Apreciação final: 7/10
Edição: Ipecac/Rastilho, Outubro 2006
Género: Pós-Metal/Metal Progressivo
Sítio Oficial: www.sgnl05.com
Edição: Ipecac/Rastilho, Outubro 2006
Género: Pós-Metal/Metal Progressivo
Sítio Oficial: www.sgnl05.com
A estética dos americanos Isis dispensa apresentações. As texturas básicas são próprias do corpo teórico do metal mais possante, mas posto ao serviço de uma matriz distinta, já não potenciadora da potência acústica, antes criadora de ambientes tensos e atmosferas introspectivas. Pitadas de sons progressivos, numa dinâmica de baixos e altos alternantes, com acordes e riffs abertos, algum feedback e vocalizações mudáveis (do canto ocasional ao brado angustiado) - facto mais notado nas edições recentes - são os ingredientes idiossincráticos do ensemble. A extraordinária combinação de propósitos minimalistas, ao jeito dos Earth - referência incontornável da música dos Isis - com o ímpeto e pujança das escolas mais robustas, proporciona um espaço infalível para a experimentação e para o jogo de contrastes, rompendo convenções estruturais de composição. Divagantes e crescentes, é no desassossego e no desarranjo espacial do som que as peças dos Isis encontram a purgação. Nesse particular, seguindo a linha orientadora de Panopticon (2004), registo anterior da banda, o novo opus é outro estádio na transição dos Isis para um som mais limpo, necessariamente mais brando, mas onde as partes se integram com outra concisão, deixando de lado o peso dispensável de alguns excessos de outros exercícios. Além do apaziguamento vocal, pormenor especialmente notório na aproximação a timbres mais amistosos de um Aaron Turner longe do berreiro insistente de outros tempos, a produção do álbum reforça a nitidez melódica dos trechos, fabricando o complemento seguro para a musicalidade indutora de transe do grupo americano. Não é que In the Absence of Truth seja uma redefinição das marcha dos Isis, nada no disco toca o imprevisto, mas o incremento da harmonia das composições e a convergência (aí sim, menos esperada) para o pós-rock, tornando a música menos física e mais cerebral, são rastos de um carácter novo e da abertura de ângulos poucas vezes ouvidos no orbe metaleiro. A brincar com os arquétipos próprios ou a aventurar-se num estilo pós-metal progressivo, os Isis trilham caminhos mais ambiciosos na composição. Falta saber se os séquitos de longa data lhes vão perdoar a gracinha.
In the Absence of Truth encerra um mistério. Por ser gerado num momento de transição, com as consequentes nódoas e virtudes, não chega a perceber-se se é um disco pós-metal ou, pelo contrário, um tomo pós-qualquer-outra-coisa, tal a primazia de tons, melopeias e inflexões que mais parecem um estranho híbrido entre os Mogwai, os Neurosis e os Explosions in the Sky. Essa incerteza identitária (outros chamar-lhe-ão eclectismo), embora manche o discernimento da obra e deslustre a cambiante mais importante da essência dos Isis (o encaixe cerebral das cadências metal), não subtrai méritos ao ensemble americano, nem diminui o relevo do seu crescimento artístico mas refreia a exaltação desmedida que, depois de Oceanic (2002) e Panopticon (2004), elevou os Isis ao estatuto de voz suprema do pós-metal.
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