Depois de Misery is a Butterfly, sexto álbum dos Blonde Redhead discretamente publicado há cerca de três anos pela mão da 4AD, já se previa que o trio viesse, em futuros lançamentos, a fortalecer a (mais ou menos) assumida viragem dream pop do seu som, afastando-se ainda mais dos preceitos da gestação que, muitas vezes, precipitaram alguns cotejos com a fase púbere dos Sonic Youth. Bastante apartado do temperamento cáustico e experimental desses tempos, 23 é sobretudo um enredo harmónico construído em volta da voz melico-doce da nipónica Kazu Makino - ela divide o trio com os gémeos italianos Amadeo e Simone Pace - e o enlace voz-matéria instrumental mostra um certo refinamento pop, não necessariamente sinónimo de aligeiramento estético, antes repercussão inevitável do namoro (mais ou menos intuitivo) com o formato shoegaze. Tal acidente formal - desfecho natural do rumo evolutivo do grupo - nem sequer fecha as portas a aparições pontuais de substâncias electrónicas, mas cede (bem) a prioridade às causas de arte emocional das guitarras. Pena é que sobre a impressão de que, não obstante a beleza desprendida de algumas destas composições e os méritos de homogeneidade do álbum (também produtores de uma importuna sensação de omissão de contrastes), os Blonde Redhead pareçam reféns do polimento imoderado do seu som, dando mostras de maior transigência com o polimento de estúdio ou de uma escrita mais cortês e conformista, em prejuízo manifesto da mágica personalidade fracturante que tão bem desvendavam em Melody of a Certain Damaged Lemons (2000). Ainda assim, há em 23 pretextos mais do que suficientes para dar crédito aos Blonde Redhead e, quiçá, carimbar-lhes a passagem para outros palcos.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
Blonde Redhead - 23
Depois de Misery is a Butterfly, sexto álbum dos Blonde Redhead discretamente publicado há cerca de três anos pela mão da 4AD, já se previa que o trio viesse, em futuros lançamentos, a fortalecer a (mais ou menos) assumida viragem dream pop do seu som, afastando-se ainda mais dos preceitos da gestação que, muitas vezes, precipitaram alguns cotejos com a fase púbere dos Sonic Youth. Bastante apartado do temperamento cáustico e experimental desses tempos, 23 é sobretudo um enredo harmónico construído em volta da voz melico-doce da nipónica Kazu Makino - ela divide o trio com os gémeos italianos Amadeo e Simone Pace - e o enlace voz-matéria instrumental mostra um certo refinamento pop, não necessariamente sinónimo de aligeiramento estético, antes repercussão inevitável do namoro (mais ou menos intuitivo) com o formato shoegaze. Tal acidente formal - desfecho natural do rumo evolutivo do grupo - nem sequer fecha as portas a aparições pontuais de substâncias electrónicas, mas cede (bem) a prioridade às causas de arte emocional das guitarras. Pena é que sobre a impressão de que, não obstante a beleza desprendida de algumas destas composições e os méritos de homogeneidade do álbum (também produtores de uma importuna sensação de omissão de contrastes), os Blonde Redhead pareçam reféns do polimento imoderado do seu som, dando mostras de maior transigência com o polimento de estúdio ou de uma escrita mais cortês e conformista, em prejuízo manifesto da mágica personalidade fracturante que tão bem desvendavam em Melody of a Certain Damaged Lemons (2000). Ainda assim, há em 23 pretextos mais do que suficientes para dar crédito aos Blonde Redhead e, quiçá, carimbar-lhes a passagem para outros palcos.
sábado, 28 de abril de 2007
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Ran Slavin - the Wayward Regional Transmissions
Embora o glitch não seja uma vulgar ciência de sons ou um formato de aceitação simples, a verdade é que entre os estetas do género se encontram alguns ícones redondos da música electrónica, mormente os precursores Richard D. James (Aphex Twin) ou o projecto britânico Autechre que, no dealbar da década de noventa, seguindo as pistas deixadas pelas pesquisas espaciais de gente como Brian Eno, alargaram o espectro tonal da música de base analógica a qualquer interferência sonora imaginável. Assim se fez uma filosofia de cariz experimentalista, sem espartilhos formais, e cuja orgânica mais não era do que um emaranhado meticulosamente montado de microscópicas partículas de som, coladas ou sobrepostas, ordenadas e sem perderem a dispersão, como se se combinassem anormalidades para chegar a uma peça com um sentido metafórico de canção. O israelita Ran Slavin é um discípulo do regimento glitch e junta à manipulação electrónica do género um punhado de utilíssimas inspirações orientais, quase sempre servidas pelas cordas do ud (instrumento egípcio) ou da bulbultarang (utensílio indiano), também pela guitarra tradicional ou pelos samples. O desfecho é algo críptico e demora a decifrar; mas, uma vez entrados nos dédalos codificados deste The Wayward Regional Transmissions, sem saídas de emergência, resta-nos mergulhar sem reservas, qual roedor de laboratório nas mãos invisíveis da ciência, e desvendar uma miríade de sensações auditivas que tanto nos levam ao tortuoso e árido Médio Oriente, como nos põem placidamente em cima de uma nuvem cinzenta de impurezas. Com chancela de um selo luso.
Smartini - Sugar Train
Depois de alguns anos de estrada, o quarteto minhoto Smartini decidiu-se pelo debute no mercado discográfico, aventurando-se numa edição própria. Logo nas primeiras audições, mesmo sem a cábula do press release de Sugar Train, percebe-se que a música deles busca o mesmo fôlego que, duas décadas atrás, fez dos Sonic Youth uma espécie de pioneiros na especulação rock do ruído e na experimentação vanguardista com a dissonância melódica, a desarmonia induzida e o feedback. Tais ingredientes fazem também a massa sónica dos Smartini, com o imperativo das guitarras a fazer-se notar, qual cicerone estruturalmente hesitante entre o estampido e a quietude. Dessa irresolução formal da guitarra, afinal a fonte para as descontinuidades preenchidas inteligentemente pelo espargimento do feedback e demais matérias de acaso sónico, com o patrocínio conveniente do baixo e das percussões, nasce um fluido sonoro organicamente rico, é certo, com alguns laivos (mais ou menos envergonhados) de progressismo, mas que, a despeito da competência técnica das composições, não descola peremptoriamente das referências originais. E isso torna-se uma inferência subliminarmente castradora do notório engenho dos Smartini a projectar (e desvendar) ambientes de sons ensimesmados, mas sem sombra de estagnação e, sobretudo, com a ginástica emocional suficiente para crescerem na mente. Assim os Smartini tentem a emancipação que lhes fervilha nas veias - e que, reconheça-se, seria sempre difícil no primeiro disco - e encontrarão em si mesmos algumas das mais sumarentas assimetrias do rock português contemporâneo. A promessa ficou, esperemos por novos capítulos.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Tarwater - Spider Smile
O duo berlinense Tarwater é um caso curioso de construção estética. A electrónica é, desde as primícias do seu percurso, a prerrogativa dominante das estruturas melódicas, muitas vezes apenas instrumentais mas guardando um vínculo distante (quase conjectural) com o formato canção. Todavia, se os primeiros passos de Bernd Jestram e Ronald Lippok (também envolvido no pós-rock dos To Rococo Rot) mostravam uma certa primazia das formas descontínuas de sondar o lado negro do dub e, ao mesmo tempo, opunham bandos sonoros (às vezes, formalmente inconciliáveis) de escolas diversas da electrónica, assim clivando diferenças sistémicas para a mais convencional das matrizes de composição, os trabalhos mais recentes desvendam a harmonização dessas premissas com aquilo que pode chamar-se de fôlego pop. O estúdio (e a preciosa alquimia que aí se produz) continua a ser um condutor incontornável, ou não dependessem estas composições de uma cuidada edição de sons e, sobretudo, da identidade orgânica dos elementos de síntese, mas é sem reservas que a dupla berlinense assume definitivamente o que se adivinhara no álbum anterior, acomodando-se a num registo mais próximo da matriz verso-refrão tradicional. No fundo, percebe-se que essa predisposição para reduzir a ambiguidade formal das composições, não lhes subtraiu o vigor hipnótico ou a excelência sónica do costume - com aquela elegância que faz lembrar os Velvet Underground, como que renascidos na cena electrónica independente alemã - e isso é uma qualidade deste Spider Smile que, vendo emendadas algumas deficiências menores, poderá render uma obra maior no futuro.
terça-feira, 24 de abril de 2007
Arctic Monkeys - Favourite Worst Nightmare
Depois de terem assegurado um lugar na história como o mais mediático dos fenómenos musicais a provir do espaço cibernético - lembre-se que estes audazes britânicos tiveram no MySpace o veículo primário de divulgação da sua música e a fonte dos ecos que os trariam, mais tarde, ao primeiro contrato discográfico - os Arctic Monkeys apresentam-se para o segundo acto, engalanados por uma série de galardões com que a indústria discográfica louvou a meteórica ascensão do grupo ao sucesso. Se à responsabilidade dessa escalada rápida juntarmos a expressão comercial do álbum de estreia (foi "apenas" o debute mais vendido da história da música britânica...), percebe-se o quanto poderiam pesar os ombros de Alex Turner e seus pares, na hora de escrever novas canções. Porém, depois de escutar este Favourite Worst Nightmare, parece claro que a banda não acusou essa pressão extra e, com o mesmo propósito quase niilista com que sucessivamente vem rejeitando os requisitos do protagonismo mediático (vejam-se as últimas aparições deles em cerimónias públicas), mostra o desprendimento exibido no primeiro título. O que é o mesmo que dizer que, rejeitando qualquer "obrigação" de maturação (leia-se evolução) do seu som ou dos princípios básicos das canções - apesar de uma ou outra breve sugestão subliminarmente mais experimental - os Arctic Monkeys oferecem-nos mais do mesmo. E, no caso deles, isso é sinónimo de garra, de hedonismo e de compromisso com uma estética que, não sendo facto novo, presta serviço útil na revitalização de um pop-rock britânico menos conformista (nos últimos anos) mas ainda carente de símbolos.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
Feist - The Reminder
Não bastava apenas o facto de ela ser presença regular nas actividades do seminal colectivo Broken Social Scene, e, antes disso, ter tocado com Peaches (nesse tempo, Fesit respondia pelo nome de Bitch Lap Lap...) ou Gonzales, também a moça se deu a um percurso a solo que, mais do que meramente estimular os melómanos curiosos por estas coisas dos side projects, a estabeleceu como uma das marcas mais relevantes da música canadiana. O terceiro título de originais confirma aquilo que já se sabia dela: é senhora de uma voz melíflua como poucas e usa-a com a agilidade de uma cantora/compositora versada em diversos estilos sonoros, sempre reduzidos a formas minimalistas e com embalos importados do jazz ou da folk tradicional. A surpresa deste The Reminder está na revisão de "See-Line Woman", peça conhecida na voz de Nina Simone, apresentada numa suculenta dimensão tribalista-gospel e re-grafada como "Sea Lion Woman". Nas demais peças do alinhamento, ainda que com o esperado (e bem-vindo) investimento nas múltiplas possibilidades do espectro emocional da voz de Feist, com uma ou outra excepção útil (o piano bar e a construção harmónica de "1234" é uma delas...), desvenda-se uma escrita menos inspirada - porque pende para espaços afastados da rústica sedução que se lhe conhecia - do que no sublime Let it Die, de há três anos. Efeito conjuntural do debute numa major ou não, a verdade é que The Reminder, não sendo um álbum despiciendo, pouco soma à família de recursos de Feist e, por isso, a reboque dos instantes mais oportunos, suprirá apenas minimamente os ansiosos apetites daqueles que esperavam um Let it Die, Vol. II.
Posto de escuta MySpace de Feist
sábado, 21 de abril de 2007
Kosheen - Damage
Sediado em Bristol, no Reino Unido, o trio Kosheen é um exemplo de consistência criativa (o que também pode ser lido como imobilismo estético), sempre fiel ao intrincado mundo da electrónica contemporânea (o que nem quer dizer que eles fechem olhos à iluminação de referências passadas, mormente da década de oitenta), com jogos de beats e programações modernas e uma orgânica sonora a combinar os ingredientes sintéticos de Markee Substance, a guitarra eléctrica de Darren Decoder e a voz da galesa Sian Evans. No resto, a receita de Damage é percorrer o ideário normal da synth-pop, subliminarmente menos coincidente com a órbita drum'n'bass que esteve na génese do trio e assente num registo vocal amigo do ouvido (e, curiosamente, próximo dos formatos de géneros mais mainstream) e em construções orgânicas férteis em contrastes e detalhes tónicos. Coisa parecida, pode dizer-se, com uma improvável mestiçagem entre os Depeche Mode, os Everything But the Girl e os Morcheeba. A fórmula funciona melhor quando o trio apela a universos emocionais mais sinistros (como na esplêndida "Wish You Were Here") e, nesses instantes, as composições conseguem desviar-se dos banais estereótipos que, nos trechos mais expansivos ("Like a Book" à cabeça), as empurram para uma escusada banalidade pop, ofuscando inclusivamente um ou outro ápice de feliz enlace orgânico. Em consequência, Damage não escapa aos mesmo prejuízos formais que se percebiam noutros trabalhos e, pior do que isso, deixa-se domar por uma sucessão de concessões pop, tornando-se uma escuta apenas compensadora para os indefectíveis seguidores.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
Nine Inch Nails - Year Zero
Com o lançamento antecedido por uma campanha de marketing sem precendentes no percurso do projecto Nine Inch Nails, Year Zero chega aos escaparates rodeado pelo alvoroço e expectativa da extensa legião de fãs de Trent Reznor. Aparentemente construído em redor do conceito orwelliano de um mundo à beira do colapso social e com a fanática vertigem do terrorismo biológico apenas contida pelo uso generalizado de drogas governamentalmente prescritas e com efeitos alucinatórios, o álbum é um retrato esquizofrénico, revoltado e fatalista de uma época algures no futuro. Essa descrença distópica (e o vanguardismo estrutural) não é toada nova na música de Reznor, embora Year Zero demonstre uma vitalidade não sentida nos últimos registos NIN, mormente na articulação entre a doutrina rock industrial psicótico-vanguardista e as matérias orgânicas de medidas largas, experimentais e delirantes. Nesse particular, as composições fazem prova de uma depuração diferente das fórmulas industriais do som de Reznor, não no sentido de agravar o discurso eléctrico das guitarras, antes buscando a acidez e as convulsões mutantes da electrónica de arame farpado como discurso dominante. Essa preferência nem sempre traz conforto aos trechos, por vezes somando uma dose de inconveniência estética que lhes encobre a essência e, ainda que tendo em conta a expansão estrutural evidente em relação aos últimos títulos, Year Zero é, como o título ironicamente sugere (ele é também o primeiro pós-desintoxicação de Reznor), apenas o capítulo zero de um novo mundo NIN. Por ora, parte dos esteios desse mundo, a espaços gloriosamente entrevistos neste disco, ainda estão no casulo...
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Christ. - Blue Shift Emissions
Por detrás da enfática alcunha de Christ. (assim mesmo, com o ponto no fim) está o produtor escocês Christopher Horne, responsável pela engenharia sonora de alguns trabalhos dos Boards of Canada na década de noventa. Blue Shift Emissions é o segundo álbum em nome próprio e, tal como o antecessor, revela uma ambígua identidade ambiental e, ao jeito dos melhores produtos IDM, assenta numa cuidada estruturação orgânica (nesse particular, encontram-se laivos de sons analógicos processados com qualquer coisa de retro) e em jogos harmónicos complexos e com atmosferas espaciais. Não fosse a perícia melódica de Horne (e a forma "natural" como se desenham os encadeamentos melódicos do disco) e o generoso investimento cosmético que as composições denunciam poderia tornar-se factor de hermetismo e, por conseguinte, converter a audição do álbum numa experiência de decifração menos espontânea. A sobreposição da melodia face à complexidadade das técnica de estúdio é, de resto, a energia motriz de Blue Shift Emissions, um dos mais "simples" e imediatos produtos do orbe IDM experimental nos últimos tempos, a que só parece faltar um pouco mais de arrojo e imprevisibilidade na escultura de novas ideias. Ainda assim, insinuações como as da pérola "Vernor Vinge" provam que há aqui matéria em potência. Coisa para dar melhores frutos no futuro.
Posto de escuta Sítio da Smallfish
terça-feira, 17 de abril de 2007
Low - Drums and Guns
Embora sendo reconhecidos essencialmente por uma franja periférica das comunidades melómanas, eles levam já catorze anos no activo (não parece, pois não?) e esse tempo foi o bastante para porem de pé um sólido catálogo de canções e, sobretudo, firmarem um traço inconfundível na forma como elevam a melancolia a estados etéreos. Foi com o soberbo Things We Lost in the Fire (2001) - injustamente ignorado por muitos mortais - que definitivamente se tornaram figuras de proa do movimento a que as convenções chamaram slowcore. Desenganem-se aqueles que procuram neste Drums and Guns um sucessor semelhante ao anterior The Great Destroyer. Com efeito, o novo opus colhe diversas referências estruturais das órbitas pós-rock (coisa mais ou menos recorrente no percurso da banda) mas fá-lo com um sentido minimalista distinto das instrumentalizações luminosas do antecessor e, consequentemente, aponta a um espaço emocional mais negro, fragmentado e fatalista, de resto o habitat natural dos melhores momentos da banda. E Drums and Guns é robustíssimo manifesto das aptidões dos Low, levitando em terna melancolia, como só eles a sabem escrever.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
Au Revoir Simone - The Bird of Music
Não é facto novo que a metrópole de Nova Iorque, muitas vezes pomposamente citada como capital do mundo, se tornou o símbolo do empório cosmopolita por excelência e ponto de convergência de migrações, primeiro dos peregrinos da Revolução Industrial, depois dos perseguidores multinacionais do sonho americano e, mais recentemente, do movimento yuppie da alta finança e dos novos-ricos. As repercussões históricas dos consequentes cruzamentos de culturas e gerações, tornaram a Grande Maçã um verdadeiro mosaico de culturas (confirmadas na miríade de comunidades estrangeiras que proliferam nos arrabaldes da cidade), de pulsares e emoções distintos. Foi nesse ambiente estruturante que cresceu a tríade Au Revoir Simone. Não é que a sua música seja o mais fiel representante dessa "transnacionalidade" ou sequer demonstre sinais de algum atavismo. Pelo contrário, The Bird of Music, recurso elogiado pelo cineasta David Lynch, é moderno e perfeitamente actual. E ser moderno, na Nova Iorque de hoje, significa (como tão bem Lynch nos habituou) ter aptidão para captar o lastro de melancolia que deriva das fracturas identitárias da cidade que não dorme (Sinatra lembrava) e, ao mesmo tempo, encontrar laivos de esperança entre os inúmeros caracteres de uma construção social com clivagens depressivas e estímulos contrastantes. E as Au Revoir Simone, munindo-se apenas de ingredientes sintéticos, agarram essa essência nuclear de Nova Iorque, cruzando os estados misantrópicos em que a mente (e o indivíduo) se refugia na melancolia e no isolamento com o confiante ânimo de quem presume a efemeridade das coisas e, por arrastamento, a transitoriedade do desgosto. É assim que esta música se afirma, ambivalente nas substâncias psíquicas, mas empenhada na regeneração das suas próprias inquietudes e desilusões, ao jeito da mesma cura que os Stereolab encontraram para as tonturas de Londres, embora com uma alquimia instrumental diferente. Aqui, bastam umas batidas (se não fosse a datada caixa de ritmos a coisa podia soar melhorzinho...) e fraseados melódicos de sintetizador para elevar a moral do mais esmorecido nova-iorquino. E isso, mesmo sem uma inspiração especial na composição, chega para lembrar que a languidez de espírito é um lugar estranho. E, afinal, não é só em Nova Iorque que, como dizem as Au Revoir Simone, tomorrow is eventual...
sábado, 14 de abril de 2007
Moskitoo - Drape
Desde os primeiros ecos dos acordes flutuantes e frios das texturas sintéticas deste Drape, somos ilusoriamente conduzidos a um universo de sons (e, principalmente, sensações) em tudo simétrico aos ambientes oriundos do setentrião europeu, mormente àquela dispersão hipnótica que tem guias na música da Escandinávia. Contudo, esta descoberta da 12K, selo do nova-iorquino Taylor Deupree, vem na linha de outras que recentemente surgiram no catálogo da editora e é importada do Japão. Sanae Yamasaki é a mulher multi-instrumentista por detrás destes muros de som e, no primeiro registo discográfico do seu percurso, investe num conceito minimalista de fazer música electrónica, com um entendimento melódico docemente inocente, quase infantil e, ao mesmo tempo, aludindo à abstracção pop como objecção escapista. É, de resto, nos instantes em que o álbum se torna mais contemplativo que melhor denuncia a congruência e o detalhismo das teias de construções harmónicas, férteis na combinação de minúsculas células orgânicas (à cabeça, os sons processados) e pedaços de som que renovam identidades na mistura ordenada. Sons de expressionismo abstracto como se fossem extraídos de uma tela de Pollock repassada pela frieza da sépia electrónica de Eno.
Posto de escuta Sítio da Smallfish
Matthew Herbert - Score
Embora mantendo uma cadência regular de edições discográficas com versatilidade suficiente para lhe garantir a filiação nos mais diversos ramos da música de cariz electrónico e experimental (e não só), o DJ, produtor e compositor britânico Matthew Herbert - que também assina com alter-egos como Radio Boy, Transformer, Doctor Rockit ou Wishmountain - revela em Score uma faceta menos divulgada do seu trabalho. No fundo, a edição contempla uma safra de dezassete composições especialmente preparadas para a sétima arte, ao longo de uma década de paralelismos com a indústria cinematográfica independente. A escuta desta compilação apanha desprevenidos os melómanos mais identificados com o habitual registo de house (des)construtiva e microscópica de Herbert, tal a disparidade dos universos aqui invocados. Ao invés das habilidades com o sampler e a máquina de beats, a proposta assenta num desfile de canções mais "convencionais", com a projecção espacial e amplitude próprias de música para filmes. Nesse sentido, algumas das peças abeiram-se de registo pastiche do som big band do orquestral Goodbye Swingtime, de 2003, mas sem presenças vocais. Necessariamente menos monolítico do que um disco pensado integralmente no mesmo espaço temporal, o tomo merece uma escuta que, não sendo irresistivelmente sedutora para os admiradores do som habitual de Herbert, cuidará de melhor divulgar outros vectores da sua verve. Coisa para curiosos, portanto.
Posto de escuta e-Card do disco
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Shitdisco - Kingdom of Fear
O andamento new rave é uma das modas do ano no Reino Unido. Depois dos Klaxons se terem apresentado ao mundo como figuras de proa dessa vaga de sons, reunindo o histórico das propensões recentes (e não tão recentes, afinal o punk também mora aqui...) do rock britânico e um curioso flirt com as ondas dançantes dos 80's ou com qualquer outra colagem descomprometida da electrónica, nada mais natural do que a chegada de outros filiados da mesma corrente criativa. Os escoceses Shitdisco são os senhores que se seguem e, abrigados na pretensa "novidade" energética do new rave - vistas bem as coisas, o formato é apenas uma derivação fogosa da matriz dance-punk - apostam na construção de peças ligeiras, portanto sem sombra de pretensiosismos desnecessários, e cuja valência mais explícita (e argumento identitário) é o contágio imediato das composições. Esteticamente coerentes e bem estruturadas na sua simplicidade (não confundir com escassez de recursos), as canções evitam inteligentemente os clichés e, mais do que isso, à custa de refrões e linhas melódicas impacientes e delirantes (nisso eles vão mais longe do que os Klaxons e abeiram-se dos conterrâneos Franz Ferdinand), espicaçam o mais pudico dos corpos, expondo-o ao desleixado deslumbramento de Kingdom of Fear. Efeito secundário inescapável: agitação dos ossos numa qualquer pista de dança.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Kings of Leon - Because of the Times
Tendo sido um dos mais credíveis protagonistas da safra de noviças tendências revivalistas do rock contemporâneo, inclusivamente superando a sempre crítica incumbência do segundo álbum com a distinção conhecida, há dois anos, o colectivo Kings of Leon chega ao terceiro álbum com a segurança do caminho percorrido e, sobretudo, com o estatuto de setentista orgulhoso. De resto, essa predisposição retro e a assinatura declaradamente sulista destes americanos é mantida em Because of the Times, afinal são esses os combustíveis essenciais da produção dos Kings, embora se sinta que, não obstante a diversidade estética do disco, grande parte das canções roçam uma inesperada banalidade. Não é que os irmãos (e primo) Followill não empreguem os postulados do costume, nem se trata de desconsiderar os préstimos recreativos destas composições. Todavia, ao invés de aproveitarem a evolução natural do som de garagem que os lançou, como tão bem arriscam nas últimas quatro faixas do álbum, os Kings aparecem na pele de artífices de rock de arena, alargando o espectro sonoro a uma problemática (porque subliminarmente castradora da tal identidade garagista e independente) sofisticação de estúdio e a uma escrita supostamente mais "cuidada", sem as suculentas "impurezas" de outros registos. Mais retórico do que prático, esse exercício de depuração não acrescenta inspiração às composições (o single "On Call" é exemplo paradigmático), resultando num corpo de canções de entretenimento garantido (não se esperava outra coisa dos Kings) mas menos valioso do que era suposto esperar.
quarta-feira, 11 de abril de 2007
CocoRosie - The Adventures of Ghosthorse and Stillborn
Ao terceiro disco das manas Casady, não é já surpresa que a música delas nos reporte para o recente orbe sonoro da weird folk, novel movimento da música americana consagrado a sons amigos da exploração e do experimentalismo e que, bebendo das correntes decanas da folk, as (re)formatam com a modernidade do ruído e de vocalizações e instrumentalizações menos comuns. Nesse particular, Bianca e Sierra têm sido reconhecidas como protagonistas importantes dessa evolução desde a improvável popularidade da "impolidez" acústica de La Maison de Mon Rêve (2004), álbum de estreia onde mostravam uma oportuníssima combinação entre o intimismo da dream pop reduzida à essência minimalista e a construção de ambientes de puerilidade amadurecida (essa aparente antítese é encómio recorrente de Björk), com contrastes emocionais algures entre o sonho de criança e o plácido voyeurismo sexual. No todo, The Adventures of Ghosthorse and Stillborn supre as insuficiências da escrita do laboratorial Noah's Ark, afirmando-se como sequência lógica do crescimento de ideias que aí se adivinhava e abrindo-se, sem beliscar minimamente as substâncias nucleares do conceito, a um namoro antigo da dupla: o hip-hop. A congruência dessa fusão (nem sempre declarada abertamente nas faixas), é, de resto, um precioso indutor da coesão do disco e razão extra para (re)descobrir o universo de ilusão das Casady.
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Bright Eyes - Cassadaga
Depois de assentados os arraiais da desmesurada vaga de consagração geral subsequente à dupla edição do acústico I’m Wide Awake It’s Morning e do sintético Digital Ash in a Digital Urn, já lá vão dois anos, Conor Oberst e os seus Bright Eyes estão de volta. E se aquele par de discos, a despeito dos reconhecidos atributos, parecia revelar sinais de alguma irresolução estética da banda face a dois caminhos alternativos, Cassadaga dissipa dúvidas (se é que realmente existiram) e é um claro enunciado de canções folk-country, na linha do que previamente anunciara o EP Four Winds. A somar aos eventos costumeiros da música de Oberst, revelam-se vozes de suporte, arranjos de cordas e alguns tricotados de guitarra eléctrica, indícios de um cuidado acrescido no detalhe e, em simultâneo, de uma perspectivação menos intimista da composição. Essa "abertura" na produção tem repercussões díspares nas canções e, contrariando os paradigmas de Oberst, são precisamente os trechos mais introvertidos a perder força, em favor dos instantes mais volumosos. Em todo caso, não obstante a proporção correctíssima das faixas (mesmo nos momentos de medidas largas) e a sua passada firme, algo no disco sugere um subliminar amolecimento da verve de Oberst que nem os novos artifícios de estúdio chegam a disfarçar. No lugar da ousadia folk que até chegou a render-lhe o pomposo cognome de "novo Dylan", surge agora um simpático compromisso orquestral que, mesmo conseguindo alguns instantes de mérito, deixa a sensação de constranger ideias a uma maturação forçada e antes do prazo.
Pantha du Prince - This Bliss
Trazido para o mediatismo mais expressivo no ano transacto, por ocasião do lançamento de remixes pontuais de Depeche Mode e pelo 12" Lichten/Walden, o germânico Hendrik Weber apresenta agora o seu segundo trabalho sob o pseudónimo Pantha du Prince. A órbita sonora de This Bliss não diverge substancialmente das referências anteriores do músico, mantendo o investimento em formas minimalistas da música techno e, sobretudo, apostando na sondagem das possibilidades melódicas (e, por derivação em cascata, das multiplicações emocionais) de construções em crescendo. Esse é o denominador estrutural comum do disco, também a sua garantia de integridade formal (não confundir com formulismo), assente numa matriz técnica impregnada de efeitos delay e linhas de baixo sintético, afinal os traços identitários de Weber. Depois, a impressão labiríntica das composições, gloriosamente ambivalente nas valências de causa sedutora e factor de dúvida sistemática, alimenta os jogos emocionais de melodias não lineares, consequentes na incerteza e resolutas a circunscrever-se numa lógica de retorno ao ponto de partida. Enfim, Weber assume-se como especulador de corpo inteiro, cultor de uma ciência espacial e própria (que não deixa, por isso, de ser "emprestada"), num vaso de sons onde cabem, com dosagens imprecisas e repetições, a sci-fi de Brian Eno, as cores electro dos OMD e as substâncias dançantes de Villalobos. Coisa suficiente para animar a curiosidade dos mais pintados.
sábado, 7 de abril de 2007
Amon Tobin - Foley Room
Um foley room é, no jargão cinematográfico, uma sala destinada à edição de efeitos sonoros para posterior incorporação em conteúdos vídeo. Inspirado nesse conceito, o sapiente DJ Amon Tobin, respeitado cultor das técnicas de manipulação de samples, promove, no quinto álbum editado pela Ninja Tune, uma mudança nas causas primárias da sua música. Com efeito, segundo a ficha técnica de Foley Room, ao invés da tradicional manipulação de sons colhidos em vinis antigos, o músico optou pela recolha de sons reais, através do recurso a microfones de alta definição. Não é o mais típico exercício de música concreta - essa não é a causa primária de Tobin - até porque as substâncias originais ficam "disfarçadas" num hábil jogo de transfiguração digital que, em último caso, lhes dá o talhe certo para construções drum'n'bass e de ambientes sinistros. Úberes em preciosos detalhes e assentes num método muito eficaz de sobreposição de sons, as composições demonstram um notável sentido de organização e domínio da interacção de diversos estímulos sonoros com o espaço (e o silêncio). Além disso, a meticulosa exploração dos paradigmas clássicos da acústica cinematográfica (universo caro a Tobin), ao encontro da consistência rítmica que faltou noutros trabalhos, faz de Foley Room um dos mais íntegros exercícios do percurso do produtor e uma experiência auditiva que, mesmo não sendo uma obra de originalidade ímpar, se torna verdadeiramente compensadora.
quarta-feira, 4 de abril de 2007
Maxïmo Park - Our Earthly Pleasures
Depois do colapso criativo do segundo disco dos Bloc Party ou dos Kaiser Chiefs, ambos deste ano, fez-se luz sobre o potencial intrínseco à nova vaga do rock britânico. A verdade é que, uma vez esgotado o efeito novidade dos primeiros capítulos de uma série de bandas promissoras, assim precipitadas para um estrelato prematuro (e talvez assimétrico dos seus méritos artísticos), se instalou o desencanto geral face à banalidade dos sempre problemáticos segundos discos. Os Maxïmo Park, porventura os menos mediatizados sujeitos da onda de excitação inicial, não escapam a esse fado decrescente, embora segurem razoavelmente a eficácia na construção de canções de craveira pop demonstrada no debute. É esse, de resto, o lema dominante de Our Earthly Pleasures, com um punhado de trechos afinados pelo sentido de urgência herdado das referências punk da banda e alguns instantes orelhudos de pura pop instantânea, fórmula com resultados muito proveitosos no single de avanço "Our Velocity". Como seria expectável, a notória modéstia estrutural do disco não é estorvo para soluções de colagem rápida ao tímpano. E quem mais não procura do que esse imediatismo (ou sensacionalismo?) encontra nos Maxïmo Park um dos fornecedores mais aptos do momento.
terça-feira, 3 de abril de 2007
Trans Am - Sex Change
Com mais de uma década consagrada ao apuro de uma fórmula investigadora das simetrias possíveis entre a electrónica (como esteio inspirador) e os fraseados eléctricos de guitarra, de que, de resto, foram praticamente pioneiros, os Trans Am dão mostras, no mais recente opus, de uma inquietante estagnação. Não é apenas o facto de eles insistirem em não reciclar a malha estrutural das composições, a esse nível já se percebeu que não são prováveis grandes transformações, mas também o esbanjamento (com breves excepções) de um impressionante potencial criativo. De resto, Sex Change é, uma vez mais, prova cabal desse virtuosismo conceptual (e da curta destreza da banda para domar essas energias num método mais proveitoso), ao correr, com idêntico mérito mas sem deslumbre, referências sonoras de origens múltiplas, do funk à música negra, da disco ao metal progressivo de peso. Ainda assim, se visto como mera solução seguidista do corpo teórico do costume, o álbum acaba por revelar-se menos incipiente, o que é o mesmo que dizer que, confinando a exigência apenas ao universo Trans Am e esquecendo outras tendências, Sex Change se mostra testemunho efectivo de fidelidade a um compromisso estético.
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Bebel Gilberto - Momento
Apesar de trazer no sangue um traço genealógico a que é impossível ficar-se indiferente, ou não fosse ela descendente dos lendários João Gilberto e Miúcha, Bebel Gilberto consegue, ao terceiro álbum, distanciar-se desse honroso ónus do apelido. Com um percurso marcado pela sobriedade e, sobretudo, por uma coerência estética assinalável, a cantora foi, passo a passo, fundando um espaço sonoro próprio e emancipado das referências familiares, sendo Momento a expressão amadurecida de uma das mais ilustres intérpretes das novas tendências da música brasileira. Sem perder de vista as alusões cariocas, afinal elas são a matéria essencial das canções (mesmo na belíssima revisão de "Night and Day", de Cole Porter), o disco demonstra o cosmopolitismo natural de uma cidadã nova-iorquina e adepta de um eclectismo cruzador de referências dos dois hemisférios da América e de escolas musicais diversas, devidamente ilustradas pela participação nas gravações do colectivo brasileiro Orquestra Imperial ou dos americanos Brazilian Girls. Tecnicamente próximo do primor, só parece faltar ao álbum uma dose maior de arrojo na composição, algo que melhor sirva a voz de Bebel e a (suposta) corrente de boas ideias de que, neste trabalho, apenas se vislumbram breves sugestões.
Adult. - Why Bother?
Com quatro discos no bornal, a dupla Nicolas Kuperus e Adam Lee Miller persegue um ideário de alguma perversão conceptual. Com efeito, a proposta é essencialmente electrónica, no entanto é servida em modulações negras (no sentido mais abtracto e "desconstrutivista" do adjectivo), com um quinhão relevante de psicadelismo (na feição mais convencional) e a irreverência própria das escolas sonoras pós-punk. De resto, este Why Bother? acentua essa tendência desviante do som da dupla, em resposta à formatação da electrónica para regime de dança, aqui usada como mera referência colateral e subordinada a uma estética onde prevalece a linguagem sintética (a ajudar, o projecto deixou de contar com a guitarra de Samuel Consiglio), é certo, mas onde o entendimento melódico é provocatório e pouco amistoso de tímpanos certinhos. Mérito maior do álbum, além de um muito razoável engenho na composição e do discernimento com que foge aos lugares comuns próprios deste género, é a credibilidade do enlace entre a frieza crua e maquinal do tecido sintético, a desafiar os limites da paranóia, e o discurso verdadeiramente riot dos vocais de Kuperus. Coisa para punks com o laptop debaixo do braço.
domingo, 1 de abril de 2007
The Besnard Lakes - The Besnard Lakes Are the Dark Horse
A mediatização do fenómeno Arcade Fire trouxe forçosamente consigo um acréscimo de curiosidade pela música de Montreal, não tanto motivada por aquele fetichismo geográfico que muitas vezes toma de assalto o interesse dos melómanos, mas antes pelo natural e óbvio desejo de descoberta de outros descendentes da mesma corrente criativa. Os The Besnard Lakes, ao segundo álbum do seu trajecto, assumem esse protagonismo e mostram-nos uma colecção de canções de pop larga e minuciosa na exploração de atributos de pormenor. Sobra a impressão de que as oito peças do alinhamento de The Besnard Lakes Are the Dark Horse foram construídas fazendo uso de alguma familiaridade com as harmonias vocais dos Beach Boys (ou de Brian Wilson), mesmo que repassadas sob o efeito de ansiolíticos, e com um tecido instrumental rico em camadas de guitarra (foi você que pediu qualquer coisinha de My Bloody Valentine?) e uma porção infalível (e contida) de psicadelismo. Tudo devidamente arrumado numa tocante atmosfera de redenção sentimental. Como se uma qualquer calamidade iminente, não tendo acontecido, se insinuasse irreversivelmente na mente através do alento emocional da música. E essa repercussão é, afinal, uma premissa dos grandes discos.
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