Scout Niblett - Kidnapped by Neptune (6/10)
Muitas vezes comparada a P.J. Harvey, Björk ou Cat Power, Scout Niblett subscreve, no terceiro registo de estúdio da carreira, a mesma fantasia rock de outros tempos, assente numa voz melíflua que afronta rumores angulares de guitarra e percussões rudimentares. A orgânica é minimalista e quase desarrumada; as estruturas deixam o ouvinte num estado hipnótico do qual desperta, em alguns instantes do disco, com a frustração de não descobrir o clímax anunciado. O vanguardismo poeirento e experimental de Niblett (alguns temas parecem B-sides dos Nirvana ou de Harvey) saúda-se embora pareça orfão de uma definição mais rigorosa das composições. Se alguma vez Niblett lá chegar, talvez melhor se descodifique a espiritualidade e o mistério das suas fórmulas.
Too Pure, Maio 2005
Flipsyde - We the People (5/10)
Crítica social em formato hip-hop com um fundo musical que explora, com alma latina, a soul e o funk é a proposta dos Flipsyde. Eles foram a banda de suporte dos Black Eyed Peas e as semelhanças entre os projectos não são mera coincidência, ainda que os Flipsyde assumam outras considerações políticas e abracem uma sonoridade ligeiramente mais rock que, aqui e ali, faz lembrar Dave Mathews (ouça-se "Angel") ou os Living Colour (especialmente na faixa "Time"). We the People é jovial, tem uma boa dinâmica e, apesar da produção desproporcionada, não deixa de ser uma estreia suficiente deste quarteto americano.
Interscope, Junho 2005
Armando Teixeira - Made to Measure (6/10)
Responsável pelos projectos Bullet e Balla, Armando Teixeira tem sido um dos compositores nacionais mais activos nos últimos tempos. Este disco, lançado numa edição limitada e exclusiva de comemoração do décimo primeiro aniversário da Fonoteca Municipal de Lisboa, é uma mostra do trabalho menos popular do músico, também da sua faceta mais (des)construtivista. Do alinhamento fazem parte alguns trechos musicais que integraram espectáculos teatrais, uma faixa dedicada a Carlos Paredes (anteriormente incluída na compilação Movimento Perpétuo) e o inédito "Les Mutations". Made to Measure é um disco de estúdio e que põe à prova a destreza de Teixeira com samples e loops, num registo próximo de Bullet que acolhe o lounge, o jazz, a música tribal e a electrónica. O principal problema: as aptidões do músico surgem aqui sem a homogeneidade de outros trabalhos. Ainda assim, Vladimir Orlov mantém o toque de inspiração.
Fonoteca Municipal de Lisboa, Maio 2005
The National - Alligator (7/10)
Algures entre a folk americana mais vernácula e a pop viva da Grã-Bretanha está o som dos The National. A proposta é um pop-rock maduro e reflectido, à custa de canções de balanço intuitivo, com uma produção reservada mas competente e alguns refrões que se entranham subitamente. Amores deteriorados, relações humanas e contemplação metafórica são a espinha dorsal deste Alligator. Não há um pouquinho de Cave ou Tindersticks também?
Beggars Banquet, Abril 2005
The Perceptionists - Black Dialogue (7/10)
Mr. Lif, Akrobatik e DJ Fakts One são os protagonistas do conceito the Perceptionists. Aqui não há lugar a paninhos quentes, o discurso é directo, ácido, sem rodeios, e manifestamente propenso ao esquentamento das orelhas de George W. Bush e Dick Cheney e restantes membros da administração americana. "Where are the weapons of mass destruction?/we've been looking for months and we ain't found nothin'/please Mr. President tell us somethin'/we knew from the beginning that your ass was bluffin'" é glosado na faixa "Memorial Day" e resume a alma rebelde da tripla. O resto é underground rap não contaminado com as perversões do mainstream, muito scratching e um mosaico sonoro sem vergonha da electrónica. Hip-hop à moda antiga.
Definitive Jux, Março 2005
1 comentário:
Já estive hesitante sobre o cd dos The National. Acho que vou arranjá-lo depois destes apARTES.
Abraço
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