sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Mastodon - Blood Mountain

Apreciação final: 8/10
Edição: Reprise/WEA, Setembro 2006
Género: Metal Alternativo/Progressivo/Power Metal
Sítio Oficial: www.mastodonrocks.com








De um álbum com um título tão imponente e sanguinolento não pode esperar-se música para um conto de fadas. Se a tal certeza juntarmos a circunstância de ter sido escrito por um dos mais revolvedores agrupamentos do metal americano, é seguro que a audição de Blood Mountain se torne uma experiência nada estéril. Aqueles que, por esta altura, ainda não tiveram um primeiro contacto com o som dos Mastodon, ícone essencial do cosmos metaleiro actual, devem antecipar um débito impressionante de descargas eléctricas sucessivas, edifícios harmónicos que se desmoronam a si mesmos desfigurando a estrutura convencional de canção, toneladas de distorção em volumes tonitruantes e metamorfoses vocais inverosímeis (o duo de vocalistas é munição poderosa). Os Mastodon são um auto de demolição de clichés e nessa demanda derribadora não há como eles, é ímpar a autoridade e a potência de um som pejado de insinuações de três décadas de hard rock mas que, em inequívoco testemunho de originalidade, não reproduz fielmente nenhum género particular do metal, antes acrescenta uma entidade nova (e superior) à família. A assinatura Mastodon é única e impôs-se paulatinamente trazendo-os, ao terceiro disco, a um patamar de excelência que poucas bandas metal atingem. Blood Mountain herdou dos antecessores, especialmente do portentoso Leviathan (2004), a dinâmica propulsiva, o combustível de convulsões e as variações melódicas inesperadas, sublimando a dinâmica do conjunto em favor de um discurso tecnicamente irrepreensível e de complexidade acrescida. A produção é novamente de Matt Bayles e também expandiu medidas para acondicionar um som mais denso, somando-lhe substratos que, quase passando inaudíveis, são utilíssimos, mormente na ductilidade tonal da voz (geniais as suspensões quase sonâmbulas da voz em alguns refrões) e nas transições melódicas dos trechos.

Se o clássico Moby Dick havia servido de inspiração a Leviathan, desta vez os Mastodon investiram em novo álbum conceptual, mas reintroduzindo o simbolismo do fantástico do metal clássico. Aqui, a fábula é em torno de um herói que deve ascender a uma montanha viva para resgatar uma caveira de cristal. Para tal, tem que sobreviver a uma expedição num universo de criaturas mitológicas, gigantes dormentes, árvores semi-humanas, ciclopes, florestas mágicas, deusas do gelo e canibais. Supostamente (ou não) a metaforizar sobre o percurso dos Mastodon até ao compromisso com uma major, a alegoria encontra um aliado perfeito na cadência progressiva do som de Blood Mountain, sinónimo de crescimento de uma banda que, depois de Leviathan, se julgava ter tocado o zénite. Mas, vistas (e ouvidas) bem as coisas, para artesãos da igualha dos Mastodon (o efeito colateral dos convidados Josh Homme (QOTSA), Cedric Zavala (The Mars Volta) e Scott Kelly (Neurosis) não é despiciendo), a transcendência é apenas uma circunstância e até o céu não parece um limite que baste para esta máquina inquietante e arrasadora.

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