Tendo sido, desde as primícias, definido objectivamente pelos seus integrantes como um conceito artístico à procura de explorar as múltiplas potencialidades multimédia e demais dimensões "visuais" do produto musical e suas convergências com outras artes digitais, o trio berlinense To Rococo Rot acabou por assumir-se como um dos vectores pioneiros do experimentalismo electrónico contemporâneo na Europa. Pegando em derivações mais ou menos transparentes da face mais "robotizada" do krautrock clássico e em inúmeros estímulos do pós-rock e das escolas menos formais da música electrónica e moldando-os numa filosofia devota da abstracção transgressora de barreiras estéticas, Stefan Schneider e os irmãos Robert e Ronald Lippok (mais tarde, este viria a criar descendências com o projecto Tarwater) ergueram uma discografia vedada às convenções e, sobretudo, marcada pela "intelectualização" (no bom sentido) das construções. Disco após disco, os To Rococo Rot afinaram uma álgebra própria, muito próxima dos recortes cíclicos de uns Tortoise (a comparação está gasta...), com interessantíssimos encadeamentos de filigrana digital da melhor estirpe e samples analógicos adulterados. Ao escutar este abc123 (um mini-álbum de oito faixas em vinte minutos), três anos volvidos desde o último trabalho do trio, percebe-se que o filão está longe da lassidão, mesmo que as peças do alinhamento praticamente prescindam dos típicos ingredientes analógicos (restou apenas um sintetizador Yamaha Vss30). A primazia pelo digital parece ter devolvido os To Rococo Rot ao seu mais fino substrato de criatividade e isso são óptimas notícias para aqueles melómanos que apreciam a arte-experiência e música electrónica que desafia o cérebro.
Posto de escuta Sítio da 7digital
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