segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Efterklang - Parades

8/10
Leaf
Flur
2007
www.efterklang.net



Há discos (e bandas) que facilmente nos remetem, mesmo antes do apelo da "febre" rotular sobre o género musical, para uma qualquer paragem geográfica, seja por reunirem alguns fragmentos identitários próprios dos costumes de uma determinada região do planeta ou, em alternativa, mesmo não sendo oriundos desse ponto específico que sugerem subliminarmente, por trazerem em si os estímulos mentais certos para uma viagem imaginária. O som dos dinamarqueses Efterklang acaba por ser sintomático dessas duas vertentes; é música pousada na enigmática frieza escandinava, nas correntes frias do Árctico e nas aragens gélidas da montanha. Mas é também muito mais do que isso. Cenicamente sugestiva, a música do colectivo nórdico começou por apresentar-se com potencial tímido, há coisa de três anos, com o debute Tripper a conjugar tricotados pragmáticos de micro-electrónica com um senso ambiental (e hipnótico) de exorcizar melodicamente a alva austeridade da geografia. Ainda que com texturas díspares (e a evidência de um impacto mediático inferior), a micro-melancolia musicada dos Efterklang expunha, então, traços paralelos com parte das utopias dos islandeses Sigur Rós, mesmo que num registo mais conciso e minimalista.

Esse substrato de primor no detalhe, embora tenha feito dos Efterklang um dos objectos de predilecção das massas críticas (especialmente na Dinamarca), tardou a atingir proporção semelhante junto dos públicos, talvez por faltar às primícias o vigor emocional que contrabalançasse o pragmatismo técnico. Percebendo essa insuficiência, os Efterklang abriram paulatinamente a sua música a conteúdos instrumentais fora da órbita digital (as cordas e os metais, por exemplo) e somaram-lhe luminosidade e amplitude. Under Giant Trees, EP de Abril deste ano, anunciava já essa reparametrização, deixando indícios de um natural crescimento que tem agora descendência em álbum. No lugar do "academismo" minimalista do início de carreira, existe neste Parades uma escrita viva e de espírito sinfónico, algo progressiva (segundo a lógica do crescendo) e a esquivar-se de paradigmas, mas intensamente contemplativa e hipnótica. Mais do que ser um elegantíssimo passo em frente no (ainda) curto caminho de um dos mais promissores colectivos da música europeia contemporânea, o disco é uma deliciosa transgressão de fronteiras estéticas ou rótulos (baralhando também as considerações "geográficas" do início deste texto) e um exercício extraordinário do que deve ser a pop (?) abrangente e pós-modernista.

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