Com uma identidade sonora erguida, em pezinhos de lã, em volta das várias famílias linguísticas da pop - num percurso que, aqui e ali, tentou incursões por formas de expressão alternativas - os Clã chegam ao quinto registo de estúdio como a mais firme força do presente panorama pop nacional. Esse amadurecimento gradual de processos teve zénite generalizadamente reconhecido em Rosa Carne (2004), obra magna na consistente discografia da banda e testemunho inequívoco de duas realidades inseparáveis de Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves e seus pares: a rara sensibilidade para convocar estilos melódicos variados e, sobretudo, a percepção de quão importante é juntar a essas melodias o manejo competente da língua portuguesa. Nesse particular, os Clã vêm contando com poemas de gente cuja caneta vale ouro, como Carlos Tê, Arnaldo Antunes ou Sérgio Godinho.
Cintura traz o ónus de ser o capítulo seguinte de um álbum tão completo quanto Rosa Carne e, se comparado com este, desvenda fórmulas e estruturas mais leves (ou menos amplas), numa orgânica que, nunca prescindindo da excelência dos arranjos (afinal, esse é um dos traços característicos dos Clã), se revela mais aberta e imediata. É aí que Cintura se mostra luminoso, é certo, mas acaba por resvalar, mormente na segunda metade do alinhamento (depois de um promissor quarteto de abertura com "Vamos Esta Noite", "Adeus Amor (Bye, Bye)", "Tira e Teima" e "Fábrica de Amores"), para uma mediania que os arranjos não chegam a disfarçar. É que, com Rosa Carne, eles habituaram-nos a esperar mais.
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