domingo, 21 de outubro de 2007

Burnt Friedman - First Night Forever

7/10
Nonplace
Flur
2007
www.burntfriedman.com



Há quem diga que Burnt Friedman é um workaholic verdadeiramente obcecado pela produção de música. A verdade é que este prolífico germânico vem construindo, desde os finais da década de noventa, um interessantíssimo catálogo, tanto a título pessoal como ao lado de Atom Heart, no projecto Flanger. Mais recentemente dividiu o espaço criativo do aclamado colectivo Nine Horses com gente como David Sylvian e Steve Jansen, aí desenvolvendo alguma proximidade com estruturas mais convencionais de canção, por oposição ao cancioneiro mais "espacial" e difuso do jazz de vanguarda dos Flanger ou aos pilares de especulação dub que são os seus discos a solo. Essas raízes rítmicas (e electrónicas) estão presentes neste First Night Forever, onde sobressai menos o inevitável substrato dub e surge um revestimento que se diria importado das tendências soul mais modernas. E para melhor se mexer nesses ambientes, nada melhor do que convocar os favores vocais de quem dá cartas na matéria. O australiano Steve Spacek, luminária incontornável da electro-soul hodierna, está cá e, além dele, aparecem outros ajudantes: Enik, voz convidada em trabalhos dos extintos Funkstörung, duas vozes emergentes da música alemã - a cantora Barbara Panther (com álbum próprio à porta..) e Daniel Dodd-Ellis - e Theo Altenberg, um multifacetado artista berlinense que, com um registo vocal entre os graves cavos e roucos de Tom Waits e as inflamações hedonistas de James Brown, dá ao disco os momentos mais arrebatados.

No resto, First Night Forever é matéria típica de Friedman: batidas habilmente manipuladas em torno de uma curiosa mescla entre elementos acústicos (cordas e metais) e sintéticos, a proporção equilibrada na justaposição das várias camadas e estilos e, sobretudo, uma arrumação de ideias irrepreensível. "Chaos Breeds", trecho que fecha o álbum (é também a faixa de maior extensão), é exemplo paradigmático das inúmeras sugestões estéticas do novo opus de Friedman e de algumas reciclagens que ele impôs à sua cartilha de início de carreira. Em virtude disso, First Night Forever é testemunho de um espírito que não dorme sob os louros do passado. E que é capaz de reinventar as suas magias e nos dar um dos seus melhores trabalhos dos últimos tempos.

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