Editar um disco em formato duplo é encargo destemido. E de um compositor da linhagem de Nick Cave, estimado pelo apuro e mestria em cada causa, o ouvinte parte em demanda de mais do que o trivial. Uma audição judiciosa deste trabalho desvela, sem falsos pirronismos, o problema originário deste registo: pedaços do melhor de Cave confundidos com momentos de inferior inspiração, em prejuízo da consistência artística. Decididamente, e apesar de tudo, se este não é o melhor disco de Nick Cave, não será também o pior. Os entrechos líricos foram sublimados a um degrau luzidio, superior ao de Nocturama, e a produção é aqui mais requintada, destacando-se as vocalizações de apoio e o recurso a outros instrumentos, como a flauta que locupleta a deliciosa balada "Breathless".
Num registo composto sob o augúrio do argonauta Orfeu, que pelo encanto da sua música movia pedras e árvores, enfeitiçava bestas e merecia os favores dos deuses, as façanhas de Cave são tacanhas, não fazendo justiça à fábula inspiradora. Mesmo assim, estão presentes algumas canções sedutoras, dentre as quais, os temas que dão título ao duplo álbum.
Se o registo anterior desiludiu um pouco os sequazes de Cave, este não basta ainda para sobrepujar a decepção. Porque Cave, o brilhante contador de histórias do amor, da religião, da morte e do bizarro, consegue ser melhor. Parecem longe os tempos de poder e beleza de Tender Prey(1988), Let Love In(1994) ou From Her To Eternity(1984). Contudo, vale a pena escutar este registo. Cave está vivo e, supostamente, à busca do Orfeu que, ele próprio, já foi capaz de ser.
Num registo composto sob o augúrio do argonauta Orfeu, que pelo encanto da sua música movia pedras e árvores, enfeitiçava bestas e merecia os favores dos deuses, as façanhas de Cave são tacanhas, não fazendo justiça à fábula inspiradora. Mesmo assim, estão presentes algumas canções sedutoras, dentre as quais, os temas que dão título ao duplo álbum.
Se o registo anterior desiludiu um pouco os sequazes de Cave, este não basta ainda para sobrepujar a decepção. Porque Cave, o brilhante contador de histórias do amor, da religião, da morte e do bizarro, consegue ser melhor. Parecem longe os tempos de poder e beleza de Tender Prey(1988), Let Love In(1994) ou From Her To Eternity(1984). Contudo, vale a pena escutar este registo. Cave está vivo e, supostamente, à busca do Orfeu que, ele próprio, já foi capaz de ser.
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