Embora faça com este disco o seu debute discográfico a solo, Annie Clark vem fruindo, nos últimos anos, da fertilíssima experiência de partilhar palcos (e públicos) com personagens relevantes do meio musical contemporâneo. Senão, veja-se: ela empresta habitualmente a sua guitarra ao numeroso combo dos Polyphonic Spree e, em palco, também integrou a banda de suporte das digressões do mediático Sufjan Stevens e, mais recentemente, tocou com os Arcade Fire. Dito isto, não é surpresa que este Marry Me desvende um jogo de estilos indie pop bastante diversificado, com gradações suficientemente suaves e equilibradas para não causar atropelos estéticos no alinhamento e, sobretudo, para definir uma linguagem própria. Depois, as composições, mesmo partindo de uma base acústica de construções mais ou menos "típicas" da guitarra ou do piano, estão recheadas de condimentos que as desviam das convenções, ora introduzidos pelos arranjos de cordas que envolvem os trechos, ora chamados pelo uso sensato de electrónicas em fundo. A mistura irrepreensível - suportada por uma voz harmoniosa (e elástica) como poucas, algures entre o registo colorido de Leslie Feist e as contrições de Beth Gibbons - insinua uma majestade orgânica (e instrumental) que, afinal, não pretende atingir e esse é o encanto de Marry Me. Num exercício quase tântrico, Annie Clark vai manobrando, com sapiência, meras sugestões e lampejos dessa grandeza, construindo um tomo orquestral mas intimista e com os contrastes emocionais certos para enredar o ouvinte numa teia de seduções. E fazer um disco assim, um prodígio romântico e ácido no mesmo fôlego, não é para todos.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
St. Vincent - Marry Me
Embora faça com este disco o seu debute discográfico a solo, Annie Clark vem fruindo, nos últimos anos, da fertilíssima experiência de partilhar palcos (e públicos) com personagens relevantes do meio musical contemporâneo. Senão, veja-se: ela empresta habitualmente a sua guitarra ao numeroso combo dos Polyphonic Spree e, em palco, também integrou a banda de suporte das digressões do mediático Sufjan Stevens e, mais recentemente, tocou com os Arcade Fire. Dito isto, não é surpresa que este Marry Me desvende um jogo de estilos indie pop bastante diversificado, com gradações suficientemente suaves e equilibradas para não causar atropelos estéticos no alinhamento e, sobretudo, para definir uma linguagem própria. Depois, as composições, mesmo partindo de uma base acústica de construções mais ou menos "típicas" da guitarra ou do piano, estão recheadas de condimentos que as desviam das convenções, ora introduzidos pelos arranjos de cordas que envolvem os trechos, ora chamados pelo uso sensato de electrónicas em fundo. A mistura irrepreensível - suportada por uma voz harmoniosa (e elástica) como poucas, algures entre o registo colorido de Leslie Feist e as contrições de Beth Gibbons - insinua uma majestade orgânica (e instrumental) que, afinal, não pretende atingir e esse é o encanto de Marry Me. Num exercício quase tântrico, Annie Clark vai manobrando, com sapiência, meras sugestões e lampejos dessa grandeza, construindo um tomo orquestral mas intimista e com os contrastes emocionais certos para enredar o ouvinte numa teia de seduções. E fazer um disco assim, um prodígio romântico e ácido no mesmo fôlego, não é para todos.
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