segunda-feira, 10 de março de 2008

Stephen Malkmus & The Jicks - Real Emotional Trash


6/10
Domino
Edel
2008
www.stephenmalkmus.com



Desde a cessação dos Pavement, o californiano Stephen Malkmus protagonizou um percurso solitário em que soube erguer uma identidade própria, fazendo uso do espírito independente que herdou ao leme do colectivo mas, ao mesmo tempo, sendo capaz de demarcar-se da "pesada" sombra de um legado artístico reconhecido e, sobretudo, do perigo de se limitar ao decalque de conceitos. Três álbuns depois, Real Emotional Trash vê a luz do dia sob suspeitas de que a febre das reuniões de bandas desintegradas venha a tocar também os Pavement. E a onda especulativa parece ter contaminado a escrita de Malkmus, ou não fosse este, do quarteto de álbuns em nome próprio, aquele que mais revela proximidades com o seu próprio passado criativo. Percebe-se, tão claramente como se sentia em alguns momentos dos Pavement, o gosto em procurar órbitas fora das convenções e, assim, desenhar canções sem compromisso formal, mas com destino definido. Depois, atrás dessa liberdade (libertinagem?) criativa, vêm afinidades com o lado mais emocional do rock progressivo (o exemplo mais notório mora no tema-título) e uma predisposição para desmontar as estruturas que os primeiros acordes de cada composição anunciam. Nesse particular, Real Emotional Trash mostra um sensível desembaraço de estúdio, muitas vezes derivando para aquilo que parece mais ser o registo de uma sessão de improviso ou de um ensaio do que propriamente uma obra terminada.

Nada a opôr a essa matriz (des)construtiva, não fosse o problema de, na maior parte desses instantes, se instalar um ligeiro desgoverno que, podendo vir a deliciar adeptos de música livre, acaba por ofuscar propósitos e sentidos finais de cada peça e, no lugar destes, instalar a repetição ou, em alguns casos, a indefinição. Ainda assim, como não podia deixar de ser num disco de Malkmus, há trechos que recompensam a indulgência do ouvinte face ao enigmático psicadelismo e à flacidez do alinhamento: "Baltimore" é um alienado exercício de rock progressivo (onde se desvenda a utilíssima ajuda da nova membro dos The Jicks, Janet Weiss, voz e percussão das Sleater Kinney), "Gardenia" e "We Can't Help You" são o contraponto de luminosidade, "Dragonfly Pie" é um curioso mosaico rock. E assim se sublinham as ambivalências de Real Emotional Trash. Não espanta que ele suscite opiniões contrastantes que, goste-se ou não do resultado, certificam a autoridade de Malkmus como compositor a quem poucos ficam indiferentes.

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