Pode não parecer mas a verdade é que estes senhores berlinenses já andam nisto há quase três décadas. Eles foram actores principais no advento da música industrial na Europa, não apenas pelo simbolismo artístico-performativo dos seus espectáculos - pormenor que rapidamente os distinguiu dos seus pares geracionais - mas, sobretudo, pelos condicionalismos estruturais da música que vêm subscrevendo desde então, o que lhes permitiu pôr de pé uma discografia de ímpar consistência. A evocação da teatralidade da música, o encanto pelo experimentalismo, a vocação puramente artística, as afinidades com o improviso como berço de ideias e uma predisposição irónica para desmontar qualquer preconceito estético fizeram dos Einstürzende Neubauten um dos ensembles com maior culto nas esferas alternativas europeias e, simultaneamente, distinguiram Blixa Bargeld e compinchas como ícones da sobrevivência num habitat rock bem longe dos canais dominantes do mainstream. Banda de culto, é o epíteto que costuma colar-se a estas gentes.
O facto de Alles Wieder Offen ("novamente tudo aberto") ter sido inteiramente financiado por seguidores da banda através de uma colecta de fundos lançada no sítio oficial do grupo teutónico é sintomático do desencanto dos EN face ao mercado editorial e da importância dos novos canais de comunicação para fazer chegar aos fãs a música menos divulgada nos grandes mercados (vide última edição dos Radiohead). De resto, este álbum é o corolário de uma extensa série de gravações que a banda dedicou em exclusivo aos adeptos registados no seu sítio, reforçando uma proximidade entre músicos/ouvintes que nenhum outro formato editorial permite. Nesse particular, a banda "abriu" o estúdio aos fãs, disponibilizando imagens de webcam das gravações e deu-se à interactividade com os internautas em conversações online. Visto por este prisma, o novo opus dos Einstürzende Neubauten não podia ter melhor baptismo; trata-se, de facto, de um segundo preâmbulo da banda, especialmente voltada para si mesma e para a convergência com as massas críticas de suporte. E torna-se evidente neste Alles Wieder Offen, do ponto de vista da definição técnica do disco, uma flexibilização da matriz sonora das composições (naquilo que pode ser visto como um reflexo natural das inúmeras horas de sessões de improvisação que antecederam a gravação do disco) e um desprendimento temático, em contraponto com a rigidez (técnica e conceptual) de Perpetuum Mobile, editado pela Mute há três anos. No fundo, os Einstürzende Neubauten não tentam revolucionar o seu próprio cosmos - seria difícil fazê-lo de forma credível ao fim de tanto tempo - tampouco de o desmistificar dos seus enigmas; aquilo que Alles Wieder Offen nos mostra é uma banda com uma incrível capacidade regenerativa e que, mesmo prescindindo de parte importante da crua sedição de há uns anos (crescimento consciente, dir-se-ia...), soa tão cativante e catártica como sempre. Um regresso de mão cheia.
Posto de escuta Sítio Oficial do Disco
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