Apreciação final: 7/10
Edição: Capitol, Outubro 2006
Género: Indie Pop-Rock/Pop Erudita
Sítio Oficial: www.decemberists.com
Edição: Capitol, Outubro 2006
Género: Indie Pop-Rock/Pop Erudita
Sítio Oficial: www.decemberists.com
A pop indie já não vive sem Colin Meloy e os seus The Decemberists. Eles são uma das mais reputadas exclamações melódicas do circo pop contemporâneo, tendo esculpido um património curto (este é apenas o quarto registo da banda) mas tão robusto e substancial que faz do quinteto americano uma alusão óbvia em qualquer rol de indies musicalmente relevantes. Picaresque, unanimemente reconhecido como uma das obras essenciais do ano transacto, deixou o sabor de uma pop elegante, arredondada pela porção certa de um experimentalismo que se confunde com fantasia e teatralismo, condimentos oportuníssimos para as metáforas e símbolos dos escritos de Meloy. The Crane Wife merece idêntica erudição, tanto na lírica (imaginativa, como sempre) como nas pautas, preenchidas com as harmonias tonais e o embalo gracioso que se tornaram firma dominante da banda. Sopa no mel de estruturas simples, sons volantes e acordes que fluem naturalmente, como se houvessem sido inventados para se combinarem nestas eufonias. E esse equilíbrio ingénito é uma carícia nos tímpanos, sem contudo se perder em precipitações la-la-la ou favores à radio pop, tentação (ou imposição) que habitualmente sobrevém à assinatura com uma major. No debute pela Capitol, os The Decemberists são fiéis a si mesmos, guardam os mesmíssimos princípios de Picaresque, eventualmente abreviando o gradiente de cores, em prol de um som que, sem perder a majestade instrumental, segue uma espia mais lacónica. O que é o mesmo que dizer que Meloy e seus pares põem, neste capítulo, menos fé no laboratório e mais crédito na causa das canções. E são boas as canções que servem o conto japonês por detrás de The Crane Wife, disso não há dúvidas, mesmo que fiquem um tanto aquém da eminência de outros momentos.
"The Island", peça maior (em tempo e atributo) do disco, e "Yankee Bayonet" fazem a melhor sinopse que este álbum podia ter. Na primeira, está lá tudo, numa sequência progressiva de três composições (coisa a fazer lembrar a peça única de The Tain, EP de 2004) que se alinham numa só e onde se percebem as pontes óbvias com Picaresque e, em simultâneo, ao que vem The Crane Wife e como a banda sabe o que faz: belas melodias, arranjos convenientes, alternâncias e elasticidade estrutural, mescla de géneros, ensaios e contorcionismos instrumentais. Já "Yankee Bayonet", com a voz de Laura Veirs em dueto com Meloy, mostra-nos a face mais viva das melodias e a urgência estrutural da simples canção pop que, mesmo com uma lírica trágica, demonstra uma tendência triunfante.
Dois caminhos para uma pop instruída, dois traços característicos de uma banda especial com queda para fazer do drama proverbial o mantimento de sonatas refinadas. The Crane Wife é uma adição oportuna ao universo dos The Decemberists e, mesmo não tendo a consistência de outros discos do grupo (a estéril "When the War Came", ao estilo de uma dormente cadência hard rock, é um dos exemplos de embaraço), é um ciclo de canções compensadoras. E os The Decemberists continuam a ser um ensemble cheio de virtudes.