terça-feira, 17 de outubro de 2006

Bonnie "Prince" Billy - The Letting Go

Apreciação final: 8/10
Edição: Drag City/Domino, Setembro 2006
Género: Indie Folk/Lo-Fi
Sítio Oficial: www.bonnieprincebilly.com








Não é que se deva esperar de Will Oldham qualquer espécie de rebuliço, esse não é o padrão do autor, mas os primeiros acordes de The Letting Go são prenúncio de um disco de aconchegante intimismo, com violinos em suspensão romântica, a dar o mote (e o timbre) para o quinto registo de Oldham como Bonnie "Prince" Billy. Com pezinhos de lã, ele fez-se ícone de uma folk tradicionalista, como estampa de uma América pessimista e vigilante das calendas antigas, de semblante opaco e taciturno, sorrisos ocos de esguelha e olhares sumidos nas vastas campinas. Assim errante e incorpórea é a música de Oldham, com estilhaços apocalípticos, necessariamente estreita na ousadia instrumental (as guitarras tímidas são o coração e a alma), como convém ao fraseado confessional das harmonias do disco. Nesse recato, The Letting Go não destoa da remanescente obra de Oldham. Notícia original é o apuro dos arranjos, destacando-se a entrada de orquestrações apetrechadas com outras cordas (os violinos e violoncelos arranjados por Nico Muhly), o adiantamento da percussão a escalas maiores (pela mão do percussionista dos Dirty Three, Jim White) e, last but not least, o canto feiticeiro de Dawn McCarthy, belíssima tiple dos Faun Fables, adição mais do que oportuna às fábulas tântricas de Oldham. As substâncias são arrumadas com elegância ímpar graças à produção do islandês Valgeir Sigurosson, engenheiro predilecto dos Múm e cúmplice ocasional de Björk, que, sem beliscar o temperamento americano das composições, lhes soma bálsamos únicos, ora nos enxertos instrumentais que amiudadamente adornam o esqueleto das composições, ora na conformidade que vincula os diversos elementos das peças. Além do intuitivo ganho dimensional da música, a inscrição vocal de Oldham é mais límpida do que antes, lucro da bipolarização com McCarthy, dando um pulso novo ao fatalismo claustrofóbico das histórias de Oldham.

The Letting Go é da melhor filigrana Oldham, disso não sobram dúvidas. A fragilidade das composições é a costumeira e, mesmo merecendo um revestimento orquestral mais ambicioso (até há reflexos glaciares à Sigur Rós em "God's Small Song"), as estruturas harmónicas retêm o disfarce da simplicidade quase acidental e a profundidade contemplativa do cancioneiro Oldham. Tonalmente diverso, The Letting Go é, seguidamente às silhuetas deprimidas do notável I See A Darkness (1999), o melhor fascículo de Oldham e da ciência trémula de um surrealismo lírico que, como poucos, encontra na estação outonal o seu porto seguro.

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