segunda-feira, 3 de março de 2008

Nick Cave & The Bad Seeds - Dig!!! Lazarus Dig!!!




Depois de alguns desvios criativos recentes, mormente com o projecto Grinderman e algumas composições para a sétima arte - a mais notada em partilha com Warren Ellis (também integrou os Grinderman) para O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford, de Andrew Dominik - Nick Cave retoma o percurso que divide com os Bad Seeds há mais de duas décadas. Se o isolado exercício homónimo dos Grinderman, editado no ano transacto, desvendava uma certa nostalgia dos ambientes poeirentos e nervosos da garagem, a recordar os tempos distantes dos Birthday Party, o novo Dig!!! Lazarus Dig!!! recupera parte desse propósito estético, não se coibindo de buscar o conforto de registos "sujos" e, ao mesmo tempo, temperá-los com uma belíssima produção e um ou outro extravio experimental (ouça-se, como exemplo, a soturna "Night of the Lotus Eaters"). Mas mais do que meramente demonstrar qualquer espécie de continuidade (nunca foi esse o cunho de Cave!), o álbum é, acima de tudo, um teste ao gozo do desassossegado australiano na escrita de música e uma revisitação às várias métricas e conceitos de uma carreira que o tempo ajudou a definir como duradoura e incontestável.

Cabem aqui as já usadas competências de explorador de profecias, mitos e crenças religiosas - a evocação do emblema bíblico da ressuscitação, Lázaro, é a mais recente adição à "colecção" - mas também os instintos idiossincráticos (e enigmáticos) de Cave, sempre sublinhados por uma refinadíssima ironia: as mulheres amantes, o hedonismo e a morte que marcha ao nosso lado. Musicalmente, Dig!!! Lazarus Dig!!! é tão vernáculo quanto pode ser um disco de Cave, necessariamente poroso (haverá certamente quem o considere pouco "coeso"), por vezes de uma simplicidade técnica desarmante (a estrutura mínima de acordes de "More News From Nowhere" ou de "Night of the Lotus Eaters" é um paradigma disso), mas sempre pontuado por poemas subversivos, bem escritos e humorados e uma verve que não cessa de efervescer. Mais uma oportuna lição do cinquentão do rock aussie...

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