Após um debute promissor que os empurrou para a dianteira do andamento moderno da pop lusa, os alcobacenses Loto trazem-nos o segundo registo, dois anos volvidos da surpresa descontraída de The Club. Mesmo com um som de substância menos sintética, em razão do reforço das instrumentalizações acústicas, a predilecção pelos sons de Manchester continua a ser o chafariz de inspiração primária. Nessa linha, Peter Hook, o insurgente baixista dos Joy Division (e, depois, dos New Order) é convidado de honra e tinge dois trechos (o single "Cuckoo Plan" e "Beat Riot") com arpejos escuros, do mesmo timbre de gravidade escura que se fez carimbo de uma geração. Além desse notado acrescento ao corpo sónico do trio português, Del Marquis, guitarrista dos mediáticos Scissor Sisters, é o amparo e as arestas de "Golden Boys", momento maior do disco. São estas interferências importadas que confirmam a maturação instrumental dos Loto e introduzem um padrão renovado de coordenadas, não prescindindo do propósito dançante mas a desatar as guitarras do ascendente electrónico. O resultado dessa deslocação é um som mais fluido, com um sentido de proporção mais apurado e, sobretudo, uma orgânica mais precisa. Tal evidência aponta uma subliminar descontinuidade face a The Club, tomo essencialmente vocacionado para as pistas de dança e, embora não se possa falar em ruptura, antes em renovação de ambientes, Beat Riot é mais amplo. Parte dessa expansão é imputável à criteriosa produção de Roger Lyons que, com rigor de acupunctura, sublinha a ambição sóbria do disco.
Se tecnicamente Beat Riot merece apenas reparos mínimos, o que obsta a que seja o álbum que podia (devia) ter sido? Sem rodeios, as canções. Os Loto perceberam a utilidade de uma arrumação diferente do espectro sonoro e, com isso, afastaram dúvidas na resposta aos quesitos técnicos do sempre difícil segundo álbum. Pena é que, com a excepção de algumas malhas bem urdidas ("Cuckoo Plan", "Golden Boys" ou "Beat Riot"), o crescimento do corpo sonoro não condiga com idêntico incremento das composições. Daí advém um alinhamento algo prolixo, com ideias dispersas (e também uma ou outra canção inoportuna) a ofuscarem os lances mais felizes. Mesmo assim, Beat Riot vem provar que há nos Loto boa substância. Consigam os rapazes de Alcobaça aprimorar as melhores ideias e, nas imprevisíveis sortes e números do destino, talvez venham a gritar o ansiado brado da confirmação: Loto! Por ora, a mudança na disposição da mobília, coisa bem feita por Beat Riot, se é certo que deu outra fisionomia à cara musical dos Loto, não chegou para lhes dar a moradia nova. A promessa ainda carece de confirmação.
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