terça-feira, 2 de outubro de 2007

Iron & Wine - The Shepherd's Dog

8/10
Sub Pop
2007
www.ironandwine.com



Sendo quase unanimemente reconhecido, desde o início do seu percurso, como um dos mais finos herdeiros das tradições "clássicas" da música americana (pelo menos, enquanto invenção solitária para voz e guitarra), Sam Beam construiu, atrás do nome Iron & Wine, uma discografia reveladora de um salutar engenho para crescer em volta desse entendimento minimalista da folk. Vistas por esse prisma, parecem distantes no tempo (e no conceito) as gravações caseiras de The Creek Drank the Cradle (2002), título com que se apresentou ao mundo musical e que era reflexo, acima de tudo, de uma extraordinária capacidade para interpretar, com o intimismo exigido, os códigos genéticos mais profundos da musicalidade americana. O sucessor, Our Endless Numbered Days, lançado dois anos depois, mostrava já uma estética mais madura e própria da "profissionalização", embora ainda muito centrada no formato voz-guitarra. De resto, esse paradigma seria apenas sacudido no mini-álbum conjunto com os Calexico, In the Reins (2005); a colaboração somou ao universo Beam as dimensões instrumentais de um trabalho de banda, afastando-se da identidade minimalista que Beam havia erguido.

The Shepherd's Dog segue essa tendência natural de crescimento e, não perdendo o núcleo vital da escrita de Beam, desvenda uma estruturação orgânica bem longe do minimalismo de outros discos. Aqui, em contraste com a tradicional dualidade voz-guitarra, cabe um corpo completo de instrumentistas com pianos, guitarras, percussões, acordeões, órgãos, harmónicas e xilofones. Daí decorre um som mais espesso - o que não quer dizer que seja menos melancólico - e, sobretudo, mais expansivo. A par dessa reformatação orgânica, há também algumas derivações estéticas muito curiosas (que funcionam como preciosas achegas anti-estagnação), como a espontaneidade quase africana da magnífica (e inesperada) "House by the Sea", a invenção reggae de "Wolves (Song of the Shepherd's Dog)" ou o acaso rock'n'roll de "The Devil Never Sleeps". Em tudo o mais, The Shepherd's Dog é um puro Iron & Wine. O que, nos dias de hoje, é sinónimo de música que, crescendo instrumentalmente, não foi contaminada na sua natureza essencial. Única diferença: aquele Sam Beam que, sozinho no quarto, esboçou as primeiras canções de Iron & Wine, agora tem a companhia de amigos. Venham mais cinco...

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