Chega agora aos escaparates mais uma das expressões de revivalismo que, nos últimos tempos, tomaram a orbe rock. Trata-se do regresso discográfico dos míticos Bauhaus, quase um quarto de século volvido desde o último registo de estúdio, Burning From the Inside (1983). Durante a curta primeira vida (1978-83) do colectivo liderado por Peter Murphy, a banda editou um quarteto de álbuns onde vincou decisivamente ao que vinha. Apostando em assumir uma descendência negra do glam-rock, Murphy e companhia colheram, a despeito de uma não muito pacífica relação com a crítica especializada, a simpatia de uma considerável legião de fãs de várias tribos e identidades. Dos adeptos da urgência e electricidade punk aos sorumbáticos góticos, dos devotos de Bowie aos experimentalistas do rock industrial, poucos foram aqueles que não sentiram o fim dos Bauhaus, mesmo com a ininterrupta (e discreta) actividade a solo de Peter Murphy ou dos restantes três Bauhaus (Daniel Ash, David J e Kevin Haskins), reunidos como Love & Rockets. De então para cá, com a excepção mais ou menos óbvia de Trent Reznor (Nine Inch Nails), poucos projectos musicais conseguiram somar algo ao vazio deixado pelo termo dos Bauhaus e, em última análise, isso atribuiu uma carga quase mitológica ao legado do quarteto britânico. O muito saudado segundo regresso aos palcos - depois de uma digressão pontual, há coisa de dez anos - com o alinhamento original da banda, já em 2006, fez crescer nostalgia e expectativas quanto a um novo trabalho que, nas palavras de Murphy, será o requiem definitivo dos Bauhaus, o canto do cisne.
Musicalmente, Go Away White não tem surpresas e quase soa anacrónico, tal a fidelidade com que decalca os postulados que celebrizaram a banda no passado, inspirando-se na densidade emocional de um rock cru, de essência minimalista e a invocar uma certa teatralidade lúgubre. Nesse sentido, o álbum é, mesmo com o intervalo de vinte e cinco anos, um sucessor natural de Burning From the Inside, com uma diferença muito penalizadora: a inspiração, aqui, é mínima. Tirando um ou outro momento que sacia saudades do passado, mormente nas composições mais sombrias (como a interessante "The Dog's a Vapour"), Go Away White resume-se a fórmulas gastas, mesmo cristalizadas, e poucos fôlegos cativantes. Se estas vão ser, de facto, as últimas manifestações dos Bauhaus - nestas coisas da música, um adeus nem sempre é para ser tomado como um fim - mais vale recordá-los na fase 1978-83. E deixar que a memória preencha os vazios que Go Away White não remedeia...
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