segunda-feira, 17 de março de 2008

Autechre - Quaristice

6/10
Warp
2008
www.autechre.ws



Embora nas edições mais recentes do selo Warp se encontrem alguns mediáticos desvios estéticos (!!!, Battles, Maxïmo Park ou Jamie Lidell, por exemplo) ao seu corpo editorial "tradicional" - no que pode ser visto como uma segunda página do cardápio, claramente sem o sublinhado das electrónicas - a verdade é que o grosso dos lançamentos da editora inglesa continua a abrir espaço para ousadias de experimentalismo electrónico, com o mesmo espírito pioneiro dos primeiros dias. Com quase vinte anos de ímpar afirmação junto de uma extensa legião de melómanos devotos das linguagens sintéticas mais eruditas e excêntricas, a Warp viria a tornar-se o berço desbastador da criatividade de muitos artífices que têm hoje (ou tiveram) "peso" no universo da electrónica, casos de Richard David James (Aphex Twin, AFX, GAK, Q-Chastic), Dj EASE (Nightmares on Wax), Mark Bell (LFO), Mike Golding e Steve Rutter (ambos no conceito B12), Richie Hawtin, Alex Paterson (The Orb), Andrew Weatherall (The Sabers of Paradise, Two Lone Swordsmen), Tom Jenkinson (Squarepusher), Scott Herren (Prefuse 73, Savath & Savalas), os Antipop Consortium, os Black Dog, entre muitos outros. Dessa extensa lista constam também os nomes de Rob Brown e Sean Booth, parceiros criativos da dupla Autechre (fundada em 1987), dois dos mais sonantes intérpretes da esfera IDM (Intelligent Dance Music) e da electrónica abstracta.

Quaristice, nono registo da dupla de Rochdale, encontra-os na segurança de um som apurado ao longo dos anos, assente sobretudo em estruturas rítmicas de alguma complexidade, no devaneio de alheamento sci-fi do costume e no desprendimento formal (ou desconstrução?) que os torna inconfundíveis. Sem agravo da eficácia do disco, há sombras de um saudável revivalismo, de nostalgia do tempo em que a música para mexer os neurónios pouco mais era do que um mero produto especulativo, clandestino e pessoal. Nesse particular, os Autechre guardam uma irrepreensível fidelidade à sondagem de novos limites para a experimentação electrónica (depois de uma génese essencialmente vocacionada para a techno), erguendo-se como uma das mais dinâmicas forças da electrónica para ouvir e pensar. Assim também Quaristice se faz em visitas demoradas e pausadas, pese embora a invulgar (na discografia Autechre) urgência dos trechos, poucas vezes acima dos quatro minutos, e a extensão do alinhamento (duas dezenas de faixas!). Danos na coesão? É verdade que sim, mesmo olhando à definição pouco consensual de harmonia dos Autechre. Em tudo o mais, o álbum é nervoso, agitado, convulsivo e embaraça-se, aqui e ali, em indecisões de fôlego e pulso. Aquilo que fora a mágica arte do sublime Tri-Repetae (1995), obra magna da dupla, assemelha-se aqui a um espelho de hesitações, onde se reflectem fragmentos menos magros do que parecem à primeira audição mas, ainda assim, marcados pelo desconforto de fins abruptos ou de divagações sem rumo. Mais melódicas e amplas, também menos cifradas na construção, as faixas de Quaristice deixam à produção a incumbência de disfarçar prolixidades, incertezas e desarmonias do alinhamento. E embora a coisa até saia muito bem camuflada atrás de algumas vinhetas bem urdidas ("Altibzz", "Rale" e "Tankakern" são as novas bandeiras do vanguardismo "típico" de Brown e Booth), não se chega a ouvir o disco que, vencidos três anos de silêncio, se esperava dos Autechre.

Posto de escuta AltibzzIRaleITankakern

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