segunda-feira, 30 de abril de 2007

Blonde Redhead - 23




Depois de Misery is a Butterfly, sexto álbum dos Blonde Redhead discretamente publicado há cerca de três anos pela mão da 4AD, já se previa que o trio viesse, em futuros lançamentos, a fortalecer a (mais ou menos) assumida viragem dream pop do seu som, afastando-se ainda mais dos preceitos da gestação que, muitas vezes, precipitaram alguns cotejos com a fase púbere dos Sonic Youth. Bastante apartado do temperamento cáustico e experimental desses tempos, 23 é sobretudo um enredo harmónico construído em volta da voz melico-doce da nipónica Kazu Makino - ela divide o trio com os gémeos italianos Amadeo e Simone Pace - e o enlace voz-matéria instrumental mostra um certo refinamento pop, não necessariamente sinónimo de aligeiramento estético, antes repercussão inevitável do namoro (mais ou menos intuitivo) com o formato shoegaze. Tal acidente formal - desfecho natural do rumo evolutivo do grupo - nem sequer fecha as portas a aparições pontuais de substâncias electrónicas, mas cede (bem) a prioridade às causas de arte emocional das guitarras. Pena é que sobre a impressão de que, não obstante a beleza desprendida de algumas destas composições e os méritos de homogeneidade do álbum (também produtores de uma importuna sensação de omissão de contrastes), os Blonde Redhead pareçam reféns do polimento imoderado do seu som, dando mostras de maior transigência com o polimento de estúdio ou de uma escrita mais cortês e conformista, em prejuízo manifesto da mágica personalidade fracturante que tão bem desvendavam em Melody of a Certain Damaged Lemons (2000). Ainda assim, há em 23 pretextos mais do que suficientes para dar crédito aos Blonde Redhead e, quiçá, carimbar-lhes a passagem para outros palcos.

Posto de escuta 23SilentlyPublisher

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