segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Original Silence - The First Original Silence

8/10
Smalltown Superjazz
Trem Azul
2007


Quando se usa o epíteto de "super-banda" para caracterizar um colectivo de músicos ilustres, invariavelmente o peso da adjectivação deriva mais da majestade individual de cada um dos protagonistas de per si do que propriamente da expressão ou perduração do conjunto. E, as mais das vezes, como comprovou a história recente do fenómeno musical, esses sacralizados colectivos são de vigência curta, raramente durando além de um ou outro episódio discográfico pontual e um punhado de actuações quase casuais. The First Original Silence é outra achega para a lista das constelações notáveis - ver-se-à depois se vem para durar. O rol de músicos é maiúsculo e reúne figuras de proa do orbe rock experimental com sumas gentes do universo jazz vanguardista. Senão, veja-se quem eles são: Thurston Moore, guitarra sobrevivente dos Sonic Youth, Jim O'Rourke, prolífico guru da cena indie (aqui ao comando das electrónicas), Mats Gustafsson e Paal Nilssen-Love, compinchas (saxofone e bateria, respectivamente) nos imponentes The Thing, Massimo Pupillo, guitarrista dos italianos Zu e Terrie Ex, libertino punk dos The Ex.

De militantes tão dedicados às feições free da música não seria de esperar outra coisa que não o que se escuta aqui, uma sessão (dividida em duas peças) de incansável e agitado improviso, onde é possível sentir a interacção e a dinâmica entre os músicos e um soberbo sentido de coesão estética. De facto, ainda que sendo um exercício de pura especulação (o encontro dos músicos aconteceu num festival italiano e sem ensaios ou composições prévias) e, nessa condição, se perceba a propensão desregrada de cada um dos discursos individuais envolvidos, The First Original Silence desvenda um idioma uno, a aproximar-se da bizarra liquidez da cacofonia e, sobretudo, segurando o interesse do ouvinte no suspenso efeito-surpresa. Sem qualquer compromisso melódico - jamais a melodia poderia subsistir na colisão espasmódica entre o noise rock e o jazz livre - o disco é arquitectado essencialmente na tensa concatenação de ideias, com os zénites e sinergias a aparecerem no momento certo e sem ponta de estagnação, mesmo naqueles instantes em que a placidez toma conta do festim. Em suma, um assombroso exemplo das virtudes da música improvisada (suplantando o bom trabalho que Moore, O'Rourke e Gustafsson fizeram com o Diskaholics Anonymous Trio e antes da estreia em disco dos OffOnOff, com a outra metade-trio dos Original Silence, lá para o Outono) e um registo autêntico de músicos que não se ficam pelos ajustes na hora de inventar sem regulamento e sem pauta. Venha de lá o encore...

Sem comentários: