Começa a ser motivo para teses sociológicas o aparecimento de uma linhagem contemporânea (e crescente) de músicos em Brooklyn, a maior parte dos quais fiéis a compromissos estéticos presos a coisa nenhuma e marcados, sobretudo, pela definição de novas amplitudes para a expressão indie. Centro nevrálgico de alguns dos mais estimulantes conceitos da música nova-iorquina actual (Yeasayer, Animal Collective, Vampire Weekend, Au Revoir Simone ou The Cloud Room, por exemplo), o condado de Brooklyn é também a casa "emprestada" dos MGMT (acrónimo de management), conceito artístico que Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden iniciaram há cerca de seis anos e que, saltou para o mediatismo, com o lançamento do EP Time to Pretend, no início de 2005. De então para cá, a afirmação dos MGMT foi imparável: concertos de abertura para os Of Montreal, contrato discográfico com a Columbia, reconhecimento de algumas das publicações mais relevantes do mundo jornalístico ligado à música, álbum de estreia - precisamente este Oracular Spectacular (lançado digitalmente no final de 2007) - generalizadamente aclamado. E o que tem o álbum destes rapazes de tão especial para gozar entronização tão súbita?
Em linha com algumas das tendências mais recentes de Nova Iorque, os MGMT demonstram vontade de não barrar, ao acto de criação musical, qualquer subterfúgio estético. Dir-se-ia que, a esse propósito, aquilo que Goldwasser e VanWyngarden tão prosaicamente embrulham no trio de palavras que dá rótulo à sua música (vide Myspace) - Surf, Jungle, Country - não é mais do que a jocosa tentativa de abreviar uma massa sonora tão deliciosamente livre e completa que dificilmente qualquer classificação deixaria de ser redutora. De facto, Oracular Spectacular começa por deliciar pela luminosidade que põe na mescla de rock espacial e psicadélico (as guitarras são o trunfo), com pitadas dos melhores momentos do glam e da pop sintética e colorida (aqui valem os sintetizadores). É aí que se centra o nervo do disco, a ele se juntando o equilíbrio das réguas da produção de Dave Fridmann, a trazer ao álbum o mesmíssimo (e igualmente imparável) caleidoscópio sinfónico que emprestara aos Flaming Lips, um meio-termo entre o devaneio futurista de infantes com ilusões megalómanas e a nostalgia retro de conhecedores. Em todo o caso, o álbum sai bem da aposta numa genética simples para as canções: melodias breves, redondas e sem complexidades, ambientes com a urgência e desconforto próprios de juvenis e espírito inventivo. Nessa tentativa de, tal como outros conterrâneos da mesma geração, desenharem uma rejuvenescida arquitectura para a pop contemporânea, os MGMT desvendam em Oracular Spectacular a dose de criatividade que pode precipitá-los para as preferências de muitos melómanos não conformistas. O começo é indiscutivelmente bom, a despeito de alguns equívocos pontuais. Esperemos que nem estes, nem o sucesso instantâneo, venham a confundi-los em próximos capítulos...
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