As latitudes escandinavas não são propriamente terreno muito fértil para a música electrónica mas, de entre alguns honrosos intérpretes de excepção nesse estilo, destaca-se o projecto finlandês Pan Sonic (inicialmente o nome era grafado Panasonic). Espaço criativo dividido por Mika Vainio e Ilpo Väisänen há mais de uma década, tornou-se célebre a visão expansionista com que o duo estuda as potencialidades da techno minimal em combinação com texturas importadas do universo industrial, do hardcore digital ou mesmo do noise e do glitch. Katodivaihe é mais um exercício de tons analógicos inquietantes e peças fracturadas e cíclicas, sem traços melódicos definidos (nem sequer insinuados), antes denunciando um pendor de certa austeridade orgânica, na linha de depuração estética que a extensa discografia do conceito vem demonstrando nos últimos anos. Cada vez mais próximos das órbitas IDM mais caliginosas, Vainio e Väisänen (ajudados pontualmente pelo violoncelo lúgubre de Hildur Gudnadottir) prescrevem, aqui, dois tipos de construções: as mais ritmadas e ruidosas, também mais hostis para os tímpanos (como nas galopantes repetições de "Lähetys"), e as menos sequenciais, marcadas pela dispersão das texturas ("Hertsilogia" é paradigma disso) e pelos efeitos cerebrais (ouça-se a magnífica "Hyönteisistä"). Em qualquer dos casos, o desembaraço, a experiência e o conhecimento profundo das possibilidades da música sintética são notórios, desembocando em sensações auditivas (e mentais) que, não sendo de consumo imediato nem isento de vertigens, deixam sinuosos reflexos de êxtase na mente. Algures entre o ruído quase sádico e a filigrana digital da contemplação, está o lado negro da techno.
Posto de escuta Sítio da Boomkat
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