segunda-feira, 24 de março de 2008

Why? - Alopecia




Se inicialmente a sigla Why? era apenas a máscara mediática do prolífico Yoni Wolf (um dos fundadores do selo Anticon, da California, e protagonista de incontáveis parcerias artísticas), o conceito foi progressivamente abraçando um alinhamento regular de músicos, vindo a tornar-se uma banda de corpo inteiro no segundo longa-duração (Elephant Eyelash, de 2005), com Josiah Wolf (irmão de Yoni, bateria), Doug McDiarmid (multi-instrumentalista) e Matt Meldon (guitarra). Não raras vezes, o laço umbilical de Yoni à Anticon (ou ao colectivo cLOUDDEAD) trouxe ao quarteto californiano rotulações equívocas, mormente aquelas que os agregaram à turba do underground rap - afinal, o grosso do catálogo Anticon vem dessa órbita - quando, na essência, o conceito Why? nunca deixou de ser um projecto verdadeiramente indie, com alguns destinos de vanguardismo rap (ou mesmo spoken word), é certo, mas com outras substâncias somadas de permeio. A verdade é que, mesmo tratando-se de um som normalmente pouco cifrado (e, consequentemente, acessível), a música dos Why? é um híbrido de difícil catalogação, um batel navegando nas águas incertas da experimentação em linguagens indie-rock, com miradas a um certo intimismo melódico tangente dos paradigmas pop-folk ("Fatalist Palmistry" é o melhor exemplo disso), ou incursões por uma espécie de intelectualismo hip-hop.

O resultado, particularmente na galeria de imagens deste Alopecia, é ambivalente: ora harmónico, íntimo e sonhador ("Song of the Sad Assassin"), ora abstracto, inquieto e desafiante ("Good Friday", auge do disco, ou "The Hollows"), ou as duas coisas ao mesmo tempo (escute-se, a esse nível, a belíssima "Simeon's Dilemma"). Em todo o caso, a despeito das inconsistências e obliquidades que, bem vistas as coisas, compõem a entidade Why? (por essas e por outras, uma personalidade musical assim porosa nunca terá um disco genial), o disco revela ápices de encanto que dificilmente encontram paralelo noutros actos da cena artística actual. E esse mérito não pode tirar-se às paixões camaleónicas de Yoni Wolf.

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