Apreciação final: 7/10
Edição: Matador, Setembro 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.yolatengo.com
Edição: Matador, Setembro 2006
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.yolatengo.com
Tentar resumir aquilo que os norte-americanos Yo La Tengo simbolizam para o rock alternativo americano obriga-nos a olhar uma vintena de anos para trás e a julgar cerca de uma dúzia de longa-durações. Eclectismo é o termo consentâneo para caracterizar um percurso de deliciosas discrepâncias que, com idêntico esplendor, deram à estampa álbuns bem construídos, ora com o frémito do noise rock estridente, ora com a placidez da pop açucarada. A personalidade musical dos Yo La Tengo faz-se de indeterminação estética, sinónimo maior de talento elástico, e isso é particularmente sensível em I Am Not Affraid of You and I Will Beat Your Ass. Com efeito, na primeira gravação de estúdio em três anos, Kaplan e seus pares revalidam essa propensão ecléctica numa dezena e meia de canções que compõem binómios de contraste: preto e branco, urgência e apatia, melodia e feedback, doce e acre. O cardápio completo dos sabores Yo La Tengo. Todavia, a diversidade rítmica do tomo não estorva a sua integridade e coesão, antes a reforça, por força da capacidade deste trio de músicos em acomodar conceitos dissemelhantes a um fio de prumo comum. É precisamente por acção desse diapasão virtual e abstracto que os Yo La Tengo não têm um disco mau e, pela mesma causa, também não têm uma gravação transcendente. Talvez por isso, decorridos vinte anos de carreira, I Am Not Afraid of You and I Will Beat Your Ass soe a compilação...mas com canções novas. Cristalização ou consistência, chame-se-lhe o que mais convier, a verdade é que revoluções sónicas não subordinam os Yo La Tengo, o som deles é esta matéria avessa a mudanças e nenhuma outra, não há ensejos reformadores. Mas deve pedir-se tal coisa a um dos mais afoitos assinantes do eclectismo da música americana?
O carisma abstracto deste trio de New Jersey está intacto em I Am Not Afraid of You and I Will Beat Your Ass. Não é a toa que eles atraem o culto de uma trupe ampla de seguidores, gente saudosa dos Velvet Underground e de fragmentos dos Sonic Youth. E a reverência a essas cátedras continua a ditar normas aos Yo La Tengo, mormente na estruturação das melodias, no detalhismo técnico dos fraseados instrumentais e no capricho orgânico das canções. Pode dizer-se que, depois do algo tedioso Summer Sun (2003), o trio americano retoma a semântica melódica e os contrastes da sua pièce de résistance (I Can Hear The Heart Beating As One (1997)), mas o efeito acaso estranho está esgotado: eles já não são esquisitos, nem soam a notícia imprevista. Mas isso podem ser os contornos do destino, com canções como "Sometimes I Don't Get You", "Mr. Tough" ou "Pass the Hatchet, I Think I'm Goodkind", a dizer-nos que eles são bons.
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