Quando se apresentou aos grandes públicos em passinhos de lã, com o interessante cartão de visita que foi "Dream On Girl", poucos se lembrariam do "estágio" de Rita Pereira nos entretanto esquecidos (e discretos) Atomic Bees e alguns tê-la-iam já visto ao piano, nos mesmos palcos de David Fonseca. Para trás estavam também anos de tirocínio artístico e um laboratório de episódicos capítulos noutros projectos musicais, a sustentaram a maturação (e consequente afirmação no espaço mediático) de uma identidade que se mostra como Rita Redshoes. Trata-se, sobretudo, de um alter-ego a que os anos de concertos e estúdios conferiram uma definição musical sem presunções nem pedantismo e onde se manifestam "deformações" académicas (o gosto pelo piano é uma delas) na hora de escrever, um cuidado no detalhe das formas (a produção é luminosa) e uma genuína assinatura de intimidade e realismo. A rematar esse compromisso de subjectividade do disco (leia-se, centragem na consciência), Rita empresta às canções uma voz que faz melodia de histórias do quotidiano e de múltiplas imagens do amor. O resto é-nos dado pela viveza das composições, melhores na musicalidade do que nas letras - a esterilidade pontual de alguns lugares comuns é um ponto em desfavor - mas essencialmente demonstrativas de um frescor pouco comum cá no burgo, um misto de candura folk feminina, fragrâncias rock, quimeras de coros pastorais e orquestras de bolso. No final, sobra um estilo pessoal que, mesmo não ficando a salvo de um ou outro cliché, estabelece Rita Redshoes como uma das mais suculentas revelações lusas para este ano. E Golden Era como um muito competente registo de debute.
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