O duo berlinense Tarwater é um caso curioso de construção estética. A electrónica é, desde as primícias do seu percurso, a prerrogativa dominante das estruturas melódicas, muitas vezes apenas instrumentais mas guardando um vínculo distante (quase conjectural) com o formato canção. Todavia, se os primeiros passos de Bernd Jestram e Ronald Lippok (também envolvido no pós-rock dos To Rococo Rot) mostravam uma certa primazia das formas descontínuas de sondar o lado negro do dub e, ao mesmo tempo, opunham bandos sonoros (às vezes, formalmente inconciliáveis) de escolas diversas da electrónica, assim clivando diferenças sistémicas para a mais convencional das matrizes de composição, os trabalhos mais recentes desvendam a harmonização dessas premissas com aquilo que pode chamar-se de fôlego pop. O estúdio (e a preciosa alquimia que aí se produz) continua a ser um condutor incontornável, ou não dependessem estas composições de uma cuidada edição de sons e, sobretudo, da identidade orgânica dos elementos de síntese, mas é sem reservas que a dupla berlinense assume definitivamente o que se adivinhara no álbum anterior, acomodando-se a num registo mais próximo da matriz verso-refrão tradicional. No fundo, percebe-se que essa predisposição para reduzir a ambiguidade formal das composições, não lhes subtraiu o vigor hipnótico ou a excelência sónica do costume - com aquela elegância que faz lembrar os Velvet Underground, como que renascidos na cena electrónica independente alemã - e isso é uma qualidade deste Spider Smile que, vendo emendadas algumas deficiências menores, poderá render uma obra maior no futuro.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Tarwater - Spider Smile
O duo berlinense Tarwater é um caso curioso de construção estética. A electrónica é, desde as primícias do seu percurso, a prerrogativa dominante das estruturas melódicas, muitas vezes apenas instrumentais mas guardando um vínculo distante (quase conjectural) com o formato canção. Todavia, se os primeiros passos de Bernd Jestram e Ronald Lippok (também envolvido no pós-rock dos To Rococo Rot) mostravam uma certa primazia das formas descontínuas de sondar o lado negro do dub e, ao mesmo tempo, opunham bandos sonoros (às vezes, formalmente inconciliáveis) de escolas diversas da electrónica, assim clivando diferenças sistémicas para a mais convencional das matrizes de composição, os trabalhos mais recentes desvendam a harmonização dessas premissas com aquilo que pode chamar-se de fôlego pop. O estúdio (e a preciosa alquimia que aí se produz) continua a ser um condutor incontornável, ou não dependessem estas composições de uma cuidada edição de sons e, sobretudo, da identidade orgânica dos elementos de síntese, mas é sem reservas que a dupla berlinense assume definitivamente o que se adivinhara no álbum anterior, acomodando-se a num registo mais próximo da matriz verso-refrão tradicional. No fundo, percebe-se que essa predisposição para reduzir a ambiguidade formal das composições, não lhes subtraiu o vigor hipnótico ou a excelência sónica do costume - com aquela elegância que faz lembrar os Velvet Underground, como que renascidos na cena electrónica independente alemã - e isso é uma qualidade deste Spider Smile que, vendo emendadas algumas deficiências menores, poderá render uma obra maior no futuro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário