sábado, 29 de março de 2008

Meshuggah - ObZen

7/10
Nuclear Blast
2008
www.meshuggah.net



Se há coisa que os suecos Meshuggah refinaram com o tempo - e eles já estão nestas andanças há mais de vinte anos - é uma inventiva aptidão para melhorarem o seu registo sonoro a cada momento discográfico, movendo-se entre os inúmeros estímulos que o universo metal tem para oferecer. Nesse particular, assumem especial protagonismo o líder criativo da banda, Fredrik Thordendal, notabilizado pelo recurso a guitarras de oito cordas para concatenar sequências de acordes únicas e definidoras de múltiplas identidades, e Tomas Haake, maestro da secção rítmica, cujas descargas e desabamentos da bateria arrumam as várias "caras" dos Meshuggah num determinado contexto estético. Desde as primeiras manifestações destes escandinavos se percebeu a prevalência pelo investimento em causas pouco convencionais, no fundo uma saudável convicção de que nas margens dos paradigmas de estilo e, sobretudo, nos espaços comuns entre as diversas "escolas" metal, subsistem muitos vectores de inspiração. Assim, tornou-se notada a forma como os Meshuggah paulatinamente cresceram, mormente a partir da obra-prima Destroy Erase Improve (1995), para um magnífico híbrido entre as urgências monstruosas do trash, a estruturação com coordenadas progressivas, os ambientes quase-industriais e a inconstância rítmica do math metal. Dir-se-ia que a maturação de Thordendal, Haake e seus pares subjugou o preconceito histórico de que qualquer produto metal seria um exercício de boçalidade e, por inerência, jamais se permitiria qualquer veleidade intelectualista. Eles, não só serviram máquinas musicais de quilate novo, claramente elevando níveis face à concorrência, como redesenharam o panorama metal ao inscreverem-se num género próprio, sem fronteiras e esteticamente muito sólido e coerente. Inclusivamente, tiveram a argúcia de agitar as águas quando parecia instalar-se um certo formulismo, renovando a temporização das suas canções, primeiro no EP I, de 2004, com uma peça única de vinte e um minutos e, depois, no álbum Catch Thirty-Three (2005), onde dividiram quase aleatoriamente, em treze pedaços, uma composição una de quarenta e sete minutos.

ObZen, sexto registo, abre com as detonações trash de "Combustion", desviando o foco para o vigor e potência, ao lado do costumeiro contorcionismo rítmico da banda. A tendência espalha-se ao restante alinhamento, num registo porventura mais directo, frenético e maquinal do que noutros capítulos dos Meshuggah, mas não menos técnico e preciso. "Bleed", terceiro trecho do disco, é sintomático do dinamismo asfixiante - escute-se a singular dimensão do enlace entre guitarras e percussão (aqui sem os fetichismos electrónicos do álbum anterior) - e da declaração de ferocidade imprimida neste trabalho. Ao mesmo tempo, a despeito de ser um disco estruturalmente mais "tradicionalista" - há menos espaço para a desconstrução de formas e, aí, o álbum pode deprimir algumas ilusões dos indefectíveis da banda - a marca única dos Meshuggah é-lhe transversal, seja nas aparições pontuais de experimentalismo melódico ou nas secções progressivas das composições. E, sendo um Meshuggah, não há assunto sem emoções fortes.

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