Depois de alguns anos de estrada, o quarteto minhoto Smartini decidiu-se pelo debute no mercado discográfico, aventurando-se numa edição própria. Logo nas primeiras audições, mesmo sem a cábula do press release de Sugar Train, percebe-se que a música deles busca o mesmo fôlego que, duas décadas atrás, fez dos Sonic Youth uma espécie de pioneiros na especulação rock do ruído e na experimentação vanguardista com a dissonância melódica, a desarmonia induzida e o feedback. Tais ingredientes fazem também a massa sónica dos Smartini, com o imperativo das guitarras a fazer-se notar, qual cicerone estruturalmente hesitante entre o estampido e a quietude. Dessa irresolução formal da guitarra, afinal a fonte para as descontinuidades preenchidas inteligentemente pelo espargimento do feedback e demais matérias de acaso sónico, com o patrocínio conveniente do baixo e das percussões, nasce um fluido sonoro organicamente rico, é certo, com alguns laivos (mais ou menos envergonhados) de progressismo, mas que, a despeito da competência técnica das composições, não descola peremptoriamente das referências originais. E isso torna-se uma inferência subliminarmente castradora do notório engenho dos Smartini a projectar (e desvendar) ambientes de sons ensimesmados, mas sem sombra de estagnação e, sobretudo, com a ginástica emocional suficiente para crescerem na mente. Assim os Smartini tentem a emancipação que lhes fervilha nas veias - e que, reconheça-se, seria sempre difícil no primeiro disco - e encontrarão em si mesmos algumas das mais sumarentas assimetrias do rock português contemporâneo. A promessa ficou, esperemos por novos capítulos.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Smartini - Sugar Train
Depois de alguns anos de estrada, o quarteto minhoto Smartini decidiu-se pelo debute no mercado discográfico, aventurando-se numa edição própria. Logo nas primeiras audições, mesmo sem a cábula do press release de Sugar Train, percebe-se que a música deles busca o mesmo fôlego que, duas décadas atrás, fez dos Sonic Youth uma espécie de pioneiros na especulação rock do ruído e na experimentação vanguardista com a dissonância melódica, a desarmonia induzida e o feedback. Tais ingredientes fazem também a massa sónica dos Smartini, com o imperativo das guitarras a fazer-se notar, qual cicerone estruturalmente hesitante entre o estampido e a quietude. Dessa irresolução formal da guitarra, afinal a fonte para as descontinuidades preenchidas inteligentemente pelo espargimento do feedback e demais matérias de acaso sónico, com o patrocínio conveniente do baixo e das percussões, nasce um fluido sonoro organicamente rico, é certo, com alguns laivos (mais ou menos envergonhados) de progressismo, mas que, a despeito da competência técnica das composições, não descola peremptoriamente das referências originais. E isso torna-se uma inferência subliminarmente castradora do notório engenho dos Smartini a projectar (e desvendar) ambientes de sons ensimesmados, mas sem sombra de estagnação e, sobretudo, com a ginástica emocional suficiente para crescerem na mente. Assim os Smartini tentem a emancipação que lhes fervilha nas veias - e que, reconheça-se, seria sempre difícil no primeiro disco - e encontrarão em si mesmos algumas das mais sumarentas assimetrias do rock português contemporâneo. A promessa ficou, esperemos por novos capítulos.
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