domingo, 30 de outubro de 2005

My Morning Jacket - Z

Apreciação final: 8/10
Edição: ATO/Badman, Outubro 2005
Género: Pop-Rock Alternativo/Country Alternativo
Sítio Oficial: www.mymorningjacket.com








A filiação do mundo musical dos My Morning Jacket à estética da velha escola country não se confina à voz nasalada (ao jeito de Neil Young) do epicentro criativo do quarteto, o vocalista/compositor Jim James. Mais do que isso, a disposição das canções do ensemble americano acolhe o traço classicista das mais marcantes raízes da música americana e conforma-as a normas regeneradoras, sem desprimor para as suas medidas originais. O fim não é a altercação com o passado, antes a restauração criteriosa de um género eterno. E os My Morning Jacket fazem-no, neste trabalho (o quarto da sua existência), com o apuro de uma arrumação pop sem pejo de chamar a si a reverberação do rock ou o serviço diligente das teclas, numa escrita cerrada, criativa e estilisticamente exuberante. Afora isso, há em Z um reforço da faceta experimental do grupo, particularmente notória no redimensionamento da abstracção das canções que, sem se tornarem evasivas, se desmultiplicam com fulgor e irreverência. O alcance dessas impressões é ilimitado: elas emancipam-se e sobejam além dos quarenta e poucos minutos do disco; ficam como que ressonantes, espiam-nos o âmago, seduzem-nos até a mais ínfima molécula, prendem-nos a consciência e enfeitiçam-nos irremediavelmente.

Z é um monumento musical que, além de invocar memórias indeléveis, deixa o selo distintivo de uma banda capaz de urdir uma fibra musical simultaneamente contemporânea e clássica, com canções adultas e que humildemente se empossam dos paradigmas pop dos R.E.M, dos U2, dos Mercury Rev, dos The Clash, de Mark Kozelek e de Neil Young, entre outros, para os reconverter a um dialecto alternativo e espiritual. Neste místico alfabeto, ao invés de ser o ómega, talvez a letra Z seja apenas o começo...

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