terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sean Riley & The Slowriders - Farewell

7/10
Lux/NorteSul
2007
www.myspace.com/
seanrileymusic



Depois de um longo período em que imperou uma lógica quase caciquista na música portuguesa (escondida atrás de uma pretensa defesa da língua pátria) e em que os regentes editoriais torciam o nariz a quase tudo o que fosse cantado em inglês, os últimos anos vêm comprovando a inutilidade dessa obstinação nacionalista e assistimos a um furor de lançamentos a que não estávamos habituados e que, paulatinamente, inundou o mercado nacional de projectos musicais não cantados em português. No meio disto tudo, porque parece ter-se passado do oito aos oitenta (coisa típica da nossa patológica condição de adeptos de extremos), importará separar o trigo do joio no exagero de lançamentos desta vaga moderna da música portuguesa. Nesse particular, a cidade de Coimbra - de onde vêm estes Sean Riley & The Slowriders - tem sido berço de alguns dos acasos mais felizes, como os Bunnyranch, os Wray Gunn (e o descendente Legendary Tiger Man, de Paulo Furtado) ou os d3ö. Chega-nos agora este Farewell, primeira aventura discográfica de um trio de músicos que, tendo surpreendido públicos locais, promete não passar despercebida a outras audiências.

Os argumentos musicais de Farewell são uma mistura de tempos e cosmos, ora buscam substratos da América profunda dos cantautores, da folk radicada nas heranças incontornáveis de Tim Buckley ou Leonard Cohen, ora se rendem às essências mais recentes dos efluentes do património blues (leia-se Mark Lanegan ou Howe Gelb) e, mais tangencialmente, à weird folk de Devendra Banhart. São, sobretudo, canções sem presunção e subjacentes à sobriedade acústica que melhor lhes convém, valendo-se das superlativas melodias da voz enleante de Sean Riley (o rapaz canta com as certezas de um veterano!) e do belíssimo acompanhamento instrumental de Bruno Simões (baixo e percussões) e do ex-Bunnyranch Filipe Costa (teclas, harmónica e bateria). Farewell pode não ter canções para tirar o mundo dos eixos, provavelmente nem chegará a ser motivo para sacudir as consciências (ou mover coordenadas) do definhado panorama do songwriting em Portugal mas é seguro que desvenda uma das mais interessantes revelações lusas dos últimos tempos. E isso, por si só, convida a uma visita.

Posto de escuta Sítio da MúsicaOnline

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