Por esta altura, não é crível que os manos Friedberger sejam ainda surpresa para qualquer melómano atento a estas coisas dos sons mais alternativos. Afinal, eles são protagonistas de primeira linha da moderna música americana, em razão da generosa discografia que vêm erguendo em volta de um conceito musical pródigo na mescla de estilos. Apesar da indisfarçável sobreposição do rock, com interessantíssimas insinuações importadas das escalas progressivas (com qualquer coisa do kraut), a música de Matthew e Eleanor vale também pelo apurado sentido de arrumação das diversas camadas do órgão, do piano, da percussão, da guitarra e, mais notoriamente, das linhas melódicas verbalizadas por Eleanor. São, de resto, as expressões vocais que fazem o contraponto "sensato" à aparente esquizofrenia do turbilhão de instrumentais que desfilam por trás, coisa particularmente evidente neste Widow City. Os arranjos somam caos e projecção, desmontando qualquer convenção do que deve ser uma canção pop, seja por força das arritmias que aparecem no instante menos esperado, seja pela parafernália de ingredientes que se juntam à charanga, aqui e ali. Bizarria à prova de banalidade, portanto. Ainda assim, não sendo disco de consumo imediato - dificilmente sairá música superficial da sociedade destes irmãos - Widow City encerra algumas das composições mais acessíveis e enérgicas do cancioneiro Fiery Furnaces. E isso não quer dizer que a dinâmica experimentalista não more aqui. A charada é inteira e parece rebuscar os vigores de início de carreira. O que, no caso dos Friedberger, depois de um ou outro episódio mais desfocado, é um óptimo desígnio.
domingo, 14 de outubro de 2007
The Fiery Furnaces - Widow City
Por esta altura, não é crível que os manos Friedberger sejam ainda surpresa para qualquer melómano atento a estas coisas dos sons mais alternativos. Afinal, eles são protagonistas de primeira linha da moderna música americana, em razão da generosa discografia que vêm erguendo em volta de um conceito musical pródigo na mescla de estilos. Apesar da indisfarçável sobreposição do rock, com interessantíssimas insinuações importadas das escalas progressivas (com qualquer coisa do kraut), a música de Matthew e Eleanor vale também pelo apurado sentido de arrumação das diversas camadas do órgão, do piano, da percussão, da guitarra e, mais notoriamente, das linhas melódicas verbalizadas por Eleanor. São, de resto, as expressões vocais que fazem o contraponto "sensato" à aparente esquizofrenia do turbilhão de instrumentais que desfilam por trás, coisa particularmente evidente neste Widow City. Os arranjos somam caos e projecção, desmontando qualquer convenção do que deve ser uma canção pop, seja por força das arritmias que aparecem no instante menos esperado, seja pela parafernália de ingredientes que se juntam à charanga, aqui e ali. Bizarria à prova de banalidade, portanto. Ainda assim, não sendo disco de consumo imediato - dificilmente sairá música superficial da sociedade destes irmãos - Widow City encerra algumas das composições mais acessíveis e enérgicas do cancioneiro Fiery Furnaces. E isso não quer dizer que a dinâmica experimentalista não more aqui. A charada é inteira e parece rebuscar os vigores de início de carreira. O que, no caso dos Friedberger, depois de um ou outro episódio mais desfocado, é um óptimo desígnio.
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