Tendo conhecido um arranque algo irresoluto (começou a tocar e compor a convite de amigos), com edições avulsas e um pseudónimo (Rocky Dennis) pelo meio, o sueco Jens Lekman não parecia voluntariamente destinado ao estrelato no meio musical. Ainda assim, as primeiras impressões do quinteto de EP's que antecederam o primeiro registo a solo (depois confirmadas em When I Said I Wanted to Be Your Dog, de 2004), deixavam já indícios de um artesão intuitivamente instruído em vários planos de uma lógica pop madura (e instrumentalmente pujante, dir-se-ia mesmo "orquestral") e longe dos vícios de simplismo estrutural tão comuns no género. O coro de encómios que se seguiu à edição do álbum - muitas vezes colocando o sueco num feliz entroncamento estético entre Rufus Wainwright, Scott Walker (dos primórdios), os Magnetic Fields e Morrissey - não foi, portanto, mais do que o reconhecimento de um compositor com pedigree. Neste segundo tomo com material original - a colecção Oh You're So Silent Jens, de 2005, era uma mera recolha de material anterior ao álbum de estreia - Lekman envolve melancolias numa embalagem sonora mais luminosa, num claro sinal do estado de maturação a que chegou a sua escrita. É notório que, mais do que apresentar apenas a sequência presumível da arte intimista do primeiro registo, o cantautor sueco testa aqui outras ambições, mormente através da injecção de charme e fulgor que os arranjos emprestam às melodias. Depois, Night Falls Over Kortedala encerra um mérito raro: da pomposa mescla de estilos, ao invés de qualquer ressalto incongruente, sobra afinal a sensação de uma escrita genuinamente coerente e dinâmica. Sem euforias desmedidas ou cedências ao facilitismo, Lekman sublinha as suas próprias convicções (aqui e ali, com a ajuda da conterrânea Sarah Assbring, aka El Perro Del Mar) e põe à prova um ideário de música pop que, além de se revelar tremendamente cativante, sai aprovado com a distinção de um belo disco.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Jens Lekman - Night Falls Over Kortedala
Tendo conhecido um arranque algo irresoluto (começou a tocar e compor a convite de amigos), com edições avulsas e um pseudónimo (Rocky Dennis) pelo meio, o sueco Jens Lekman não parecia voluntariamente destinado ao estrelato no meio musical. Ainda assim, as primeiras impressões do quinteto de EP's que antecederam o primeiro registo a solo (depois confirmadas em When I Said I Wanted to Be Your Dog, de 2004), deixavam já indícios de um artesão intuitivamente instruído em vários planos de uma lógica pop madura (e instrumentalmente pujante, dir-se-ia mesmo "orquestral") e longe dos vícios de simplismo estrutural tão comuns no género. O coro de encómios que se seguiu à edição do álbum - muitas vezes colocando o sueco num feliz entroncamento estético entre Rufus Wainwright, Scott Walker (dos primórdios), os Magnetic Fields e Morrissey - não foi, portanto, mais do que o reconhecimento de um compositor com pedigree. Neste segundo tomo com material original - a colecção Oh You're So Silent Jens, de 2005, era uma mera recolha de material anterior ao álbum de estreia - Lekman envolve melancolias numa embalagem sonora mais luminosa, num claro sinal do estado de maturação a que chegou a sua escrita. É notório que, mais do que apresentar apenas a sequência presumível da arte intimista do primeiro registo, o cantautor sueco testa aqui outras ambições, mormente através da injecção de charme e fulgor que os arranjos emprestam às melodias. Depois, Night Falls Over Kortedala encerra um mérito raro: da pomposa mescla de estilos, ao invés de qualquer ressalto incongruente, sobra afinal a sensação de uma escrita genuinamente coerente e dinâmica. Sem euforias desmedidas ou cedências ao facilitismo, Lekman sublinha as suas próprias convicções (aqui e ali, com a ajuda da conterrânea Sarah Assbring, aka El Perro Del Mar) e põe à prova um ideário de música pop que, além de se revelar tremendamente cativante, sai aprovado com a distinção de um belo disco.
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