quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Piana - Eternal Castle




Foi um encontro casual com Katsuhiko Maeda (mentor do projecto World's End Girlfriend), por ocasião da gravação do seu álbum Farewell Kingdom (2000), que fez o obséquio de apresentar a voz da nipónica Naoko Sasaki ao mundo melómano fora das fronteiras do Japão. De então para cá, a jovem cantora/compositora vem firmando o seu nome na povoada cena internacional da pop ambiental recorrentemente rotulada de etérea e, antes deste Eternal Castle, editou um par de registos marcados pelo desprendimento de formas das composições. Conjugando o apuro estético que herdou da formação clássica de pianista com as influências colhidas junto das melhores escolas da melodia "flutuante" (nesse particular, os instrumentais chegam a sondar ambientes de enlevo nórdico de uns Sigur Rós), Sasaki cruza elementos acústicos (pianos e cordas várias) com interferências digitais deambulantes. Depois, junta-lhes cantos de pura eufonia, com o doce acanhamento e a fragilidade de cristais de uma infância esperançosa (os trejeitos vocais são próprios de uma petiz cantora) que, com uma magnífica versatilidade, acomoda em tecidos orgânicos densos, é certo, mas leves o suficiente para tentar (e conseguir) a levitação. Cândido, onírico e apaixonante pelo fausto sensorial que deriva das construções melódicas, Eternal Castle é um álbum para escutar como um cortejo de utopias e pode muito bem ser, a despeito de um ou outro cliché tonal, o impulso derradeiro para a afirmação internacional de uma visão aprimorada (leia-se reciclagem sintética da pop clássica de câmara) do novo electro-pop japonês e de uma das suas mais insignes intérpretes. Argumentos para isso não lhe faltam.

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