes, serenamente budistas, mordazes e com o excêntrico humor do costume. Há também ensejo para uma homenagem à poesia de Lord Byron, na primeira faixa do álbum, baseada no poema "Go No More A-Roving". O registo vocal de Cohen é quase sepulcral, feito de sussuros e cicios intensos, em tons melancólicos, noctívagos e absortos. Uma nota de destaque para a produção ponderada de Sharon Robinson e o contributo vocal de Anjani Thomas em algumas faixas do disco.
Só um escritor de canções como Cohen seria capaz de nos confiar uma obra deste calibre, aos setenta anos. Não é o seu melhor disco, há algumas instrumentalizações duvidosas, mas vale a pena ouvir este trabalho e acolher as lições do grande mestre.
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