Apreciação final: 8/10
Edição: Fevereiro 2005
Género: Pop Alternativo/Slowcore
Edição: Fevereiro 2005
Género: Pop Alternativo/Slowcore
O segundo trabalho dos Antony & The Johnsons é um disco profundo, daqueles que se entranham sem pedir licença, dos que nos roubam ao afã existencial e nos instigam a suster a corrente irreversível da vida. Apetece ficar imóvel sob o jugo sublimado da voz andrógina e trémula de Antony e do capricho galhardo da sua escrita. I Am A Bird Now é feito de canções encantadoras, também inquietantes, assentes numa matriz de arranjos harmoniosos de piano e voz que destaca a sinceridade agridoce da proposta. A enriquecer a casta deste registo, Rufus Wainwright, Boy George, Devendra Banhart e Lou Reed dão uma ajuda respeitosa.
I Am A Bird Now é um tomo de beleza desconcertante e irresistível, despido de artifícios - como a fotografia de Peter Hujar a retratar a transexual Candy Darling (1974) na cama que seria o seu leito de morte; a voz de Antony leva-nos pela mão em divagações românticas sobre amores impossíveis, purgatórios negros, a ambiguidade dos géneros e o medo da solidão. O disco é uma majestosa epifânia ao expressionismo de uma voz com emoção transcendental e a simplicidade de uma utopia maravilhosa de criança (lembram-se de Joanna Newsom?). I Am A Bird Now é belo, calmoso e quente na forma mágica de uma fantasia de que não se desperta de moto próprio. Registo imperdível, I Am A Bird Now é um daqueles discos que se pensavam extintos.