segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Pas de Deux

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Título: Pas de Deux
Autor: Maria Paula
Fonte: www.olhares.com

domingo, 30 de outubro de 2005

My Morning Jacket - Z

Apreciação final: 8/10
Edição: ATO/Badman, Outubro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Country Alternativo
Sítio Oficial: www.mymorningjacket.com








A filiação do mundo musical dos My Morning Jacket à estética da velha escola country não se confina à voz nasalada (ao jeito de Neil Young) do epicentro criativo do quarteto, o vocalista/compositor Jim James. Mais do que isso, a disposição das canções do ensemble americano acolhe o traço classicista das mais marcantes raízes da música americana e conforma-as a normas regeneradoras, sem desprimor para as suas medidas originais. O fim não é a altercação com o passado, antes a restauração criteriosa de um género eterno. E os My Morning Jacket fazem-no, neste trabalho (o quarto da sua existência), com o apuro de uma arrumação pop sem pejo de chamar a si a reverberação do rock ou o serviço diligente das teclas, numa escrita cerrada, criativa e estilisticamente exuberante. Afora isso, há em Z um reforço da faceta experimental do grupo, particularmente notória no redimensionamento da abstracção das canções que, sem se tornarem evasivas, se desmultiplicam com fulgor e irreverência. O alcance dessas impressões é ilimitado: elas emancipam-se e sobejam além dos quarenta e poucos minutos do disco; ficam como que ressonantes, espiam-nos o âmago, seduzem-nos até a mais ínfima molécula, prendem-nos a consciência e enfeitiçam-nos irremediavelmente.

Z é um monumento musical que, além de invocar memórias indeléveis, deixa o selo distintivo de uma banda capaz de urdir uma fibra musical simultaneamente contemporânea e clássica, com canções adultas e que humildemente se empossam dos paradigmas pop dos R.E.M, dos U2, dos Mercury Rev, dos The Clash, de Mark Kozelek e de Neil Young, entre outros, para os reconverter a um dialecto alternativo e espiritual. Neste místico alfabeto, ao invés de ser o ómega, talvez a letra Z seja apenas o começo...

Parafusos Voadores

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Título: Parafusos Voadores
Autor: Daniel Pitta
Fonte: www.olhares.com/dpitta

sábado, 29 de outubro de 2005

Ladytron - Witching Hour

Apreciação final: 7/10
Edição: Rykodisc/Universal, Outubro 2005
Género: Electrónica/Dream Pop
Sítio Oficial: www.ladytron.com








O terceiro registo de originais da carreira do quarteto Ladytron (no caminho ainda encontraram tempo para um disco de versões) é o mais preenchido cartão de visita de Helen Marnie, Mira Aroyo, Daniel Hunt e Reuben Wu. A asserção musical é análoga aos outros discos do colectivo britânico e assenta fundamentalmente numa mescla equilibrada de matérias sintéticas, sons instrumentais crus e vozes (femininas) num tom identicamente lamentoso e alucinado. A cadência vertiginosa das composições, ao jeito de uma espiral electrónica sem tempo ou espaço, apoia-se na afeição mesmeriana das vocalizações; o resto provém da devoção a algumas referências musicais do grupo - a música electrónica das duas últimas décadas (a disco incluída), a proposta new wave, house, techno e a porção certa de experimentalismo - e do trejeito costumeiro da sua assinatura. Há ainda um abeiramento prudente a um discurso dream pop que não cai mal nas formas dos Ladytron e que dilata o alcance melodramático e negro das composições, tornando-as mais complexas, sem prejuízo do seu flanco encantatório.

Witching Hour é a resposta a um hiato de três anos sem gravações e afirma um som virente (e convincente) na altura mais própria. Se é coisa certa que este disco estaria exposto, noutra conjuntura, a desconfianças e ao rótulo de datado, com a renascença da electroclash,Witching Hour adquire um sentido de oportunidade extra e destaca devidamente a valia desta banda. A bem da cena musical electrónica, a gestação prolongada deste álbum parece também ter trazido (com surpresa?) aos Ladytron um remate válido para os trabalhos manuais na mesa de mistura, acrescentando carne, sangue e casta à fórmula esqueletal do passado. Agora os Ladytron têm pedigree. E, mesmo sem inovações maiúsculas em Witching Hour, nós agradecemos.

terça-feira, 25 de outubro de 2005

O dia depois

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Edvard Munch, The Day After, 1894-95

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Princess Superstar - My Machine

Apreciação final: 7/10
Edição: !K7, Setembro 2005
Género: Hip-Hop/Dança/Electrónica
Sítio Oficial: www.princesssuperstar.com








A nova-iorquina Concetta Kirshner (a.k.a. Princess Superstar) alia uma voz amotinadora e indomável a uma atitude hedonista e cinicamente sensual. A divisa musical de Kirshner é um rap afrontoso e praguento, apimentado com algumas obscenidades e apoiado num tecido musical electrónico (não fosse este um lançamento da !K7), com batidas mecanizadas, compassos devidamente estruturados e sintetizadores adulterados. Nesta edição, Princess Superstar estendeu as fronteiras das suas raízes hip hop e concebeu um álbum conceptual que, mais do que a mensagem, se impõe ao auditor à custa de um sentido de humor refinado que ajuda a camuflar a agressividade explícita das conotações sexuais e demais excessos das letras. E que nos conta Kirschner? O ano é 2080 e o entretenimento no planeta Terra cinge-se a uma única celebridade (a própria Princess Superstar...) e à dezena de milhar de clones subservientes. A rebelião dos clones (os duplicants) e o declínio da estrela egocêntrica serve de mote para questionar a futilidade do estrelato e do culto da fama, a degeneração da identidade, a frivolidade da ostentação e a fruição vã do estatuto. Numa hora e dez minutos, Kirschner maneja habilmente o simbolismo de uma sociedade imaginada (a utopia de algumas celebridades presumidas da cena musical actual?) e deixa uma declaração anti-presunções da cultura pop.

My Machine é tudo menos um álbum ortodoxo. É música de dança, é hip hop, é electrónica, é spoken word, é electro-rock, é house, é punk; é também uma (des)construção de mitos, de limites ou convenções. O lendário Arthur Baker supervisiona a produção de um conto distópico de ficção científica que, nas palavras chocantes - também humoradas - de Kirschner, se aproxima do registo orgânico dos Fischerspooner, dos sussurros de Missy Elliot ou da infâmia de Peaches. Mas há mais para descobrir em My Machine. Atreva-se a divagar num futuro ambíguo onde a estrela de Princess Superstar cintila. Com este brilharete, não é já altura de ela merecer a vénia do presente? Mas sem clones...

domingo, 23 de outubro de 2005

Explosions in the Sky - How Strange, Innocence

Apreciação final: 6/10
Edição: Temporary Residence, Outubro 2005
Género: Pós-Rock/Experimental
Sítio Oficial: www.explosionsinthesky.com








São texanos de gema e servem-se dos instrumentos para insinuar estados emocionais, em maneiras semelhantes às dos escoceses Mogwai ou dos canadianos Godspeed You Black Emperor!. Chamam-se Explosions in the Sky. As gravações contidas neste How Strange, Innocence foram produzidas um ano antes do primeiro disco do colectivo americano (Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever, lançado em 2001) e não tinham ainda conhecido lançamento oficial. Escutar estas composições é ter o privilégio de olhar uma ecografia do embrião dos Explosions in the Sky e de perceber o que eles eram antes do reconhecimento conquistado nas esferas alternativas nos últimos dois anos. A orgânica em crescendo era já um denominador comum há cinco anos, as percussões em rupturas casuais e as linhas intrincadas do baixo já sustinham o discurso directo, espacial e hipnótico da guitarra. How Strange, Innocence é o fulcro essencial, a raíz primeira e o dogma maior dos Explosions in the Sky. Pode não ser excepcional, até se exprime numa linguagem um pouco redundante e/ou previsível, mas certifica o sentido de rumo e a amplitude técnica das interacções instrumentais que edições posteriores do quarteto texano viriam a enfatizar. Não sendo uma edição indispensável, How Strange, Innocence destina-se especialmente a fãs do grupo ou a melómanos curiosos.

How Strange, Innocence põe à vista os primeiros passos dos Explosions in the Sky nos campos silvestres do pós-rock. Dessas primitivas pegadas cambaleantes, com o mesmo embaraço inocente de um bebé que desperta para as suas funções mecânicas, haveria de crescer uma banda com uma assinatura inviolável e cuja marcha se faria firme. Com esta edição, o tempo faz marcha-atrás, mostra-nos as feições sonoras de uma novel criatura e torna-nos testemunhas do génesis dos Explosions in the Sky. Apetece descodificar estas eufonias como quem recorda, com fascínio, a primeira palavra no tartamudear de um recém-nascido. Enquanto não vem um novo disco, limpe-se o pó aos retratos do álbum de recordações. Porque o tempo, às vezes, volta atrás.

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Formas Circulares

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Robert Delaunay, Formes Circulaires, 1930

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Wolf Parade - Apologies to Queen Mary

Apreciação final: 8/10
Edição: Sub Pop, Setembro 2005
Género: Indie Rock
Sítio Oficial: http://wolfparade.cjb.net








Eles são quatro canadianos, vêm de Montreal e apresentam o primeiro longa-duração. Chegados à Sub Pop pela mão de Isaac Brock (o mentor dos Modest Mouse também assina a produção deste álbum), os Wolf Parade prometem sacudir o mundo indie à custa de alegorias rock que trazem à memória as referências óbvias da passada folk deliciosamente desengonçada dos Modest Mouse, do fervor sumptuoso dos compatriotas Arcade Fire, da incontinência criativa de Bowie e do intento melódico dos Pixies. Se a isso se une uma escrita com conta, peso e medida e uma produção que ajuda a colorir, sem desregramento, o tecido sónico do grupo, o efeito é um álbum digno de figurar no quadro de honra para este ano. Depois, os vocalistas Spencer King e Dan Boeckner dividem registos vocais recurvos, sublinhando a pose quase afrontosa do discurso dos Wolf Parade. Será que eles se dão conta? A tensão/excitação que nasce do som destes canadianos é feita de concomitâncias paradoxais: eles são a ferida e o lenitivo. Apologies to Queen Mary é capaz de agrilhoar o ouvinte, deixá-lo atado sem alegação para, de seguida, o libertar em afagos. E tudo isto é lançado aos ouvidos com a mesma simplicidade, numa toada simultaneamente primitiva (não há aqui sinais do rock de tempos idos?) e contemporânea, plena de substância, de fantasia e de desvario. Os Wolf Parade são corsários que roubaram e embriagaram (ou forçaram ao contacto com alucinogénicos?) o rock, que lhe emprestaram sintetizadores cortantes e timbres alucinados de piano e o converteram, com argúcia, a um circo de habilidades e surpresas. Apologies to Queen Mary é, em si mesmo, uma caixinha de surpresas, não de Pandora mas de Orfeu, um disco digno de ser ouvido repetidamente, tantos os segredos sob o seu resguardo.

Apologies to Queen Mary é um disco entusiasmante porque alterna entre o desatino extravagante e a razão consciente, com a mesma alvura e singeleza e sem perder o equilíbrio. Sem concessões, farto de espontaneidade e grandes canções, este desfile de lobos e as suas desculpas à rainha têm tudo para se tornar um vício. Vai uma aposta?

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Obeah

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Hans Hofmann, Obeah, 1961


Obeah é uma linguagem de feitiçaria voodoo afro-caribenha que pretende invocar o saber de uma ordem religiosa anciã e é comummente utilizada pelas tribos Ashanti da África Ocidental e da Jamaica. O códigos e a doutrina Obeah mantêm-se envoltos no mais enigmático ocultismo e o seu conhecimento é reservado a sociedades secretas e assume a prática de oblações e sacrifícios.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Boards of Canada - The Campfire Headphase

Apreciação final: 7/10
Edição: Warp, Outubro 2005
Género: IDM/Electrónica Experimental/Ambiente
Sítio Oficial: www.boardsofcanada.com








O universo da electrónica experimental, mais propriamente o sub-género a que se convencionou chamar IDM (Intelligent Dance Music), é normalmente confinado ao anonimato e poucos são os projectos musicais que escapam a essa regra. Entre os nomes mais reputados, ao lado de Aphex Twin, Autechre, Mouse on Mars ou Carl Craig, figura a dupla escocesa Boards of Canada. Michael Sandison e Marcus Eoin, depois dos aclamados Music Has the Right to Children (1998) e Geogaddi (2002), apresentam-nos o terceiro longa-duração do seu percurso, o segundo lançado pela Warp. O disco segue na peugada dos antecessores, seduzindo o ouvinte a arriscar-se em labirintos sonoros e, com a mesma plenitude subtil, joga com o subconsciente, expondo reminiscências da face mais íntima da alma. Nesse sentido, é um disco atmosférico e contemplativo e, como seria de esperar dos Boards of Canada, remete-nos para a quase-hipnose de uma noite de Outono e a interioridade despegada da melancolia. The Campfire Headphase é soturno mas não depressivo e exprime-se em texturas electrónicas elaboradas com a minúcia costumeira da dupla. O requinte e a completude das composições - traves-mestras do discurso dos Boards of Canada - não deslustram o passado do grupo, mesmo sem disfarçarem, aqui e ali, alguns atributos dejá vu. Nota de inovação merecem as aparições da guitarra que, incorporadas na orgânica electrónica do disco, não mais se escondem em habilidades de estúdio e se afirmam mais cruas e assertivas (ouça-se a faixa "Chromakey Dreamcoat", um dos pontos altos do álbum).

A The Campfire Headphase parece faltar apenas um vínculo mais veemente com o arrojo; é certo que o par escocês aprimorou a retórica do seu som ambiental e sinistro e desse refinamento estilístico continuam a nascer composições impressivas mas sem lugar para o imprevisto. Sandison e Eoin têm predilecção por lances seguros e não expõem as fórmulas da praxe ao crivo da reinvenção, acabando por se mover nas raias do auto-plágio. É certo que eles são bons no que fazem mas não é chegado o ensejo de forjar conceitos novos?

Procure na grafonola as faixas "Chromakey Dreamcoat" e "Davyan Cowboy"

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Devendra Banhart - Cripple Crow

Apreciação final: 8/10
Edição: XL, Setembro 2005
Género: Folk/Cantautor/Indie
Sítio Oficial: www.cripplecrow.com








Devendra Banhart é um artista. Ponto final. Além da formação académica no Instituto de Arte de São Francisco, o jovem Banhart (tem apenas 24 anos) já vai no quarto álbum de estúdio e tornou-se, entre as classes alternativas, um dos mais prolíficos songwriters da sua geração. Senhor de uma voz trémula e colector de uma miríade de influências, Banhart é um trovador errante, um menestrel dividido entre a folk tradicional americana, os blues, o rock 'n' roll, a música de cabaret, os Beatles e tudo mais que o seu génio criativo consegue confiar intimamente a uma guitarra acústica. Neste Cripple Crow, mesmo imprimindo um cunho acústico às vinte e três composições do alinhamento, Banhart ampliou as texturas das canções, munindo-as com outros ingredientes como as vozes dobradas, as pontuais ingerências orquestrais e o som vacilante de um piano ou de uma flauta. A minúcia de cada uma das peças é a do costume, Banhart não faz a coisa por menos e escreve trechos musicais gentilmente intemporais (são deste tempo mas ficariam bem noutro qualquer...), inevitavelmente cativantes, frescas e inesperadas. E esse viço magnetizante é também um vínculo de diversidade étnica, o reflexo de uma vivência que passou por São Francisco, pela Venezuela e por Paris e que se projecta na tapeçaria musical de Banhart.

Cripple Crow é uma colecção simples de trovas transcendentais que certificam a elasticidade da escrita de Banhart. Pontuado por um imaginário de crianças, o disco é uma celebração esotérica da esperança, da redescoberta dos encantos da ingenuidade e da negação do pessimismo fácil. Musicalmente, Cripple Crow é também uma colagem de géneros, uma paleta multi-colorida e ecléctica, embrulhada numa roupagem psicadélica e nostálgica dos anos 60. Uma elegia musical de um criador que continua a crescer com as canções e a garantir-nos momentos imperdíveis. O puto já é um homenzinho...

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

5 rapidinhas


Scout Niblett - Kidnapped by Neptune (6/10)
Muitas vezes comparada a P.J. Harvey, Björk ou Cat Power, Scout Niblett subscreve, no terceiro registo de estúdio da carreira, a mesma fantasia rock de outros tempos, assente numa voz melíflua que afronta rumores angulares de guitarra e percussões rudimentares. A orgânica é minimalista e quase desarrumada; as estruturas deixam o ouvinte num estado hipnótico do qual desperta, em alguns instantes do disco, com a frustração de não descobrir o clímax anunciado. O vanguardismo poeirento e experimental de Niblett (alguns temas parecem B-sides dos Nirvana ou de Harvey) saúda-se embora pareça orfão de uma definição mais rigorosa das composições. Se alguma vez Niblett lá chegar, talvez melhor se descodifique a espiritualidade e o mistério das suas fórmulas.
Too Pure, Maio 2005








Flipsyde - We the People (5/10)
Crítica social em formato hip-hop com um fundo musical que explora, com alma latina, a soul e o funk é a proposta dos Flipsyde. Eles foram a banda de suporte dos Black Eyed Peas e as semelhanças entre os projectos não são mera coincidência, ainda que os Flipsyde assumam outras considerações políticas e abracem uma sonoridade ligeiramente mais rock que, aqui e ali, faz lembrar Dave Mathews (ouça-se "Angel") ou os Living Colour (especialmente na faixa "Time"). We the People é jovial, tem uma boa dinâmica e, apesar da produção desproporcionada, não deixa de ser uma estreia suficiente deste quarteto americano.
Interscope, Junho 2005








Armando Teixeira - Made to Measure (6/10)
Responsável pelos projectos Bullet e Balla, Armando Teixeira tem sido um dos compositores nacionais mais activos nos últimos tempos. Este disco, lançado numa edição limitada e exclusiva de comemoração do décimo primeiro aniversário da Fonoteca Municipal de Lisboa, é uma mostra do trabalho menos popular do músico, também da sua faceta mais (des)construtivista. Do alinhamento fazem parte alguns trechos musicais que integraram espectáculos teatrais, uma faixa dedicada a Carlos Paredes (anteriormente incluída na compilação Movimento Perpétuo) e o inédito "Les Mutations". Made to Measure é um disco de estúdio e que põe à prova a destreza de Teixeira com samples e loops, num registo próximo de Bullet que acolhe o lounge, o jazz, a música tribal e a electrónica. O principal problema: as aptidões do músico surgem aqui sem a homogeneidade de outros trabalhos. Ainda assim, Vladimir Orlov mantém o toque de inspiração.
Fonoteca Municipal de Lisboa, Maio 2005







The National - Alligator (7/10)
Algures entre a folk americana mais vernácula e a pop viva da Grã-Bretanha está o som dos The National. A proposta é um pop-rock maduro e reflectido, à custa de canções de balanço intuitivo, com uma produção reservada mas competente e alguns refrões que se entranham subitamente. Amores deteriorados, relações humanas e contemplação metafórica são a espinha dorsal deste Alligator. Não há um pouquinho de Cave ou Tindersticks também?
Beggars Banquet, Abril 2005








The Perceptionists - Black Dialogue (7/10)
Mr. Lif, Akrobatik e DJ Fakts One são os protagonistas do conceito the Perceptionists. Aqui não há lugar a paninhos quentes, o discurso é directo, ácido, sem rodeios, e manifestamente propenso ao esquentamento das orelhas de George W. Bush e Dick Cheney e restantes membros da administração americana. "Where are the weapons of mass destruction?/we've been looking for months and we ain't found nothin'/please Mr. President tell us somethin'/we knew from the beginning that your ass was bluffin'" é glosado na faixa "Memorial Day" e resume a alma rebelde da tripla. O resto é underground rap não contaminado com as perversões do mainstream, muito scratching e um mosaico sonoro sem vergonha da electrónica. Hip-hop à moda antiga.
Definitive Jux, Março 2005


quinta-feira, 13 de outubro de 2005

O homem e a mulher

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Pavel Filonov, Man and Woman, 1912-13

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

3.º Mostra de Arte Non Stop

A Vo'Arte está agora a preparar a 3ª edição da Mostra Arte Non Stop - projecto para promover os trabalhos dos jovens artistas nas diversas áreas artísticas (dança, teatro, instalação, performance, artes visuais, artes plásticas, exposições, circo, música, vídeo, escrita, fotografia, design, arquitectura, literatura, hip - hop breakdance, grafitti / rapper e outras artes do imaginário) - que terá lugar dias 2 e 3 de Dezembro, em Lisboa, no Santiago Alquimista.


Regulamento
Ficha de Inscrição - Vídeo
Ficha de Inscrição - Artes Performativas
Ficha de Inscrição - Artes Visuais

Os projectos podem ser entregues até dia 21 de Outubro. Mais informações em www.voarte.com ou nos telefones 21 393 24 10 e 91 404 04 71.

Carlos Bica - Single

Apreciação final: 7/10
Edição: Bor-Land, Outubro 2005
Género: Solo Instrumental/Jazz
Sítio Oficial: www.carlosbica.com








O contrabaixista Carlos Bica é um dos mais célebres e solicitados músicos nacionais, tendo convivido artisticamente com intérpretes da mais distinta estirpe como António Pinho Vargas, Camané, Janita Salomé, José Mário Branco, Maria João e Mário Laginha, em Portugal, e Paolo Frésu, Aki Takase, Lee Konitz ou Alexandre von Schlippenbach, além-fronteiras. Presentemente, o músico faz parte do projecto Azul - na companhia do guitarrista alemão Frank Möbus e do percussionista americano Jim Black - do Tuomi Trio (com a cantora finlandesa Kristiina Tuomi e o pianista Carsten Daerr) e divide os palcos berlinenses com Sven Klammer (trompetista alemão) e Kalle Kalima (guitarrista finlandês) no trio Bica/Klammer/Kalima. Considerado um dos mais férteis e inventivos músicos jazz da sua geração, Bica apresenta-nos um disco arrojado. Single atreve-se destemidamente a isolar o contrabaixo, a chamá-lo ao foco, a dar-lhe o destaque do papel principal. Aqui, não há mais nada. Apenas Bica e o seu Prosper Colas, de 1891. Pode a ideia não ser totalmente original, pode até o contrabaixo não ser o mais versátil dos instrumentos, mas o génio e a intuição de Bica levam-nos à deriva num embalo mágico, feito de melancolias e de pesares que se desenlaçam dos vibratos e assumem um corpo próprio. Há nas composições uma alma profundamente lusitana, uma tímida fragrância de saudade, um quase-fado que se insinua na sensualidade dos tons graves.

Single é a quimera musical das fotos de Pedro Cláudio que habitam o booklet do álbum. É uma ilusão em melodias obstinadas da pureza da abóbada celeste, do bulício da urbe, da misantropia de um corvo, do cinzento frio de uma pedra, da vastidão dos oceanos, da efervescência do fogo, do adeus de um pôr de sol, do frio da neve, do recato de um terreiro. Single é tudo isso. É um contrabaixo sozinho, o músico é um mero artífice, um veio mecânico que pulsa das cordas as notas que já lá estão, à espera da revelação. E Bica mostra-as como poucos, exibe-as cruamente, sem artimanhas de estúdio. Como nos curiosos cinquenta e sete segundos dedicados a "Ay! Linda Amiga", uma composição anónima do século XVI, a única peça não original do alinhamento. O conceito solitário que Carlos Bica propõe com Single é tão intuitivo que suscita óbvio debate: com este alcance no contrabaixo, quem reclama outros instrumentos?

Posto de escutaHankAgoraA Luz da Rosa

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Maria Rita - Segundo

Apreciação final: 8/10
Edição: Warner, Setembro 2005
Género: MPB/Jazz/Samba
Sítio Oficial: www.maria-rita.com








Dois anos volvidos do lançamento homónimo que atirou o nome de Maria Rita para os focos do mediatismo da nova música brasileira, a filha de Elis Regina regressa com um disco que conta com a produção da própria e do conceituado Lenine. Seguindo o legado de uma linhagem de eleição, o fenómeno Maria Rita promete prosseguir, até multiplicar-se, com este Segundo. O álbum é mais introspectivo, acentua cláusulas de sobriedade e comedimento não vistas no antecessor. Este comedimento, certamente não menos cintilante que a rebeldia da estreia, não reduziu o ardor da chama musical de Maria Rita, apenas o moldou de jeito diferente, com a preciosa colaboração do pianista Tiago Costa, cujos arranjos marcam omnipresentemente o disco, e das composições de convidados ilustres como Rodrigo Maranhão ("Caminho das Águas" e "Recado"), Marcelo Camelo ("Casa Pré-Fabricada" e "Despedida") e o uruguaio Jorge Drexler ("Mal Intento"), vencedor de um Óscar com a música "Al Outro Lado del Rio" no filme Diários de Che Guevara. Depois, num teste à espontaneidade e à dinâmica das actuações ao vivo, Segundo mereceu gravação simultânea de voz e instrumentos, o que reforçou o intimismo das composições, sempre apoiadas na ternura da voz de Maria Rita.

O repertório é da melhor safra, num alinhamento de inéditos onde cabem também versões de clássicos de Eduardo Krieger ("Cirando do Mundo") ou Edu Lobo/Chico Buarque ("Sobre Todas as Coisas"). Depois, a voz de Rita. Sem cedências ou deslizes e em métricas e fraseados que trazem à memória o sinal genético de sua mãe, a jovem sobrevem a pretensos mimetismos e, cada vez mais, afirma um estilo próprio e cuja elasticidade é posta à prova numa colecção de géneros que coloram o disco, do samba ao bolero, do maracatu à capoeira, do jazz lírico aos ritmos quentes. Segundo é doutrina e afirma Maria Rita, com a erudição esperada, no papel de cantora, talvez a melhor do Brasil por estes dias. Com Segundo, Rita emancipa-se definitivamente do genoma. E sempre com brilhantismo. Sempre Maria Rita.

O pequeno-almoço dos pássaros

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Gabriele Munter, Breakfast of the Birds, 1934

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

5 rapidinhas



Institute - Distort Yourself (5/10)
Serviços mínimos de Gavin Rossdale, num novo projecto que acolhe a mesma arquitectura sónica dos Bush: uma espécie de pós-grunge, com uns tiques electrónicos (já tinham sido ouvidos no último trabalho dos Bush) e Rossdale no centro do mundo. A equação é simples: Institute = Bush parte II.








Fat Freddy's Drop - Based on a True Story (7/10)
Septeto neo-zelandês que, depois do sucesso doméstico, procura a internacionalização de um som com raízes no reggae e que integra habilmente ligeiras subtilezas electrónicas e elementos de sopro. Um híbrido reggae-soul-funk-jazz que cresce com audições sucessivas. E afinal rasta é igual em Wellington ou em Kingston. A descobrir.
(Kartel/AnAnAnA, Junho 2005)


Posto de escutaWandering EyeThis Room
Para escutar estas amostras necessita do Real Player. Baixe-o aqui.

www.fatfreddysdrop.com






Ok Go - Oh No (5/10)
Pretensamente eles são uma banda rock. Fosse esse género musical apenas feito de mimetismos óbvios (o produtor Tore Johansson até esteve com os Franz Ferdinand no primeiro disco) e os Ok Go estariam na linha da frente. Mas como o rock é mais do que uma simples cópia, este disco resume-se a uma ou duas ideias divertidas. Os rapazes esforçam-se mas soam demais a outras coisas...Salva-se "A Million Ways".
(Capitol, Agosto 2005)








Tony Yayo - Thoughts of a Predicate Fellon (6/10)
Outro dos membros dos G-Unit, Marvin Bernard (a.k.a. Tony Yayo) escreveu grande parte deste álbum, o primeiro da sua carreira a solo, no cárcere e conta com a colaboração de 50 Cent, Eminem, Obie Trice, Lloyd Banks, entre outros. Um álbum que não vai revirar o universo underground mas que apresenta um Tony Yayo capaz de sair da sombra dos outros G-Unit.
(Interscope, Junho 2005)







The Ordinary Boys - Brassbound (4/10)
Os britânicos The Ordinary Boys (buscaram o baptismo na música de Morrissey?) apresentam o segundo trabalho. O timbre aproxima-se de um registo ska, na linha dos The Specials ou dos The Clash, mas os músicos parecem desnorteados, sem um rumo e, mais grave ainda, permanecem excessivamente colados às suas referências musicais, incapazes de tirar da cartola um rasgo de inovação. Um passo em falso.
(B Unique, Junho 2005)


domingo, 9 de outubro de 2005

Richard Hawley - Cole's Corner

Apreciação final: 8/10
Edição: Mute, Setembro 2005
Género: Indie Pop-Rock/Folk/Cantautor
Sítio Oficial: www.richardhawley.co.uk








Ele foi (ao que parece ainda é...) guitarrista de suporte dos britânicos Pulp mas, escondido clandestinamente por detrás de uma voz barítona e côncava, há em Richard Hawley um compositor de escol. Cole's Corner é o quarto capítulo, talvez o mais inspirado, de uma aventura solitária iniciada há cerca de quatro anos. Mantendo o tom intimista (e emocional) consagrado nos trabalhos prévios, Hawley concebe um corpo homogéneo de canções que, rematadas por poemas de lisura melancólica, remontam na mente do auditor as formas da emoção romântica, sem ampliações ou desajustes. Essa noção de proporção é, além da superior casta de composições e arranjos e da voz robusta de Hawley, a impressão mais tocante de um álbum onde tudo parece convenientemente arrumado junto a um altar de veneração de Roy Orbison, Eddie Cochrane, Gene Vincent ou Johnny Cash. Daí decorre o indesmentível cunho retro das músicas que, sem caírem em desmandos anacrónicos, têm um impagável efeito bâlsamico nos melómanos nostálgicos da country-pop de outrora. Cole's Corner é isso mesmo: a oração musicada de um compositor que achou o seu nicho num esconderijo apartado (por quanto tempo mais?) do mainstream, um recanto mágico de um presente feito do antanho, para onde convergem afectos e desgostos, paixões e desencantos que servem de pulso e inspiração.

Conjugando o amor, a perda, o lamento e a saudade com um fundo musical distinto, Hawley desarma as fronteiras do tempo, firma indelevelmente a sua assinatura musical e, mesmo sem remexer o universo, deixa-nos uma obra nostálgica e imaterial. Baptizado com o nome de um renomado ponto de encontro de Sheffield (a cidade natal do músico), Cole's Corner é uma peça de ourivesaria musical, uma confidência íntima, um penetrante retrato da emoção. Ao ouvir o último de Hawley só apetece dizer, em jeito de convite: Sábado no Cole's Corner à mesma hora?

Procure na grafonola as faixas "Cole's Corner", "Just Like the Rain", "Wait For Me", "I Sleep Alone" e "Who's Gonna Shoe Your Pretty Little Feet?"

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Oxigénio

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Título: Oxigénio
Autor: João Lourenço
Fonte: www.olhares.com

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Laura Veirs - Year of Meteors

Apreciação final: 7/10
Edição: Nonesuch, Agosto 2005
Género: Indie Pop/Folk
Sítio Oficial: www.lauraveirs.com








Natural de Seattle, Laura Veirs mantém-se em reservado quase-anonimato, embora este seja já o quarto álbum de um percurso musical que acata os costumes folk da música americana com uma certa vocação pop. A personalidade musical de Veirs é introspectiva e cerebral e perscruta, através de um som polido e arrumado, alguns retratos avulsos de uma vivência marcada pelo romantismo, pela crítica social e pelo exame de temperamentos. Veirs é uma baladeira e afirma-o sem subterfúgios, com o auxílio fiel da guitarra (também da banda de suporte, os Tortured Souls) e uma dose reforçada de crença na espontaneidade. Se esse desafio havia sido ganho com o gentil Carbon Glacier(2004), um álbum que afirmara um compromisso mais atmosférico, simultaneamente pessoal e distante, neste Year of Meteors as composições são mais íntimas e quentes e defendem uma toada de misticismo, ainda que num jeito menos depressivo. A fórmula musical é simples: texturas singelas, essencialmente acústicas, um pouco de electrónica, arranjos apurados e pertinentes, ritmos demorados e um registo vocal (e alma criativa?) próximo de Suzanne Vega, Beth Orton ou Joni Mitchell. O resto é pura metáfora, como se um imaginário de fantasia (o capricho fractal de ficção de Veirs é feito de sereias luzidias, de ursos vibrantes, de pombos adejantes, de fantasmas em reunião e chuvas de meteoros...) fosse a mais modelar exposição da condição humana.

Year of Meteors é um documento musical de revivescências vívidas e surreais, assentes na voz crespa (também doce) de Veirs e numa orgânica musical íntegra. E depois, Veirs deixa-nos um compromisso metaforicamente romântico suspenso em "Spelunking": "If I took you, darling/to the caverns of my heart/would you light the lamp, dear?/and see fish without eyes, bats with their heads/hanging down towards the ground/would you still come around?". Estas são as grutas de Veirs, vamos acender a lamparina e desatar os segredos ou aceitar a melancolia do negrume?

terça-feira, 4 de outubro de 2005

A máscara negra e a rosa

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Gabriele Munter, Black Mask With Rose, 1921

CocoRosie - Noah's Ark

Apreciação final: 6/10
Edição: Touch and Go, Setembro 2005
Género: Indie Rock/Experimental
Sítio Oficial: www.cocorosieland.com








Depois do reconhecimento da crítica com o angélico e essencialmente acústico La Maison de Mon Rêve (2004), as irmãs Casady - Sierra (voz e guitarra) e Bianca (voz e percussão) - aprontaram um registo que, reforçando a delicadeza melancólica do predecessor, se revela mais escuro e mais contemplativo. O teor dolente das palavras que se encostam à orgânica musical minimalista compõe uma fantasia inaudita, aqui e ali quase gótica (sem os quilos de distorções de outros mundos...), da nau com que Noé salvou os bichos e sua família do dilúvio divino. Noah's Ark é, antes de mais, um descerrado acto escapista que conjuga a face bargante da condição humana com o erotismo inocente da urbanidade. E estas irmãs de vozes frágeis, graças a um som despojado, mesmo torturado, inventam um admirável mundo novo, povoado de extravagantes simplicidades, de alma gospel e maneirismos tribais. Instrumentalmente, há um piano que sugere imagens, como um resíduo de cinematografia dissimulada; há batidas esquivas e soluçantes. As vocalizações são subtis, evocam espiritualidades incertas em mantras assombrados e, com a mesma solenidade, desenham a nostalgia pueril de onirismos passados. Depois, há ruídos animais de fundo, a preencher o imaginário icónico da metáfora bíbilica e o amparo de dois mensageiros ilustres: o andrógino Antony e o ubíquo Banhart.

A confissão musical das irmãs Casady é um retrato de caracteres infractores e redenções impossíveis, de partes de um universo apocalíptico e catatónico de drogas e paixões. A arca de Noé é o símbolo do renascimento, do recobramento da infância, de um microcosmo sussurrado de catarse. Diferente de La Maison de Mon Rêve, o novo trabalho de CocoRosie apenas peca por trazer menos substância musical e deixar no ar a sensação de que as composições não passam de bosquejos em caminho assimptótico da completude. Mesmo não sendo um produto musical excelso, Noah's Ark é um competente instrumento de evasão da esfera terrestre. Só não poisa no Monte Ararat.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better

Apreciação final: 7/10
Edição: Sony, Outubro 2005
Género: Indie Rock/Pós-Punk
Sítio Oficial: www.franzferdinand.co.uk








Depois de sacudirem fogosamente o mundo no ano transacto com o disco de estreia, os Franz Ferdinand mostram-se dispostos a repetir a façanha, rebuscando o fulgor sexy e desembaraçado do registo pós-punk que fez deste quarteto escocês a voz de comando de uma rebelião pretensamente regeneradora do rock. Ninguém disse que o rock estava falho de uma revolução mas os Ferdinand fizeram questão de a impôr à custa de riffs de guitarra atrevidos e angulares, melodias extasiantes, percussões que impelem ao saracoteio, trejeitos retro, trovões de ritmos vigorosos e, acima disso tudo, doses incontinentes de inovação. Do aluvião de recobramento da alma rock fundado pelos escoceses, emergiram bandas como os Futureheads, os Dogs Die in Hot Cars, os Hot Hot Heat, os Kaiser Chiefs e os Bloc Party. O baluarte e rampa de lançamento foi o álbum Franz Ferdinand (2004). O andamento do primeiro tomo é denominador comum a You Could Have it So Much Better, ainda que esteja dissipada a impressão de novidade do ano anterior. Ainda assim, a banda continua confiante e a debitar cargas rock inevitavelmente dançantes, cheias de convulsões e viragens inopinadas. A antecipação é improvável na música dos Ferdinand porque a matéria musical dos escoceses é deliciosamente volúvel e imprevisivelmente cativante. Mesmo nos registos mais pausados e esotéricos - as baladas "Eleanor Put Your Boots On" e "Fade Together". Depois, a integridade do som do grupo parece ter atingido outro nível, graças à decoração de Rich Costey (produtor dos Mars Volta), elemento alargador da paleta musical dos Ferdinand que trouxe pitadas de outros universos à casa de Kapranos e companhia.

Mesmo que algumas faixas de You Could Have It So Much Better pareçam versões light dos Ferdinand, o disco esgueira-se ao estatuto de segundo-disco-falhado-depois-de-uma-estreia-pomposa. O novo álbum não se desvia consideravelmente do antecessor mas não deixa de ser um registo com aptidões próprias, solidificando o estatuto destes irónicos escoceses e confirmando-os como um dos ensembles mais entusiasmantes da cena rock actual. A vaga de fundo já foi propagada, agora os Franz Ferdinand surfam inabaláveis na onda. Que isso não lhes traga desleixo...Por ora, aceitando a mofa do título do disco, será que podíamos ter muito melhor?

Procure na grafonola as faixas "The Fallen", "Eleanor Put Your Boots On" e "I'm Your Villain"