terça-feira, 9 de outubro de 2007

Beirut - The Flying Club Cup

8/10
4AD
Popstock
2007
www.beirutband.com



Poucos foram aqueles que não juntaram a sua voz ao imenso (e generalizado) panegírico com que foi recebido Gulag Orkestar, disco de estreia do norte-americano Zach Condon (o homem por detrás do conceito Beirut), editado no ano transacto. A inopinada ascensão do prodigioso cantor/compositor/multi-instrumentista simbolizou, afinal, o exemplo acabado de como é possível emergir, do (muitas vezes) impermeável universo indie, um talento (mesmo que muito jovem - à data do debute discográfico, Condon tinha dezanove anos!) de dimensão maior. Mais curioso do que esse facto, foi perceber-se que música assim "atípica" - porque não estruturalmente compaginável com os padrões pop - também pode trepar vedações e afirmar-se nos palcos mainstream. Claro que o mérito deve ser imputado à graciosidade da escrita de Condon, à sua voz ímpar e à magnífica interpretação do que deve ser uma canção em todas as suas dimensões: melodia, palavra com ritmo (não tanto pelo conteúdo lírico) e arranjos. A essas traves-mestras promissoras e tão sabiamente postas ao serviço de um jeito especulador (porque experimental) de escrever canções, Condon somou, então, a admiração pelos folclores gitanos dos Balcãs, pormenor que o emparelhou com os conterrâneos DeVotchKa, pelo menos enquanto cultor da world music e das imensas potencialidades rítmicas da miscigenação com a folk tradicional americana.

Essa admiração por sons de além-fronteiras tem continuação lógica neste The Flying Club Cup, maioritariamente escrito em França (para onde o músico se mudou por uma temporada) e, por isso, influenciado pelo clássico glamour da chanson française à Jacques Brel (esqueça-se por momentos que ele até era belga!), mas sem prescindir dos metais "balcânicos", dos acordeões e dos esplendorosos arranjos (aqui são responsabilidade de Owen Pallett, do projecto Final Fantasy). A oportuníssima charanga de Gulag Orckestar não foi obra do acaso e, mais do que isso, demonstra agora o acerto de coordenadas e a redefinição estética própria da maturação de conceitos. E era mesmo isso que faltava às canções de Zach Condon para se imporem definitivamente como produtos artísticos de primeira água, simples nos processos e irresistivelmente amplas nos enlaces e na envolvência dos sons. Enfim, é esta a fibra de Beirut, uma assinatura pouco reverente a cânones e, sobretudo, excitada no prazer da descoberta. E pela mão de Zach Condon sabe muito bem descobrir a magia da melhor filigrana indie pop do ano.

Posto de escuta Sítio da 7digital

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