quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Bert Jansch - The Black Swan

Apreciação final: 7/10
Edição: Drag City, Outubro 2006
Género: Folk/Cantautor
Sítio Oficial: www.bertjansch.com








Figura incontornável da folk britânica das últimas décadas, quer como parte do miolo criativo do colectivo Pentangle, quer como compositor solitário, o escocês Bert Jansch já vale quatro décadas de canções. Na volta após um hiato de quatro anos, o guitarrista acerca-se das noveis marchas da folk e, para tal fito, nada melhor do que uma escolta de gente reconhecida nessa órbita. A produção é de Noah Georgeson (pôs ouvido e dedo em Milk-Eyed Mender, de Joanna Newsom, e Cripple Crow, de Devendra Banhart); Beth Orton, cantautora inglesa eternamente apreciada aquém do seu mérito, empresta voz e guitarra (em "When the Sun Comes Up", "Katie Cruel" e "Watch the Stars"); Devendra Banhart canta em dueto (escondido) em "Katie Cruel"; David Roback (Mazzy Star) e Kevin Barker (Currituck Co.) dedilham alguns suplementos de guitarra; Helen Espvall (Espers) espalha cosméticos sublimes de violoncelo e Otto Hauser (Espers, Vetiver) é a bateria (e demais percussões) perita em velar pelo tom brando do registo. Semelhante trupe de amigos é o aditivo certo para a música de cariz tradicionalista de Jansch se ajeitar aos padrões contemporâneos, sem resignar a esse soletrado melódico herdado de eras e trovadores perdidos no tempo. Dos anais da folk britânica, The Black Swan acolhe cinco composições, depoimentos inequívocos do vínculo de Jansch às fontes originais e atestado de continuidade para os fãs de afectos mais antigos. A par dessas cantigas imemoriais, arranjadas com eloquência, há uma meia dúzia de canções originais, com o cunho clássico do autor, os inconfundíveis rendilhados da guitarra - executados com a erudição de um veterano - e o majestoso equilibrío na mescla de ambientes diferentes, do meditativo tema-título ao aparato quase gospel de "Watch the Stars", do blues bem americano de "Texas Cowboy Blues" à canção de protesto em "Bring Your Religion".

Ícone da ciência folk e muitas vezes considerado o reflexo simétrico de Bob Dylan no outro lado do ocean - analogia não totalmente despropositada dada a preponderância de cada um no curso da folk atlântica desde os anos sessenta e a sua influência em músicos de gerações posteriores - impunha-se a Bert Jansch que, em curiosa sintonia temporal com a edição do disco de Dylan neste ano, não perdesse o renascimento recente da folk. O novo tomo é, por isso, a declaração de vitalidade segura que se esperava de alguém como Jansch, um militante de causas antigas, aqui misturadas com as substâncias da contemporaneidade da esfera folk de hoje. The Black Swan pode não ter o impacto e a sublevação de outros momentos do percurso de Jansch, mormente os mais antigos, mas louva o regresso de um dos grandes guitarristas do nosso (e de qualquer) tempo e a retoma do protagonismo que, mesmo na sombra de Dylan, o mundo folk sempre lhe deveu.

3 comentários:

Anónimo disse...

uma coisa que posso tirar de tudo isso é que: como o folk trouxe coisas deliciosas esse ano e 2- devendra esta em toda ne?

abraço

... disse...

Ultimamente é só o que oiço!

Anónimo disse...

Descobri Bert agora. Esse disco é maravilhoso, assim como os outros.
Está entre os meus heróis a partir de agora.