sexta-feira, 14 de março de 2008

The Kills - Midnight Boom

7/10
Domino
2008
www.thekills.tv



Se questionarmos racionalmente as potencialidades criativas que se podem extrair do trinómio voz/guitarra/máquina de beats e, sobretudo, a longevidade de uma fórmula musical que se alimenta apenas dessas substâncias, impõe-se creditar ao par anglo-americano The Kills o reconhecimento da sua persistência. Justiça lhes seja feita, então: Jamie "Hotel" Hince e Alison "VV" Mosshart não só se têm mantido fiéis a uma cartilha punk blues minimalista e de garagem, como têm sido capazes de contornar as limitações estéticas da sua própria composição instrumental ao assegurarem um substrato de originalidade e insurreição em cada disco. Em paralelo com a rebeldia demonstrada na hora de escrever canções, o duo assumiu repetidamente uma postura de confrontação face àquilo a que chamaram o corporativismo editorial e às normas "protocolares" de comportamento de um artista. Não se estranha, portanto que, ao terceiro título do seu percurso, os The Kills sejam ainda orgulhosos enfants terribles do orbe rock, pouco dados a entrevistas e ao contacto com os públicos, bem como a conflituosa convivência que vêm mantendo com a comunidade crítica, alimentado ódios de estimação e namoros pontuais.

Em termos estritamente musicais, Midnight Boom desvenda uma certa inflexão de estilo, especialmente se comparado com o seu antecessor - e mais monocromático disco da dupla - No Wow. No novo opus detecta-se, desde logo, um cuidado acrescido na produção: por detrás do habitual registo "sujo" dos The Kills, há lugar para vozes mais trabalhadas, para a introdução pontual de palmas e percussões com mais estrutura e isso empresta às composições outro corpo e, sem dúvida, um alento para experimentar órbitas estéticas novas. Na essência, ainda que Midnight Boom não perca de vista paridades com o histórico rock insurgente, sexy e visceral de VV e Hotel, acaba por decifrar prioridades distintas, onde as máquinas e os sons de síntese dobram as guitarras, sob o pano de polir. É assim, mais urbano e de sanhas domadas, que se faz o novo álbum. E nesse registo simultaneamente mais suculento (os tais pormenores da produção) e mais vocacionado para redesenhar a firmeza das canções, reside, afinal, a alma que os The Kills sempre tiveram: as afinidades com a urgência punk e os blues primários, os amores platónicos com o noise, a sedução da pista de dança (Armani XXXchange, produtor dos emergentes Spank Rock, plastifica as beats do disco) e doutrinas de hedonismo. E com altivas construções como a dançante "Cheap and Cheerful", a pop ímpia de "Tape Song", a minimalista "Black Balloon" ou a sensual "U.R.A. Fever", nem é preciso subir os dBs do amplificador para descobrir que a verve instável dos The Kills não depende da forma. Tem vida própria.

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