segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Princess Superstar - My Machine

Apreciação final: 7/10
Edição: !K7, Setembro 2005
Género: Hip-Hop/Dança/Electrónica
Sítio Oficial: www.princesssuperstar.com








A nova-iorquina Concetta Kirshner (a.k.a. Princess Superstar) alia uma voz amotinadora e indomável a uma atitude hedonista e cinicamente sensual. A divisa musical de Kirshner é um rap afrontoso e praguento, apimentado com algumas obscenidades e apoiado num tecido musical electrónico (não fosse este um lançamento da !K7), com batidas mecanizadas, compassos devidamente estruturados e sintetizadores adulterados. Nesta edição, Princess Superstar estendeu as fronteiras das suas raízes hip hop e concebeu um álbum conceptual que, mais do que a mensagem, se impõe ao auditor à custa de um sentido de humor refinado que ajuda a camuflar a agressividade explícita das conotações sexuais e demais excessos das letras. E que nos conta Kirschner? O ano é 2080 e o entretenimento no planeta Terra cinge-se a uma única celebridade (a própria Princess Superstar...) e à dezena de milhar de clones subservientes. A rebelião dos clones (os duplicants) e o declínio da estrela egocêntrica serve de mote para questionar a futilidade do estrelato e do culto da fama, a degeneração da identidade, a frivolidade da ostentação e a fruição vã do estatuto. Numa hora e dez minutos, Kirschner maneja habilmente o simbolismo de uma sociedade imaginada (a utopia de algumas celebridades presumidas da cena musical actual?) e deixa uma declaração anti-presunções da cultura pop.

My Machine é tudo menos um álbum ortodoxo. É música de dança, é hip hop, é electrónica, é spoken word, é electro-rock, é house, é punk; é também uma (des)construção de mitos, de limites ou convenções. O lendário Arthur Baker supervisiona a produção de um conto distópico de ficção científica que, nas palavras chocantes - também humoradas - de Kirschner, se aproxima do registo orgânico dos Fischerspooner, dos sussurros de Missy Elliot ou da infâmia de Peaches. Mas há mais para descobrir em My Machine. Atreva-se a divagar num futuro ambíguo onde a estrela de Princess Superstar cintila. Com este brilharete, não é já altura de ela merecer a vénia do presente? Mas sem clones...

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